Poder, Opressão e Dependência
na Construção da Subjetividade Feminina
Por Maria Alice Moreira Bampi
A sexualidade, como manifestação biopsicossocial do ser humano, sofreu através da história, toda a sorte de controle por interesses diversos. Negada ou incentivada, a Igreja, o Estado e o poder econômico sempre se valeram deste meio profundo do relacionamento humano (onde a afetividade e o prazer formam a base motivacional), para dominar, corromper, atemorizar ou lucrar.
Atualmente a exploração comercial da sexualidade feminina, oferece uma idéia superficial, desvinculada do afeto, sustentada em modelos descartáveis, consumistas, estereotipados e preconceituosos, com a imposição da estética e como prerrogativa exclusiva da juventude.
Mesmo com uma imagem muito explorada, a sexualidade feminina sempre foi terreno inóspito, com conhecimento centrado geralmente nos aspectos da reprodução humana. Nas escolas bem intencionadas, ainda hoje, palestras esporádicas sobre sexualidade, resumem-se em estudar o corpo reprodutivo e estimular a prevenção à gravidez indesejada. O prazer é assunto negado, ou quando muito, mascarado numa linguagem subliminar de que o corpo feminino é um espaço sem muitos direitos. Com o prazer vinculado a um corpo que engravida, que gera, que culpa e martiriza, as mulheres protegem-se num contrato social definido por leis, que longe de garantir-lhe este almejado prazer, obriga-lhes após tantas expectativas frustradas, à manutenção da relação dependente, neurótica, sadomasoquista. para fugir, da categoria pejorativa criada culturalmente para as mulheres que estariam desprotegidas destas leis. Seriam as"descasadas","mães solteiras", "largadas do marido", "as que estão em falta".
Estes preconceitos acompanham as mulheres pela história; Inventam as categorias e as mulheres vão aos poucos "incluindo-se "nelas, sem contestarem, com submissão e dependência. Nos tempos da Inquisição, criaram a categoria das bruxas e muitas mulheres comportavam-se como tal, porque havia esta categoria. Na época das Cruzadas, no século XIII, segundo Veiga(1997) os cavaleiros iam para o Oriente Médio deixando suas mulheres sozinhas nos castelos, o que representava para eles um sério risco. Voltaram, então, com uma novidade em termos de aprendizado religioso: o culto à Virgem Maria, comum em Bizâncio e ausente até então na Europa. A partir daí, "... inventou-se o culto a puríssima dama, a quem deveria dedicar-se um amor, não um simples amor carnal, "animalesco", mas o amor romântico pela deusa, adorada e casta, tanto mais adorada quanto mais casta. Os trovadores cantavam este amor e os homens que tinham ficado para trás, se convenciam dele. Isto acabou se constituindo num cinto de castidade mais eficaz dos que os de ferro e cadeado, mais folclóricos que realmente usados. Isto também reforçou imensamente nos homens a tendência de pensar as mulheres ou como santas ou como prostitutas..." ( Veiga, 1997: pag.34)
Mas, a quem interessa a permanência desta concordância coletiva? Quem se beneficía de tudo isto? Há interesses econômicos na questão? Certamente que sim, e em prejuízo da saúde psíquica de muitas mulheres, divididas em categorias: as que dão lucro, as santas e as outras... Assim, conflituada entre opiniões maniqueístas, onde o bem e o mal se degladiam por um espaço reconhecido, as mulheres geralmente submetem-se às regras do jogo, geridas por poderes seculares diversos.
Estes domínios rígidos sobre a sexualidade feminina, incorporaram um padrão comportamental que sobreviveu aos séculos, resistindo até mesmo às tentativas revolucionárias de alguns movimentos ditos feministas.
(...)
(Excerto de artigo recebido por email)
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