O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, agosto 11, 2021

Ninguém salva ninguém...



Ninguém se salva senão a si mesmo...


"Alguém trata de converter a outrem? Nunca é para salvá-lo, mas para obriga-lo a padecer, para expô-lo às mesmas provações que atravessou o impaciente conversor: vigília, oração, tormento? Pois que o mesmo recaia sobre o outro, que suspire, que uive, que se debata em meio de semelhantes torturas. A intolerância é própria de espíritos devastados cuja fé se reduz a um suplício mais ou menos buscado e que desejariam ver generalizado, instituído. A felicidade do próximo nunca foi um móvel nem um princípio de ação, e só se a invoca para alimentar a boa consciência e cobrir-se de nobres pretextos: o impulso que nos move e que precipita a execução de qualquer um dos nossos atos, é quase sempre inconfessável. Ninguém salva ninguém; não se salva mais que a si mesmo, muito embora se disfarce com convicções a desgraça que se quer outorgar. Por mais prestígio que tenham as aparências, o proselitismo deriva de uma generosidade duvidosa, pior em seus efeitos que uma agressividade declarada. Ninguém está disposto a suportar sozinho a disciplina que assumiu e nem o jugo que aceitou. A vingança esconde-se sob a alegria do missionário e do apóstolo. Sua dedicação em converter não é para libertar, mas para converter."


CIORAN


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