O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, setembro 08, 2014

O CORPO É UM SER MULTILINGUE...


O corpo usa a pele...

"Na psique instintiva o corpo é considerado um sensor, uma rede de informações, um mensageiro com uma infinidade de sistemas de comunicação – cardiovascular, respiratório, ósseo, nervoso, vegetativo, bem como emocional e intuitivo. No mundo imaginário, o corpo é um veículo poderoso, um espírito que vive connosco, uma oração de vida nos seus próprios méritos. Nos contos de fadas, como encarnado por objetos mágicos que têm capacidades e qualidades sobre humanas, considera-se que o corpo tem dois pares de orelhas, um para ouvir os sons do mundo, o outro para ouvir a alma, dois pares de olhos, um para a visão normal, o outro para a vidência; dois tipos de força, a dos músculos e a invencível força da alma.(...)

O corpo usa sua pele, uma fáscia e carne mais profunda para registrar tudo que ocorre com ele. Como a pedra de Rosetta, para aqueles que sabem decifrá-lo, o corpo é um registro vivo de vida transmitida, de vida levada, de esperança de vida e de cura. Seu valor está na capacidade expressiva para registrar reações imediatas, para ter sentimentos profundos, para pressentir.
O corpo é um ser multilíngüe. Ele fala através da cor, da temperatura, do brilho do amor, do rubor do reconhecimento, das cinzas da dor, do calor da excitação, da frieza da falta de convicção. Ele fala através do seu bailado ínfimo e constante, as vezes oscilante, as vezes agitado, trêmulo. Ele fala com o salto do coração, a queda do animo, o vazio no centro e com a esperança que cresce.
O corpo lembra, os ossos lembram ( ...). Como um esponja cheia de água, em qualquer lugar que a carne seja pressionada, torcida ou mesmo tocada com leveza, pode jorrar ali uma recordação.
Limitar a beleza e o valor do corpo a qualquer coisa inferior a essa magnificência é forçar o corpo a viver sem seu espírito de direito, sem sua forma legítima, seu direito ao regozijo. Ser considerada feia ou inaceitável porque nossa beleza está fora da moda atual fere profundamente a alegria natural que pertence a natureza selvagem.
As mulheres têm bons motivos para refutar modelos psicológicos e físicos que são danosos ao espírito e que rompem o relacionamento com a alma selvagem.


Clarissa Pinkola
in Mulheres que correm com os lobos
 

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