E sempre que uma mulher tem essa consciência de si e não se deixa submergir exclusivamente pelo amor dos filhos, marido ou amantes, ela mantem em si a chama de um fogo não extinto que não é apenas desejo sexual ou paixão amorosa, mas anseio de ser inteira e ser ela mesma acima de tudo e de todos por maior que seja o seu amor por eles.
O que aqui está em causa é ela perceber o que lhe falta para preencher o seu ser de algo que a sociedade e a família e o patriarcado lhe roubou...essa sua essência primeira que dá corpo a mulher inteira. A essência da mulher que para além de ser mãe e amante, é um poder de amor que exala dela, uma força e magia - um puro magnetismo - independentemente de quem seja dentro da família e do circulo que a aprisiona e obriga a viver dentro desses padrões que a limitam e condicionam ao amor parental, seja condicionada pelos conceitos e preconceitos vigentes e atávico, da mulher como pertença do lar, ou castrada de si mesma pela educação tendo ficado castrada nessa sua força natural de mulher selvagem e desse modo sem ter acesso a essa energia latente que a define como uma mulher inteira, integral, integra e dona de si mesma, ficando apenas uma cópia frágil de sim mesma porque dividida em duas: a santa do lar e a prostituta na rua, negando a sua naturezas selvagem, aprisionada ao padrão que a define por um lado como uma mulher perigosa e fatal, a mulher sensual e livre e por outro a esposa cativa do lar e casta, e que assim mantem a mulher dividida dentro de si mesma obrigando-a a cumprir um papel especifico e definido a partida em detrimento da sua liberdade de ser e de se expressar na sua totalidade. Desse modo tem o patriarcado mantido a mulher abusivamente prisioneira dos seus interesses há séculos e a emancipação da mulher não passou de uma falsa bandeira que deu essa ilusão à mulher mas que se está a desmontar o cenário cada dia mais com o avanço da violência sobre a mulher e o feminicídio o que prova que essa emancipação não passou de uma montra cultural e politica, para melhor se servirem das mulheres..
É essa Mulher oculta na mulher, essa mulher tantas vezes adivinhada, pressentida, que a sociedade não permitiu ser, essa mulher que a sociedade não permitiu expandir-se, a mulher amante da Natureza, a Mulher amante de si mesma, a mulher amante dos animais, a mulher amante por excelência e que também é a adivinha, que é a profetisa, que é a feiticeira, que é a curandeira e a parteira, a mesma mulher poderosa e bela que foi esmagada e queimada nas fogueiras: Essa é a mulher integral, a mulher que todas as mulheres de hoje tem de resgatar ligando-se de novo às forças ctónicas e telúricas da Terra e fazer a ponte com a mulher psíquica de hoje, a mulher culta, a que estudou e usa também o intelecto e a mente.
A mulher não se pode voltar a perder agora caminhando no sentido oposto ou contrário da mulher moderna...nem pode negar as suas conquistas no mundo moderno de hoje. Ela tem de ir ao seu passado e resgatar esse poder e essa memória de que foi privada e resgatar a herança das suas ancestrais, mas ela não pode nem deve ficar presa num mundo que já não é a nossa realidade, como eu vejo tantas mulheres começarem a fazer...ao se virarem exclusivamente para rituais e práticas que as afastam da sociedade e desta realidade.
A minha mensagem - se há uma mensagem nas minhas palavras - é para que a mulher se complete e não que se subtraia, para que a mulher de hoje possa sentir essa mulher atávica que nela dorme, que ela foi outrora mas sem abandonar o lugar na sociedade onde conquistou um lugar ou não. Isto não quer dizer que sirva o Sistema, que não esteja consciente de como o Sistema a escravizou, mas enquanto estiver nele inserida tem de ser uma mulher deste mundo e não apenas do passado para assim poder fazer essa ponte e passar essa experiência da mulher ctónica que tanto faz falta às mulheres mundanas, completamente alienadas de si e desse eterno feminino, dar um exemplo a essas mulheres modernas que se creem emancipadas mas que esqueceram por completo quem foram e um passado de mulheres livres, verdadeiramente mulheres em todo o sentido da palavra...
E não basta juntarmo-nos em grupos fechados e ficarmos felizes porque estamos a evocar a Deusa ou a sua ancestralidade esquecendo o presente e sem nos voltarmos para a vida real e aquilo que nos rodeia e perdermos todo o bom senso.
Acredito que a mulher do futuro é a mulher moderna que recuperou a sua ancestralidade e fez a fusão das duas mulheres divididas em si e integra a consciência do passado com a consciência psicológica do seu presente e tudo o que descobriu e viveu ao longo da sua vida e da sua experiência humana. É muito importante a mulher não se ficar pela imitação de deusas e sacerdotisas ou xamãs e fazer desses modelos apenas um modus vivendi...ou se tornarem as vendidas do Templo...ou as prostitutas sagradas...comercializando o que devia ser apenas livre e CONSAGRADO À DEUSA E À MÃE de alma e coração. Sem especulações, sem mercados...
Rosa Leonor Pedro
O PATRIARCADO NÃO É UMA IDEIA OU CONCEITO, É UM SISTEMA ESCLAVAGISTA DA MULHER.
"Patriarcado é uma cultura, um sistema, uma civilização, um sistema econômico, um sistema político, um sistema legal, um sistema religioso, um sistema científico, e assim por diante. Mas acima de tudo, o patriarcado é um PODER. Um poder que se manifesta em todos os lugares, instituições, pessoas, hábitos, culturas, religiões, ideologias, mesmo entre mulheres. Isto porque o patriarcado socializa ...com os papéis e as hierarquias de gênero que existem entre homens e mulheres. O patriarcado existe há tanto tempo pois promove a sociabilidade entre homens, que se tratam como irmãos (fraternidade), atribuindo-lhes poder. Enquanto isso, obriga as mulheres a reproduzirem e sustentar materialmente os homens, socializadas entre si como inimigas, servindo aos interesses do desejo masculino."
Texto adaptado de: “O que é feminismo” de Dra. Elida Aponte Sánchez
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