UMA MULHER LÚCIDA - ANA HATHERLY
“Não sou feminista. Sou antropologicamente lúcida”
“A mulher afirma-se pela fala, tem uma capacidade de verbalização característica, tanto pela positiva, como pela negativa. Como o homem sabe disso, manda-a calar. O falar parece ser, às vezes, uma substituição do pensar, mas não: trata-se da expressão de um pensamento. Há um pensar que leva a agir, um pensar que leva a falar, um pensar que leva ao silêncio. Esse é o pensar profundo que se transforma em acto e obra. A tagarelice é o pensar que não assentou.
A tradição obrigou a mulher a ficar dentro de uma caixa de vidro na qual era visível, mas não audível. Então ela falou desesperadamente, mas sem qualquer efeito. Quando partiu essa prisão de vidro, a sua voz transformou-se num acto revolucionário. A mulher moderna é o efeito dessa explosão, da saída da clausura que é a casa, a família, a beleza obrigatória. Quando toma a palavra, rompe essa teia que a envolvia numa rede de silêncio e de idealização. A mulher não é a Eva, representativa da origem do mal da humanidade, nem a figura platónica que o petrarquismo elevou a ídolo.
UMA APOTEOSE DO SER MULHER
“No tempo actual, a voz da mulher junta-se ao coro de vozes discordantes da humanidade, tendo outras raízes - é uma flor gritante que vai dar frutos, mas tem de se aperceber disso e pensar melhor na relação com o Outro. Já nenhuma parede de vidro a protege. Agora, o diálogo das vozes é um novo e duro corpo a corpo: uma batalha que se desenha. E no fundo, ela quer vencer, ser uma nova Amazona, mas não deseja perder um seio. Nem deve. Não deve perder a feminilidade, a singularidade do seu ser, a origem da sua criatividade específica. O seu contributo é o espírito. Mesmo quando se transforma em acto, a sua mão não deve esquece-se de que existe para colher e acolher. Essa é a capacidade específica da mulher: produzir, mas não reproduzir apenas. E o homem não pode ser o seu modelo”
O homem acusa a mulher de não pensar com a mesma estruturação que ele, como se isso fosse um defeito. Essa atitude masculina pressupõe que o sistema criado por ele próprio é o único válido. A mulher tem a capacidade de compreender no concreto, de relacionar. Tem aí uma palavra a dizer.
Não sou feminista. Sou antropologicamente lúcida.”
ANA HATHERLY
in DIÁRIO DE NOTÍCIAS
Dn.TEMA - A RAZÃO DAS MULHERES
TISANA DA MULHER. A mulher tem sido sobretudo o que o homem quis que ela fosse. De vénus hotentote a manequim de passarelle, ela existiu para se dar. E ela deu-se: submeteu-se trabalhou sorriu cantou dançou. Tudo para agradar. Embalou os filhos vivos. Chorou os mortos. E ele disse sempre: sois belle et tais-toi! Ela pintou o cabelo disfarçou as rugas fez regime. E calou-se.
Tisan nº 409 - ana atherly
“Não sou feminista. Sou antropologicamente lúcida”
“A mulher afirma-se pela fala, tem uma capacidade de verbalização característica, tanto pela positiva, como pela negativa. Como o homem sabe disso, manda-a calar. O falar parece ser, às vezes, uma substituição do pensar, mas não: trata-se da expressão de um pensamento. Há um pensar que leva a agir, um pensar que leva a falar, um pensar que leva ao silêncio. Esse é o pensar profundo que se transforma em acto e obra. A tagarelice é o pensar que não assentou.
A tradição obrigou a mulher a ficar dentro de uma caixa de vidro na qual era visível, mas não audível. Então ela falou desesperadamente, mas sem qualquer efeito. Quando partiu essa prisão de vidro, a sua voz transformou-se num acto revolucionário. A mulher moderna é o efeito dessa explosão, da saída da clausura que é a casa, a família, a beleza obrigatória. Quando toma a palavra, rompe essa teia que a envolvia numa rede de silêncio e de idealização. A mulher não é a Eva, representativa da origem do mal da humanidade, nem a figura platónica que o petrarquismo elevou a ídolo.
UMA APOTEOSE DO SER MULHER
“No tempo actual, a voz da mulher junta-se ao coro de vozes discordantes da humanidade, tendo outras raízes - é uma flor gritante que vai dar frutos, mas tem de se aperceber disso e pensar melhor na relação com o Outro. Já nenhuma parede de vidro a protege. Agora, o diálogo das vozes é um novo e duro corpo a corpo: uma batalha que se desenha. E no fundo, ela quer vencer, ser uma nova Amazona, mas não deseja perder um seio. Nem deve. Não deve perder a feminilidade, a singularidade do seu ser, a origem da sua criatividade específica. O seu contributo é o espírito. Mesmo quando se transforma em acto, a sua mão não deve esquece-se de que existe para colher e acolher. Essa é a capacidade específica da mulher: produzir, mas não reproduzir apenas. E o homem não pode ser o seu modelo”
O homem acusa a mulher de não pensar com a mesma estruturação que ele, como se isso fosse um defeito. Essa atitude masculina pressupõe que o sistema criado por ele próprio é o único válido. A mulher tem a capacidade de compreender no concreto, de relacionar. Tem aí uma palavra a dizer.
Não sou feminista. Sou antropologicamente lúcida.”
ANA HATHERLY
in DIÁRIO DE NOTÍCIAS
Dn.TEMA - A RAZÃO DAS MULHERES
TISANA DA MULHER. A mulher tem sido sobretudo o que o homem quis que ela fosse. De vénus hotentote a manequim de passarelle, ela existiu para se dar. E ela deu-se: submeteu-se trabalhou sorriu cantou dançou. Tudo para agradar. Embalou os filhos vivos. Chorou os mortos. E ele disse sempre: sois belle et tais-toi! Ela pintou o cabelo disfarçou as rugas fez regime. E calou-se.
Tisan nº 409 - ana atherly
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