A CONSCIÊNCIA NADA TEM A VER COM MÉTODOS NEM COM MANUAIS...
Do drama indiano "O pequeno cesto de barro" escrito pela mão do rei Śūdraka, sec II A.C.
Sabemos todas que cada uma de nós está numa determinada fase da sua vida e idade, a fazer o trabalho que deve fazer consigo mesma. Cada uma dessas fases corresponde a um período que na mulher corresponde a 3 fases: a da jovem, da mulher madura, e da anciã. Nenhuma de nós pode julgar uma idade ou uma fase melhor do que a outra nem o processo que a mulher atravessa em cada um desses períodos; nenhuma de nós pode forçar ou empurrar a outra para outra fase da sua vida que não é a sua e sem que tenha a experiência que lhe corresponda. Claro que os ritos de passagens não são fixos em princípio e podem ser mais curtos ou extensos…mas não podemos fazer o trabalho da outra mulher, acelerar processos ou ainda condicionar e modelar a outra mulher sem que esta passe pela experiência, seja através de que método for. Todos eles acontecem naturalmente e a única coisa que temos de fazer é re-tomar a consciência que deles perdemsos.
Isto porque o caminho da mulher não tem nada a ver com uma
mentalização nem com nenhum conhecimento teórico, de manual, nem com a leitura
de livros, mas com a sabedoria que na mulher é inata, que brota de dentro dela, e embora
também reconheça o mérito em se ir sabendo um pouco de tudo o que é a nossa
história, e nos acrescenta, nós mulheres não podemos fazer do conhecimento
teórico um sucedâneo da realização pessoal nem de experiência vivida. Por esta
razão eu, não sendo contra nenhum método ou tentativa de evolução ou mudança na
vida de uma mulher, a partir de um qualquer processo, terapia ou iniciação, não
defendo nem aconselho nenhum tipo de método que passe por qualquer tipo de
mentalização, nem uso fórmulas, nem mantras, nem técnicas...
Acredito na Consciência em movimento…na dinâmica energética
das mulheres em partilha de experiências comuns e que concernem os diferentes estágios
da sua vida e cuja partilha nos enriquece e acorda memórias. Essa energia liga-nos á nossa linha matrilinear, cujo potencial temos no fundo de nós guardado.
Acredito nos Círculos…por isso privilegio os encontros em que essa dinâmica acontece naturalmente entre mulheres no contar das suas experiências, na elevação da sua consciência a partir de dentro, do útero e dos ovário, ao bater do seu coração…
Acredito no saber que brota de dentro da Mulher integral. Quando a mulher se toca no âmago, ela toca a sua própria
fonte...e dela faz brotar a água que nos mata a sede de SER MULHER!
Para mim ela não precisa de caminhos espirituais...Ela é em
essência e já de si ESPIRITUAL.
Essa é a Mística da Mulher. Esse foi o segredo que se
perdeu. Esse foi o mistério que o Homem e o seu Deus lhe roubaram. Isso é que é
preciso acordar nela. E embora para algumas mulheres esses processos
espirituais possam ser paralelos, uteis e até necessários, também a podem fazer
atrasar essa consciência de si em si mesmas e atribuí-la aos outros ou aos
métodos…e mestres, ou mesmo fazer com que se afastem de si mesmas enquanto
mulheres. Esse é o perigo. Por isso o que eu falo e defendo é um processo de consciencialização interior
lento e preciso, interior e subjectivo, diria – que tem muito mais a ver com o
plano psicológico e intimista – o acordar desse poder da mulher em si, o
escutar-se e o ouvir-se a si mesma e independente
de tudo o que aprendeu; e isto é completamente diferente de qualquer crença,
fé, ou do apreender ideias, teorias meditações ou ter metas fora de si...
Como sabem, eu não tenho ou proponho nenhum método! Nem
metas a atingir. Mas alego e defendo uma Consciência precisa dentro da mulher a
despertar por si e em cada uma. Uma consciência inerente ao ser mulher, a todas
as mulheres, e a que toda a mulher tem acesso NATURALMENTE quando se começa a
consciencializar da sua divisão interna, da sua cisão psíquica e começa então
perceber as causas das suas limitações e conflitos consigo e com as outras
mulheres. Aí sim há um fundamento ancestral que coloca a mulher em dois lados
da sua humanidade, antagónicos, sempre elegendo um em detrimento do outro. Deste modo, para mim, cada tomada de consciência nesse particular - e não há mesmo como confundir consciência com teoria de tudo ou de nada - cada experiência integrada, cada pequena coisa que nos clarifica da nossa divisão interior e das causas de toda a problemática da Mulher - não como ser humano diria a par do homem, mas muito particularmente no que diz respeito à sua psique e ao seu foro íntimo como mulher nesta sociedade - a mulher condicionada desde que nasce a uma determinada mentalidade patrista -, que a diminui e a coíbe de ser e expressar a sua natureza profunda, que a impede de se ouvir, e toda uma influência nefasta sobre o seu ser, que a marca e inferioriza, já é um passo enorme e faz toda a diferença; aí há um abrir de dentro, o que já é um acontecer real e isso é tão válido como o que possa parecer chegar à grande sabedoria da mulher integrada, porque essa Sabedoria, como dizia na mulher é inata, apenas depende de si lá chegar.
Lamentavelmente porém
as mulheres continuam a confundir as teorias e as ideias e os métodos com uma
CONSCIÊNCIA. Continuam a confundir pensar-se e achar-se e "saber" de
cor (não de coração, isso é realmente outra coisa); e eu digo que o pensar algo
muito bonito e muito positivo como se isso mudasse alguma coisa de fundo, não
muda nada. A meu ver não muda mesmo nada, senão o pensar. Porque em geral todos
os métodos são pura especulação ou mentalização e neste caso muda-se do
pensamento negativo para o dito positivo; podem ser e são balsâmicos,
aparentemente transformadores a curto prazo, mas mais tarde ou mais cedo SEM A
CONSCIÊNCIA PROFUNDA, integrada, não há evolução nem transformação. Por isso
tantas vezes mulheres que parecem ser uma coisa e andam de mãos dadas com as
outras, viram-se umas contra as outras e odeiam-se de morte…tornam-se “casos de
polícia”…lamento a ironia, mas é literal…
Uma mulher ferida é sempre um drama senão um perigo iminente
no círculo…
A Consciência de si
como mulher de que eu falo não tem nada a ver com a consciência dita do
"si mesmo" - junguiano -, mas sim com uma outra consciência inerente
só a mulher e essa conSciência é o que está aqui em causa e vem em primeiro.
Porque essa Consciência só por si é já outra coisa pois em si mesma ela é
activa e transformadora de dentro para fora; não é uma mera mentalização
através do pensamento positivo ou negativo...tal como: "achas que és feia
agora pensa que és bonita...e já não precisas de fazer uma
plástica"...não. Quando uma mulher se consciencializa de si mesma e acorda
para essa consciência adormecida nos séculos pode ver e entender que a origem
de quase todos os seus dramas tem a ver com a divisão das mulheres em duas,
pode ver que no fundo é quase sempre essa a origem dos seus conflitos, a sua
ferida com a mãe ou com a irmã, então ela pode começar já e a partir daí a
integrar a verdadeira mulher, porque a outra já não é uma “outra” fora de si,
mas ela mesma.
Eu falo da mulher tocar o seu âmago. Tocar essa Essência que
é o seu centro. O seu Útero. Nele está a chave do seu poder interno. A Mulher não
tem de aprender nem forçar-se a ser objecto de prazer ou de procriação, nem
forçar-se a ser o que os homens e a sociedade querem que ela seja. E se as suas
raízes e estiverem ligadas ao seu Útero e a Gaia, Ela nunca mais poderá ser soldado, polícia ou
ir à Guerra…deixar os seus filhos passar fome… porque a Mulher é a Terra….
Porque é dela que nasce o amor e a paz e a dádiva.Ela é a Deusa em Si mesma. É aí só que eu quero chegar!
rlp
3 comentários:
Lindo! Bem escrito e prometedor! Desvenda o caminho de unidade connosco e com o universo que somos nós. Obrigada por publicar!
Lindo! Bem escrito e prometedor! Desvenda o caminho de unidade connosco e com o universo que somos nós. Obrigada por publicar!
Obrigada por comentar e sentir!
abraço
rl
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