O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, maio 23, 2009

SER OU NÃO SER MULHER...

Iniciação feminina e iniciações de ofício
René Guénon
(Tradução de Luiz Pontual)

"Fazem-nos freqüentemente observar que parece não existir para as mulheres, nas formas tradicionais ocidentais que subsistem atualmente, nenhuma possibilidade de ordem iniciática, e muitos se perguntam quais poderiam ser as razões desse estado de coisas, que é certamente muito lastimável, mas que será sem dúvida muito difícil de remediar. Isso deveria aliás dar o que refletir aos que pensam que o Ocidente concedeu à mulher um lugar privilegiado que ela nunca teve em nenhuma outra civilização; é talvez verdade sob certo ponto de vista, mas sobretudo nesse sentido que, nos tempos modernos, ele a fez sair de seu papel normal lhe permitindo atingir funções que deveriam pertencer exclusivamente ao homem, de modo que não é senão um caso particular da desordem de nossa época. Sob outros pontos de vista mais legítimos, ao contrário, a mulher está em realidade em maior desvantagem que nas civilizações orientais, onde sempre lhe foi possível notadamente encontrar uma iniciação que lhe convenha desde que ela possua as qualificações necessárias; é assim, por exemplo, que a iniciação islâmica tem sempre sido acessível às mulheres, o que, notemos de passagem, é suficiente para reduzir a nada alguns dos absurdos que se tem o hábito de debitar na Europa a respeito do Islã.

Para voltar ao mundo ocidental, nem se precisa dizer que não pretendemos falar aqui da antigüidade, onde teria certamente havido iniciações femininas, e onde algumas o eram mesmo exclusivamente, da mesma maneira que outras eram exclusivamente masculinas; mas, como teria sido na Idade Média? Não é seguramente impossível que as mulheres tenham sido admitidas então em algumas organizações, possuindo uma iniciação que dizia respeito ao esoterismo cristão, e isto é mesmo muito verossímil (1); mas como estas organizações são daquelas que, depois de longo tempo, não resta mais nenhum traço, é muito difícil falar disso com certeza e de maneira precisa, e, em todo caso, é provável que não tenha havido aí jamais senão possibilidades muito restritas. Quanto à iniciação cavaleiresca, é muito evidente que, por sua natureza mesma, ela não poderia de modo nenhum convir às mulheres; e é o mesmo para as iniciações de ofício, pelo menos das mais importantes dentre elas e daquelas que, de uma maneira ou de outra, continuaram até nossos dias. Aí está precisamente a verdadeira razão da ausência de toda iniciação feminina no Ocidente atual: é que todas as iniciações que subsistiram são essencialmente baseadas em ofícios cujo exercício pertence exclusivamente aos homens; e é por isso que, como nós dizíamos acima, não vemos como esta deplorável lacuna poderia ser preenchida, a menos que encontremos algum dia o meio de realizar uma hipótese que iremos considerar em seguida.

Sabemos bem que alguns de nossos contemporâneos pensaram que, no caso onde o exercício efetivo do ofício desapareceu, a exclusão das mulheres da iniciação correspondente tinha por isso mesmo perdido sua razão de ser; mas é um verdadeiro absurdo, pois a base de uma tal iniciação não é de nenhum modo mudada por isso, assim como já explicamos (2), este erro implica um completo desconhecimento da significação e do alcance real das qualificações iniciáticas. Como dizíamos então, a conexão com o ofício, completamente independente de seu exercício anterior, permanece necessariamente inscrita na forma mesma desta iniciação e no que a caracteriza e a constitui essencialmente como tal, de maneira que ela não poderia em nenhum caso ser válida para quem quer que seja inapto a exercer o ofício do qual se trata. Naturalmente, é a Maçonaria que temos particularmente em vista aqui, visto que, para o que diz respeito ao Companheirismo, o exercício do ofício não cessou de lhe ser considerado como uma condição indispensável; de resto, não conhecemos nenhum outro exemplo de um tal desvio senão a “Maçonaria mista” que, por esta razão, não poderia nunca ser admitida como “regular” por nenhum daqueles que compreendam um pouco mais que seja os princípios da Maçonaria. No fundo, a existência desta “Maçonaria mista”(ou Co-Masonry, como ela é chamada nos países de língua inglesa) representa simplesmente uma tentativa de transportar, do domínio iniciático propriamente dito, o que lhe deveria mais do que qualquer outra coisa estar ausente: a concepção “igualitária” que, se recusando a ver as diferenças de natureza existentes entre os seres, chega a atribuir às mulheres um papel propriamente masculino, o que está aliás manifestamente na raiz de todo o “feminismo” contemporâneo (3).
(...)
ler em: http://www.reneguenon.net/IniciacaoFeminina.html

Imagem: Hipácia, filósofa de Alexandria queimada viva pelos cristãos...

2 comentários:

betoquintas disse...

}:) eu cheguei aqui através do blog da Nana Odara. Um texto que pode falar, indicar, sobre a iniciação feminina são os poemas de Sapho.

rosaleonor disse...

muito obrigada pela sugestão...gosto muito da poetisa e eterna musa sapho.