O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, novembro 20, 2014

AS DUAS MULHERES




A MULHER INTEIRA - NEM SANTA NEM PUTA


PARA A NANA ODORA - ESCRITO EM 2008
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O que aconteceu consigo é uma espécie de catarse delirante em consequência da luta que você trava inconscientemente entre os conceitos que a dominam do que para si é a santa e a puta. Essa sua luta interior de conflito entre esses dois extremos opostos da natureza dividida da Mulher é a luta de toda a mulher quer ela disso tenha consciência ou não…você escreve e ousa libertar-se…ousa dizer o impensável, o que as outras mulheres não dizem ou aquilo que a sociedade sufocou na mulher e então solta a sua “Pomba Gira” ou ela (essa força interior atávica, a velha bruxa ou xamã, a “mãe de santo”…ou o que seja a alma que a sacode de dentro) e vem em seu socorro para a libertar desse sufoco; mas ela afinal só traz a carga dos mesmos conceitos em turbilhão e não a liberta de nada…apela não à sexualidade sagrada mas à sexualidade desregrada e vai dar ao mesmo...Não se trata de ser ou não ser a santa ou a puta…não se trata de uma luta entre as duas. Se nega a santa com tanta raiva e elege a puta como a verdadeira mulher o que é que está a fazer senão a alimentar os diferentes conceitos e a separação das duas?
Você ainda não percebeu nada desta história e por isso continua a lutar com os conceitos dentro de si e da sua mente que a aprisionam…a mulher integrada aproxima-se da mulher que você intui e quer libertar, mas você ainda está presa na dualidade e o que diz é resultado dessa confusão.

Não há duas mulheres de facto. Há uma mulher a quem separaram da sua sexualidade e a “outra” (que é a mesma) da sua maternidade…e deu-se um corpo imaginário a cada uma delas…a mãe santa e casta e a mulher fatal ou orgástica. A sociedade viveu séculos dessa divisão. É claro que agora você escolheu a última, fazendo a apologia da puta dizendo-a sagrada…
Mas quando eu falo em unir as duas partes da mulher assim divididas não é sendo uma ou outra ou as duas à vez, numa mistura explosiva e bizarra em que ela se transforma num misto de desregramento e sacralidade (o que é tornar a ideia de puta em santa, eleita, a melhor das duas, quando isso são só conceitos, não importa de que lado esteja) e elas continuam inconciliáveis dentro de si e daquilo que são os conceitos e padrões ocidentais e católicos dos termos…e você cai no mesmo erro patriarcal…cai no jugo ou no jogo viciado da matriz de controlo.
Para mim não se trata de nada disso…a mulher não precisa mudar de conceitos sobre si mesma e dar preferência à outra parte de si!, mas ter a experiência real da liberdade sexual como iniciada ou da verdadeira sexualidade que começa no amor transcendental, na revelação do amor puro, mas puro porque total, de iniciação e consagração na fusão do corpo e da alma dos dois parceiros sejam eles quais forem…

 
O amor espiritual que está acima da dualidade bem e mal. Por espiritual quero dizer vibrante e transcendente, acima dos conceitos e da mente, da religião e do dogma; falo de união íntima e interior com a energia vital atómica e ser transportada a um plano diferente de consciência! Falo da sexualidade sagrada que eleva ao êxtase e à fusão e não da funcional que é “tesão” e rebaixa e perverte o ser humano em animal apenas. Isso foi o que aconteceu com a cisão da mulher em duas…foi por isso que a dividiram os patriarcas, para que a mulher deles não tivessem acesso ao prazer e a esse lado dela mesma que é magnetismo, transcendência e vidência. Escreveram os seus livros de leis para denegrir a mulher E INFERIORIZAR O SER HUMANO FACE A DEUS…Fizeram-no por imposição dos falsos “deuses” e “profetas” para que os seres humanos não acedessem a outras dimensões.

Às mulheres ocidentais tornaram-nas frígidas, as casadas - só permitindo o sexo “livre” (para os homens) com prostitutas - e em muitas partes do mundo praticam ainda a excisão (cortam-lhes o clítoris e ainda torturam mulheres em nome de deus, os muçulmanos….) para não terem sequer qualquer prazer…Hoje ainda milhares de mulheres são mutiladas em África…

Porquê tanto medo da mulher e do prazer? Porque a sexualidade verdadeira pode catapultar o ser humano para outros planos de consciência e omnisciência. A sexualidade sem uma consciência elevada não serve nenhum propósito senão a criação de seres inconscientes, de baixa vibração.
_ Também lhe podia dizer que o meu santo desceu…mas não digo…sou eu que sinto. E assumo o que digo.

Você não percebeu ainda que tem de sair do contexto do sistema e da 3ª dimensão e viver à parte ou acima a sua própria experiência renovada, como iniciada e não em luta com o sistema ou o patriarcado como você faz, como eu faço tantas vezes e sinto que desço, embora não exalte nada, afirmando-se pelo lado do “pecado” (para eles será sempre pecado!) ou exultando e exaltando o sexo como “santificado”… (e para eles você será sempre diabólica). No fim você está só a tentar mudar os conceitos, a inverte-los… Quer que a puta seja a santa…e a santa a puta, mas como elas não existem separadas você só inverte o valor dos termos, sem atingir o âmago da questão e do SER MULHER: você inclusive acha que eu defendo a castidade ou a abstinência sexual para a mulher séria…mas está enganada. Eu apenas já sou velha, menina!

A mulher liberta e total, não é mais a puta nem a santa, é uma mulher inteira e diferente; talvez seja isso a maturidade, mas é também Consciência e ela já não luta com esses dois lados de si mesma, ela integrou a sombra e agora a luz inundou os dois lados…Ela integrou-os e isso quer dizer que as duas mulheres se encontram no centro de si mesmas, bem no centro e unidas e sem separabilidade e a sua sexualidade é vivida aí como revelação e amor puro, êxtase…não porque é casto (e os conceitos católicos estão sempre a aparecer e a reduzir o entendimento) mas também já não é desregrado e descontrolado porque se tornou sublime e sensual, é fogo e água, dor e êxtase… vida e morte porque é carne e alma e espírito, não medo nem pecado nem castidade…nem o seu contrário!

Da minha “deusa” para sua “pomba gira”…com amor!
rlp

1 comentário:

Anónimo disse...

Brilhante; sábio e emocionante. Meu aplauso e minha admiração.Agenor Rio de Janeiro .