O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, março 02, 2011

O LABIRINTO...



O MEDO DA MULHER...

"O CORPO FEMININO É O LABIRINTO ONDE O HOMEM SE PERDE"



“A PASSAGEM DO CULTO DA TERRA AO CULTO CELESTE DESLOCOU A MULHER PARA A ESFERA INFERIOR”*.

“É correcta a identificação mitológica entre a mulher e a natureza. O contributo masculino para a procriação é fugaz e momentâneo. A concepção resume-se a um ponto diminuto no tempo, apenas mais um dos nossos fálicos pico de acção, após o qual o macho, tornado inútil, se afasta. A mulher grávida é demonicamente (diamon), diabolicamente completa. Como entidade ontológica, ela não precisa de nada nem de ninguém. Eu defendo que a mulher grávida, que vive durante nove meses absorta na sua própria criação, representa o modelo de todo o solipsismo, e que a atribuição do narcisismo às mulheres é outro mito verdadeiro. A aliança masculina e o patriarcado foram os recursos a que o homem teve de deitar a mão a fim de lidar com o que sentia ser o terrível poder da mulher. O corpo feminino é um labirinto no qual o homem se perde. É um jardim murado, o hortus conclusus do pensamento medieval, no qual a natureza exerce a demónica feitiçaria. A mulher é o construtor primordial, o verdadeiro Primeiro Motor. Converte um jacto de matéria expelida na teia expansível de um ser sensível, que flutua unido ao serpentino cordão umbilical, essa trela com que ela prende o homem.”*

Percebo que tanto homens como mulheres se sintam incomodados por eu “defender” exaustivamente as mulheres e por isso me acusam de radicalismo, quando não de outra coisa qualquer. Tanto os homens como as mulheres reagem às minhas tomadas de posição e me acham exacerbada ou tendenciosa…O que eu queria porém esclarecer é que de facto eu não pretendo criar antagonismo nem divisão entre o homem e a mulher. Não é aí que está o cerne da questão. O meu trabalho nada tem a ver com oposição ou antagonismo em relação ao ser homem. Apenas trabalho com a consciência do ser mulher em si dado o afastamento da mulher comum da Mulher original, coisa que os próprios homens não podem entender à partida e naturalmente julgam-se injustiçados por aqui se defender as mulheres sem evocar os homens bons ou justos…os homens femininos… (curiosamente acho que a virilidade de um homem está mesmo no seu feminino integrado, o contrário disso são os machos que hoje em dia preferem machos a fêmeas).

Eu sou uma Mulher, feminino versus masculino integrados, mas é como mulher que reflicto e expresso o que sinto. Falo da natureza do ser Mulher. Não entendo como há mulheres a falar sobre a natureza dos homens nem como há homens a falar sobre a natureza das mulheres porque obviamente são naturezas distintas e reflectem aspectos da vida opostos ainda que complementares no caso de ambos os seres estarem em paridade interior digamos o que não acontece em geral.
O que acontece com a mulher, do meu ponto de vista e entendimento (e não com o homem) é que ela está dividida em dois aspectos de si – de um lado o maternal e do outro o erótico – e isso causou uma cisão na própria mulher que a divide em duas. Pretende-se que hoje essas diferenças não existam, mas é pura ficção. Será assim tão difícil o que estou a dizer sendo tão óbvio na nossa sociedade a existência das duas mulheres? Não é assim que vemos de um lado a pobre prostituta e a desgraçada, ou a mulher fatal e do outro lado a mulher honesta, séria e recatada, ainda hoje? …De onde vem essa divisão e essa distinção e essa separação; onde é que ela começa senão na cabeça dos homens que a projectaram nas mulheres considerando uma mulher boa e outra má e pecadora de acordo com os conceitos religiosos de quase todas as cosmogonias e o pecado (a sujidade da mulher associada ao sangue da vida… e não da morte) e toda essa inacreditável pregação milenar religiosa que sempre perseguiu as mulheres? É mentira que a Inquisição existiu? Que perseguiram e mataram milhares de mulheres em fogueiras os cristãos? Que a percentagem de mulheres e homens queimados faz a diferença abismal dos 90 por cento ou mais?
Eu não estou com isto a acicatar as mulheres contra os homens nem a culpá-los individualmente. É uma realidade histórica abafada tal como a Deusa Mãe o foi. Se os homens se sentem discriminados ou fora do texto, é porque não querem ver onde e como o mundo subjugou a mulher e a manipulou e ele próprio se sente ainda tão senhor de si mesmo que nem pensa ou olha os factos reais.

NO meu trabalho eu procuro apenas trazer à mulher uma consciência de si que ela não tem e que se perdeu nos confins do tempo dessa saga milenar de luta do homem contra a natureza e a mulher pelo medo de ser submerso pelas forças instintivas. Trata-se da consciência do seu ser em profundidade, a parte que a sociedade patriarcal de facto conseguiu suprimir e alienar na mulher tornando-a um ser metade de si mesma. Este aspecto que eu foco nada tem a ver com a dualidade na manifestação, mas numa cisão da mulher em si. Isso acontece porque a mulher na sociedade ocidental, pela força dos arquétipos da Virgem por um lado e da Pecadora por outro, está dividida em dois estereótipos ou mais que a dilacera e nem ela mesma tem consciência disso e é por essa razão que assistimos a tamanhas discrepâncias na sociedade em relação ao ser mulher e a própria mulher aceita submissamente toda essa divisão, julgando que ela é sempre a aceite…e não a rejeitada…ou a enjeitada, ela é sempre a senhora e a outra é que é a culpada.

Mas digamos que não há culpados nesta história mas sim responsáveis…e no caso específico do nosso mundo é o homem quem assumiu o controlo da natureza e da mulher a seu belo prazer e isso são só os factos históricos. O que está por detrás dessa história porém é algo muito mais atávico e que se baseia no medo da morte e na incógnita da vida e do mistério da Natureza que o homem não conhece e a qual a mulher está indissociavelmente ligada…

“Os ciclos da natureza são os ciclos da mulher. A feminidade biológica é uma sequência de retornos circulares, que começa e acaba no mesmo ponto. A centralidade da mulher confere-lhe uma identidade estável. Ela não tem que tornar-se, basta-lhe ser. A sua centralidade é um grande obstáculo para o homem, cuja busca de identidade é bloqueada pela mulher. Ele tem que se transformar num ser independente, isto é, libertar-se da mulher. Se o não fizer acabará simplesmente por cair em direcção a ela. A união com a mãe é o canto da sereia que assombra constantemente a nossa imaginação. Onde existiu inicialmente felicidade agora existe uma luta. As recordações da vida anterior à traumática separação do nascimento podem estar na origem das fantasias arcádicas acerca de uma idade de ouro perdida. A ideia ocidental da história como movimento propulsor em direcção ao futuro, um desígnio progressivo ou providencial que atinge o seu apogeu na revelação de um Segundo Advento, é uma formulação masculina. Não creio que alguma mulher pudesse ter concebido tal ideia, já que a mesma é uma estratégia de evasão em relação à própria natureza cíclica da mulher, na qual o homem teme ser aprisionado. A história evolutiva ou apocalíptica é uma espécie de lista de desejos masculinos que desemboca num final feliz, num fálico cume”*
A mulher como Mãe e Deusa foi detentora de um poder inexplicável que levou o homem a adorá-la tanto como a odiá-la. Sabemos que os místicos a adoram enquanto pura e imaculada nos altares do mundo mas à mulher real, a mulher sexual instintiva foi e é projectara nos infernos…rejeitada… Adoram e rezam à deusa virgem que concebe sem pecado, mas a mulher sua mãe…e a sua mulher proibiu-a de ter prazer e amar o seu corpo e se dar…e o pior, obrigou-a a vender-se….e ainda hoje é essa a realidade das mulheres embora a nível inconsciente e não só porque é mais que evidente a violência sobre as mulheres a nível sexual embora se diga o contrário.

Calhou na história da humanidade a Mulher ser o espelho da Natureza cíclica e ctónica, por isso obscura e temível, e por medo das forças incontroláveis da natureza, o ser homem reflectiu no ser mulher o seu desejo de controlar o que lhe escapava ao seu domínio procurando ter poder sobre a mulher e a Natureza ao mesmo tempo…E o que fez à Mulher fez à Natureza e vice-versa. E o que hoje vemos no mundo em termos do mal, prostituição, degradação, exploração e depredação do homem à natureza e a mulher é bem patente na fauna e na flora e nas crianças no mundo abandonadas à sua sorte e isso é algo de abominável…
Só não vê isso quem é cego.

O homem por medo da mulher e do seu próprio abismo – nascimento e morte - destruiu a vida e a natureza… Nada o salvará senão a descida ao Labirinto…
rlp
*In Personas Sexuais de Camille Paglia

4 comentários:

Helena Felix (Gaia Lil) disse...

Nós resta saber se a humanidade está preparada para essa descida ao Útero.

Anónimo disse...

Ah eu não consigo entender como podem não gostar do que você escreve, todas as mulheres deveriam ter essa consciencia sobre si mesma, e você tem nos ajudado a chegar lá.. To namorando agora,e to vendo como as mulheres tem uma tendencia a se jogarem aos pés dos homens por causa da sociedade, mas é muito mais divertido, quando a gente aprende, que somos mulheres e isso é diferente, e é ótimo, acho que até os homens percebem uma nova segurança, segurança de deusa meesmo!!

Alana

rosaleonor disse...

Gaia Lil...minha querida...

começa em cada uma de nós e temos de ter fé que cada vez mias mais mulheres e homens se abrirão ao coração da Deusa Mãe...

um grande abraço...e muita força para todas as provas e desafios que a vida te lança!!

rosaleonor disse...

Obrigada Alana...


Sim, há mulheres que não suportam ver-se ao espeplho de si mesmas e fogem delas...mas você continue fiel a si e a descobrir-se para viver a sua vida em plenitude!!!

abraço

rleonor