"E a beatitude tem essa mesma marca. A beatitude começa no momento em que o acto de pensar se libertou do acto da forma. A beatitude começa no momento em que o pensar-sentir ultrapassa a necessidade de pensar do autor – este não precisa mais pensar e encontra-se agora perto da grandeza do nada. Poderia dizer do “tudo”. Mas o “tudo” é quantidade, e quantidade tem limite no próprio começo. A verdadeira incomensurabilidade ´e o nada, que não tem barreiras e é onde uma pessoa pode espraiar seu pensar-sentir.
Essa beatitude não é em si leiga ou religiosa. E isso não implica necessariamente no problema da existência ou não-existência de Deus.
(...)
Dormir nos aproxima muito desse vazio e no entanto pleno. Não estou falando do sonho que, no caso, seria um pensamento primário. Estou falando em dormir. Dormir é abstrair-se e espraiar-se no nada.
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E acima da liberdade, acima de certo vazio crio ondas musicais calmíssimas e repetidas. A loucura do invento livre. Quer ver comigo? “ (...)
In ÁGUA VIVA de Clarice Lispector
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