A DICOTOMIA DA MULHER
“Há muito tempo que o homem e a mulher não falam a mesma linguagem. A imagem de um não se sobrepõe ao outro. Anjo ou demónio, Virgem ou Bruxa, Mãe ou Puta, o homem vê a mulher como uma ameaça e como uma necessidade imperiosa numa ambiguidade Ódio-Amor. A mulher vê o homem como um opressor do qual é vítima porque ela esforça-se para o satisfazer, andando à volta dele e das suas necessidades, aliena-se de si mesma tornando-se indispensável pensando que só assim será amada. A negação ou a usurpação dos papéis fez despender uma enorme energia, sofrimentos e erros que continuam a alimentar os jogos. Dois seres cada um deles cego para a sua verdade interior, procurando ao longo de uma vida perceber um pouco deste mistério, caminhando na direcção um do outro pedindo-se mutuamente um pouco de luz...”*
Eu diria antes, que homem e mulher, dois seres cegos um para o outro e em si mesmos, cada um deles incompleto, virando-se para o outro, culpando-o do falhanço mútuo mas sem sombra de dúvida a mulher quase sempre vítima e bode expiatório de todos os males do homem... A mulher contudo não pode escolher senão servir o homem pois de outro modo seria banida ou perseguida...Tem sido assim ao longo de milénios de cristianização do mundo...e levado ao extremo pela Inquisição e o Santo Ofício.
No entanto, ao fim de séculos de negação e perseguição da mulher “A divindade feminina foi introduzida sob a forma de Virgem Maria no reino do Deus-Pai, mas é importante notar o quanto esta figura é dupla: de um lado, ela é castrada da sua sexualidade, sendo um modelo inatingível para a mulher real, pois como é que ela pode ser mãe sem conhecer o homem, não tendo existência senão para o servir e na abnegação absoluta de si mesma. Mas, por outro lado, ela é iluminada de bondade e amor, solar e aparece como figura universal de compaixão.”*
EVA E LILITH
Assim “A mulher vai esforçar-se por se assemelhar a esse modelo de mulher submissa que lhe é proposto (pela Igreja). Mas para isso ela vai perder em parte aquilo que a tornava desejável. A primeira mulher de Adão, segundo o Zohar, não foi Eva, mas Lilith, uma mulher indomável que em vez de se submeter à vontade de Adão, decidiu (deixá-lo) partir sempre. Lilith representa o arquétipo da mulher livre (e com vontade própria) . Todas as mulheres têm uma Eva e uma Lilith dentro de si . Mas as esposas e as mães, à partida, asfixiarão a sua Lilith. O homem patriarcal diz que espera (quer!) da mulher uma Eva, mas para ter consciência integral e poder evoluir a mulher tem necessidade dessa consciência livre que representa Lilith e se a recusar não pode deixar de sonhar com ela. É isto o que explica o famoso trio, marido, esposa e amante.”*
(...)
A MULHER E A “OUTRA”
Nestas circunstâncias temos então o homem na “posse” de duas mulheres que se completam em separado, uma em casa a cuidar dos filhos e outra na rua ou no Bordel, tal como a Igreja e o patriarcado o quis e para isso as dividiu em duas. Neste caso a mulher é fragmentada na sua natureza ontológica e obrigada a viver apenas uma metade de si mesma, uma para cada lado, “ao abrigo” - forçada - pelas leis e pelas convenções sociais de acordo com o sistema de valores do patriarcado. Esta divisão da mulher em duas (ou mais), constitui uma cisão do seu ser integral e leva a conflitos de toda a ordem, seja a nível psicológico - extensivo à família e aos filhos- quer ao nível social mais vasto e que reflecte a sociedade neurótica dos nossos dias de violência e guerra, com “filhos do pai” por um lado, frustrados e castrados por mães oprimidas e divididas e os “filhos da puta”, marginalizados e revoltados contra o sistema que são os criminosos e quiçá os terroristas do nosso tempo...os fundamentalistas de todas as religiões, cada vez mais. Portanto, temos o mundo dividido entre os “filhos do pai” (e mãe anulada) e os “filhos da puta” que eles criaram ao dividir a mulher..
Só os filhos da Mulher-Deusa voltarão a ser Homens e dignos do Nome!
RLP
“Há muito tempo que o homem e a mulher não falam a mesma linguagem. A imagem de um não se sobrepõe ao outro. Anjo ou demónio, Virgem ou Bruxa, Mãe ou Puta, o homem vê a mulher como uma ameaça e como uma necessidade imperiosa numa ambiguidade Ódio-Amor. A mulher vê o homem como um opressor do qual é vítima porque ela esforça-se para o satisfazer, andando à volta dele e das suas necessidades, aliena-se de si mesma tornando-se indispensável pensando que só assim será amada. A negação ou a usurpação dos papéis fez despender uma enorme energia, sofrimentos e erros que continuam a alimentar os jogos. Dois seres cada um deles cego para a sua verdade interior, procurando ao longo de uma vida perceber um pouco deste mistério, caminhando na direcção um do outro pedindo-se mutuamente um pouco de luz...”*
Eu diria antes, que homem e mulher, dois seres cegos um para o outro e em si mesmos, cada um deles incompleto, virando-se para o outro, culpando-o do falhanço mútuo mas sem sombra de dúvida a mulher quase sempre vítima e bode expiatório de todos os males do homem... A mulher contudo não pode escolher senão servir o homem pois de outro modo seria banida ou perseguida...Tem sido assim ao longo de milénios de cristianização do mundo...e levado ao extremo pela Inquisição e o Santo Ofício.
No entanto, ao fim de séculos de negação e perseguição da mulher “A divindade feminina foi introduzida sob a forma de Virgem Maria no reino do Deus-Pai, mas é importante notar o quanto esta figura é dupla: de um lado, ela é castrada da sua sexualidade, sendo um modelo inatingível para a mulher real, pois como é que ela pode ser mãe sem conhecer o homem, não tendo existência senão para o servir e na abnegação absoluta de si mesma. Mas, por outro lado, ela é iluminada de bondade e amor, solar e aparece como figura universal de compaixão.”*
EVA E LILITH
Assim “A mulher vai esforçar-se por se assemelhar a esse modelo de mulher submissa que lhe é proposto (pela Igreja). Mas para isso ela vai perder em parte aquilo que a tornava desejável. A primeira mulher de Adão, segundo o Zohar, não foi Eva, mas Lilith, uma mulher indomável que em vez de se submeter à vontade de Adão, decidiu (deixá-lo) partir sempre. Lilith representa o arquétipo da mulher livre (e com vontade própria) . Todas as mulheres têm uma Eva e uma Lilith dentro de si . Mas as esposas e as mães, à partida, asfixiarão a sua Lilith. O homem patriarcal diz que espera (quer!) da mulher uma Eva, mas para ter consciência integral e poder evoluir a mulher tem necessidade dessa consciência livre que representa Lilith e se a recusar não pode deixar de sonhar com ela. É isto o que explica o famoso trio, marido, esposa e amante.”*
(...)
A MULHER E A “OUTRA”
Nestas circunstâncias temos então o homem na “posse” de duas mulheres que se completam em separado, uma em casa a cuidar dos filhos e outra na rua ou no Bordel, tal como a Igreja e o patriarcado o quis e para isso as dividiu em duas. Neste caso a mulher é fragmentada na sua natureza ontológica e obrigada a viver apenas uma metade de si mesma, uma para cada lado, “ao abrigo” - forçada - pelas leis e pelas convenções sociais de acordo com o sistema de valores do patriarcado. Esta divisão da mulher em duas (ou mais), constitui uma cisão do seu ser integral e leva a conflitos de toda a ordem, seja a nível psicológico - extensivo à família e aos filhos- quer ao nível social mais vasto e que reflecte a sociedade neurótica dos nossos dias de violência e guerra, com “filhos do pai” por um lado, frustrados e castrados por mães oprimidas e divididas e os “filhos da puta”, marginalizados e revoltados contra o sistema que são os criminosos e quiçá os terroristas do nosso tempo...os fundamentalistas de todas as religiões, cada vez mais. Portanto, temos o mundo dividido entre os “filhos do pai” (e mãe anulada) e os “filhos da puta” que eles criaram ao dividir a mulher..
Só os filhos da Mulher-Deusa voltarão a ser Homens e dignos do Nome!
RLP
* Excertos de artigo de Paule Salomon “Femme Solaire”
1 comentário:
Muito obrigada pela partilha do poema...Alê...Muito bonito.
Eu não conheço a escritora mas vou pesquisar...
muitos beijinhos
rosa leonor
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