OS PONTOS CEGOS DE UMA INDUSTRIA FEITA A CUSTA DA ALIENAÇÃO DAS MULHERES...
"E a alucinação inconsciente adquire influência e abrangência cada vez maiores devido ao que hoje é uma consciente manipulação do mercado: indústrias poderosas — a das dietas, que gera 33 bilhões de dólares por ano, a dos cosméticos, 20 bilhões de dólares, a da cirur- gia plástica estética, 300 milhões de dólares e a da por- nografia com seus sete bilhões de dólares — surgiram a partir do capital gerado por ansiedades inconscientes e conseguem por sua vez, através da sua influência sobre a cultura de massa, usar, estimular e reforçar a alucinação numa espiral econômica ascendente. Esta não é uma hipótese de conspiração. Não precisa ser. As sociedades contam para si mesmas as lendas necessárias, da mesma forma que o fazem os indivíduos e as famílias. Henrik Ibsen as chamou de "mentiras vitais", e o psicólogo Daniel Goleman as descreve como de- sempenhando no nível social função igual à desempenha- da no nível familiar. ' 'A cumplicidade é mantida pelo redireccionamento da atenção para longe do fato assustador, ou pela transformação do seu significado em algum formato aceitável." Segundo Goleman, os custos desses pontos cegos no campo social são ilusões coletivas de natureza destrutiva. As possibilidades para as mulheres se tornaram tão ilimitadas que ameaçam desestabilizar as instituições das quais depende uma cultura dominada pelos homens; e uma reação coletiva de pânico por parte de ambos os sexos forçou a busca de imagens contrárias."
(...)
Quando uma mulher moderna tem a ventura de ter um corpo que pode se movimentar, correr, dançar, brincar e levá-la ao orgasmo; com seios sem câncer, um útero saudável, uma vida duas vezes mais longa do que a da mulher vitoriana média, longa o suficiente para que o seu caráter se exprima no rosto; tendo alimento suficiente e um metabolismo que a protege distribuindo carne onde e quando ela precisa; agora que ela tem a bênção de uma saúde e bem-estar maiores do que as expectativas de qual- quer outra geração anterior, a Era da Cirurgia desfaz essa sua sorte imensa. Ela decompõe em componentes defeituosos o dom do seu corpo vital e sensível e a individualidade do seu rosto, ensinando-lhe a vivenciar essa bênção vitalícia como uma maldição vitalícia. Em conseqüência disso, mulheres plenamente capazes podem estar menos satisfeitas com o próprio corpo do que pessoas incapazes.
"Os deficientes físicos", afirma um recente estudo publicado no The New York Times, "geralmente exprimem uma satisfação geral com seus corpos", enquanto sabemos que mulheres fisicamente aptas não o fazem. Uma mulher em cada quatro moradoras da região da baía de San Francisco se submeteria a cirurgia estética se tivesse a oportunidade. O termo "deformado" não é mais usado em discurso educado, a não ser para designar o rosto e o corpo de mulheres saudáveis normais, enquanto o jargão dos cirurgiões estéticos elabora a partir de nós o novo espetáculo de aberrações da natureza. "
NAOMI WOLF
"E a alucinação inconsciente adquire influência e abrangência cada vez maiores devido ao que hoje é uma consciente manipulação do mercado: indústrias poderosas — a das dietas, que gera 33 bilhões de dólares por ano, a dos cosméticos, 20 bilhões de dólares, a da cirur- gia plástica estética, 300 milhões de dólares e a da por- nografia com seus sete bilhões de dólares — surgiram a partir do capital gerado por ansiedades inconscientes e conseguem por sua vez, através da sua influência sobre a cultura de massa, usar, estimular e reforçar a alucinação numa espiral econômica ascendente. Esta não é uma hipótese de conspiração. Não precisa ser. As sociedades contam para si mesmas as lendas necessárias, da mesma forma que o fazem os indivíduos e as famílias. Henrik Ibsen as chamou de "mentiras vitais", e o psicólogo Daniel Goleman as descreve como de- sempenhando no nível social função igual à desempenha- da no nível familiar. ' 'A cumplicidade é mantida pelo redireccionamento da atenção para longe do fato assustador, ou pela transformação do seu significado em algum formato aceitável." Segundo Goleman, os custos desses pontos cegos no campo social são ilusões coletivas de natureza destrutiva. As possibilidades para as mulheres se tornaram tão ilimitadas que ameaçam desestabilizar as instituições das quais depende uma cultura dominada pelos homens; e uma reação coletiva de pânico por parte de ambos os sexos forçou a busca de imagens contrárias."
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Quando uma mulher moderna tem a ventura de ter um corpo que pode se movimentar, correr, dançar, brincar e levá-la ao orgasmo; com seios sem câncer, um útero saudável, uma vida duas vezes mais longa do que a da mulher vitoriana média, longa o suficiente para que o seu caráter se exprima no rosto; tendo alimento suficiente e um metabolismo que a protege distribuindo carne onde e quando ela precisa; agora que ela tem a bênção de uma saúde e bem-estar maiores do que as expectativas de qual- quer outra geração anterior, a Era da Cirurgia desfaz essa sua sorte imensa. Ela decompõe em componentes defeituosos o dom do seu corpo vital e sensível e a individualidade do seu rosto, ensinando-lhe a vivenciar essa bênção vitalícia como uma maldição vitalícia. Em conseqüência disso, mulheres plenamente capazes podem estar menos satisfeitas com o próprio corpo do que pessoas incapazes.
"Os deficientes físicos", afirma um recente estudo publicado no The New York Times, "geralmente exprimem uma satisfação geral com seus corpos", enquanto sabemos que mulheres fisicamente aptas não o fazem. Uma mulher em cada quatro moradoras da região da baía de San Francisco se submeteria a cirurgia estética se tivesse a oportunidade. O termo "deformado" não é mais usado em discurso educado, a não ser para designar o rosto e o corpo de mulheres saudáveis normais, enquanto o jargão dos cirurgiões estéticos elabora a partir de nós o novo espetáculo de aberrações da natureza. "
NAOMI WOLF
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