Elizabeth Stanton, nasceu em Nova Yorque, em 1815, e dedicou
a sua vida à causa da emancipação das mulheres e participou activamente no
movimento abolicionista. O discurso foi lido na Convenção Sufragista, 1869, em
Washington, e foi considerado um dos 50 melhores discursos da História.
VERDADES QUE NÃO FORAM ULTRAPASSADAS
" O elemento
masculino é uma força destrutiva, inflexível, egoísta, ambiciosa, amante da
guerra, da violência, da conquista, geradora, tanto no mundo moral como no
material, de discórdia, desordem, doenças e morte. Basta ver o rasto de sangue
e crueldade que as páginas da História revelam! Com quantas escravaturas,
massacres e sacrifícios, com quantas inquisições e prisões, dores e
perseguições, códigos negros e credos sombrios a alma da humanidade se debate
há séculos, enquanto a compaixão virava a sua face e todos os corações estavam
mortos para o amor e para a esperança! O elemento masculino tem desfrutado de
uma verdadeira folia carnavalesca.
Desde o início, foi crescendo
descontroladamente, sobrepondo-se em todo o lado ao elemento feminino e
esmagando as qualidades mais sublimes da natureza humana, até que, hoje,
sabemos muito pouco sobre a verdadeira masculinidade e feminilidade- sobre
esta, practicamente nada, pois mal foi reconhecida como uma força até ao séc
passado A sociedade não passa de um
reflexo do próprio homem, intemperada pelo pensamento feminino, é o rígido
pulso de ferro que sentimos na Igreja, no Estado, no Lar. Não é de admirar a
desorganização e o estado de fragmentação em que tudo se encontra se pensarmos
que o homem, que representa apenas metade de um ser e tem apenas meia ideia
sobre cada assunto, assumiu o controle absoluto de tudo o que se passa sobre a
terra........" Dizem que o direito ao sufrágio vai tornar a mulher
masculina" Esta é exactamente a dificuldade com que nos debatemos hoje em
dia. Apesar de privadas de direitos cívicos, temos poucas mulheres na
verdadeira acepção da palavra. O que existe são apenas reflexos, variações e
diluições no género masculino. As características fortes e naturais da
feminilidade são ignoradas e reprimidas devido à dependência, pois enquanto for
o homem a alimentar a mulher ela tentará agradar ao dador e a adaptar-se às
suas condições. Para conseguir conquistar uma posição na sociedade, a mulher
deve parecer-se o mais possível com o
homem, reflectir as suas ideias, opiniões, virtudes, motivações, preconceitos e
vícios. Deve respeitar os estatutos masculinos, embora a despojem dos mais
elementares direitos alienáveis e contradigam a lei superior escrita pela mão
de Deus na própria alma da mulher. A mulher tem de aceitar as coisas como são e
tirar delas o melhor partido possível até que chegue a hora dum novo evangelho de
feminilidade que exalte a pureza, a virtude, a moralidade e a verdadeira
religião para elevar o homem a planos superiores de pensamento e acção..."
O grande curador que é o amor feminino, se lhe fosse permitido manifestar-se
livremente, como seria natural, contra a opressão, a violência e a guerra,
restringiria as forças destrutivas, pois a mulher conhece o custo da vida
melhor que o homem e, com o seu consentimento, nem mais uma gota de sangue
seria derramada, nem mais uma vida sacrificada em vão.
No mundo natural, com
toda a sua violência e agitação, assistimos a um esforço constante para manter
um equilíbrio de forças. A Natureza, qual mãe carinhosa, está constantemente a
tentar manter nos seus respectivos lugares a terra e o mar e as montanhas e os
vales, a apaziguar os furiosos ventos e vagas, a temperar os excessos de calor
e de frio e de chuva e de seca, para que a paz, a harmonia e a beleza possam
reinar supremas. Há uma espantosa analogia entre a matéria e a mente, e a
actual desorganização da sociedade avisa-nos de que, com a destruição da
mulher, libertámos os elementos de violência e destruição que apenas ela tem o
poder de controlar. "
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