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A Lua da Loba trouxe-me a certeza de que uma mulher será sempre mulher, independentemente do que se diga, se está ficando velha, se está tomada pelas rugas, ou se a menopausa chega e o sangue desaparece, ela sempre será filha de Afrodite. Por mais que tenha lutado contra isso, a deusa estará oculta em alguma prega de seu corpo, pulsando os suspiros dos sonhos de Lilith.
Hoje, ao experimentar os primeiros sintomas da menopausa, orgulhosa, acaricio o meu corpo, envaidecida dos sinais que o tempo nele gravou. Não sinto medo da velhice, pois sei que esta foi invenção dos homens, que sempre temeram a impotência que a presença de todas as deusas pode acarretar, que não conseguem alimentar os desejos subtis de uma Afrodite madura e além disso sabem muito bem que Athena foi a única a derrotar Aires numa briga. Às vezes me vejo envaidecida como uma loba perante a Lua, consciente de que carrego em minha vagina o fluir infinito de um sangue que, de tão pleno, não precisa de se revelar, um sangue metafísico, um rio de ausência que gera múltiplas realidade. Assim como a prenhez de uma loba: mãe Glotinha…
Quando a Lua Loba se aproxima, meus pelos se eriçam e os ventos gelados se preparam para levar a fluidez do visco do meu gozo para a morada das divindades, onde se sentem honrados pela lembrança dos antigos ritos…
(…)
In O FEITIÇO DA LUA
Márcia Frazão
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