Fico
realmente perplexa ao aperceber-me que não é fácil para as mulheres falar do Feminino...nem todas, ou raras são as
mulheres que conseguem identificar a sua essência...a razão sem dúvida é
estarem tão longe as mulheres dessa sua essência feminina - elas são no nosso
mundo muito mais animus que anima - que dificilmente conseguem ir para além dos
conceitos ou ideias que têm em geral da mulher, na arte na cultura e nos midea,
todas elas redutores dessa essência, onde nem sequer ela é aflorada e que as
mantêm ou contêm aprisionadas numa carapaça de mulher, um travesti do
imaginário masculino, reduzida às funções de procriadora, de amante e hoje em
dia de modelo ou actriz. De modo que, se pedirmos a uma mulher para falar da
sua essência feminina, ela vai titubear e falar do que gosta, precisamente da
moda, da maquilhagem, da culinária ou então dos filhos e do marido...ou dos
amantes…sim, principalmente dos homens…é inevitável.
Elas
não conseguem ser ou ver-se no seu “feminino” intrínseco não tem ideia do que isso
seja, e tudo o que dizem é em função da sua relação ou em função dos homens… Do
seu falar, a única forma de conhecimento a que tem acesso…dos seus
psicanalistas do seu deus e do seu falo… e se, se lhes falar do seu próprio
sexo é como se não existisse…digo da vagina ou do clítoris…isso incomoda-as e
quando falam é de forma depreciativa envergonhada ou brejeira…
Elas
são incapazes – e eu falo de mulheres de todos os tipos e regra geral, não falo
como é óbvios daquelas que se buscam num caminho próprio…e fazem a diferença,
mas daquelas que são a grande maioria e vivem completamente esquecidas de si.
Essas mulheres não relacionam o amor que sentem com elas mesmas, como uma
capacidade de se sentirem, de sentirem esse fogo interior que é a paixão do SER
e da VIDA em essência, mas sim e quase sempre as mulheres pensam que esse fogo
está associado apenas à sexualidade e amor pelo homem...que é o homem que as
faz sentir assim e sem ele nada sentiriam; mas não é de todo assim. Essa é a
minha experiência e de algumas mulheres que conheço...Porque esse amor vem essencialmente
da natureza e da consciência de SER MULHER; pode parecer uma acepção talvez mística
da vida...mas esse fogo está no coração ardente...na consciência do ser e na
sua totalidade ainda e só como mulher, porque é essa a sua natureza intrínseca,
ela é transcendente, isso é, mas é tão real como ela mesma...basta ligar-se ao
seu coração e as suas entranhas, a esse todo que é a Mãe terra e respirar o céu...
Esse é o amor condensado, substancial, transfigurado no coração da mulher depois de tanto sofrer, amando e não amando desejando e querendo mais...que a torna grande e a torna capaz de sofrer e dar tanto e tantas vezes sem nenhum retorno…sem ver que esse amor que dá é só dela e é nela que nasce e floresce…e não morre se ela o mantiver ligado a sua fonte de vida…se ela sentir o seu centro, na união de si consigo mesma...Com a sua outra parte oculta, tão escondida e tão amesquinhada que ela nem sempre ousa abrir-se a ela...Mas precisa resgatar essa mulher cindida, unir as duas e agora a três com a idade...porque ela é a eterna Jovem a eterna Mãe e a eterna Velha, a sábia...
Sim, com o tempo e a idade a mulher vai aprendendo a sentir-se e a libertar-se de amarras. Pode perder umas coisas mas ganha outras e nada é mais belo do que se reconstruir a si mesma e agarrar todo os pedaços de si que foi deixando aqui e ali, forçada, perdulária...ou roubada...
É pois um erro pensar que a mulher madura ou mesmo a velha não ama com intensidade...sabedoria talvez mais do que sensualidade… mas ambas as coisas se misturam e a pura emoção que se requinta na medida que anos passam é cada vez mais secreta e misteriosa e erótica, porque não?
A mulher foi ao longo da sua vida confundida com aspectos variados de uma natureza multifacetada e imperiosa que a mantém amarrada e contida nesses estereótipos, sobretudo nela foi calada a sua voz de dentro, a Voz do Útero, retida a Voz do Oráculo no inicio da nossa civilização grego ou romana. E assim durante milénios impingiram-nos as faces da deusa Mãe, banida a Deusa da superfície da terra, com as mulheres todas à bulha por Zeus no Olimpo, como falsos arquétipos o que na verdade são apenas os aspectos que correspondem ao carácter da mulher nas suas diferentes fases ou aspectos da Deusa Mãe outrora Una, agora dividida pelas religiões patriarcais.
Assim, o feminino essencial, o feminino na sua essência/beleza/sensualidade...é coisa que a mulher comum não sabe...ou pode até saber intelectualmente e imitar...numa imagem estereotipada da mulher sensual ou fatal...mas da essência em si, para lá de todos esses estereótipos, pouco ou nada sabe; porque essa essência é outra coisa, trata-se da consciência ontológica do SER MULHER e trata-se essencialmente da Alma...e isso só é possível na mulher integrada e não em nenhuma das metades ou fragmentos que todas pensamos que somos ou ...Afrodites, Atenas, Hestias ou aquelas...
Não, a Mulher Essência é muito mais do que isso. A Mulher Essência é Fogo puro, chama ardente...é paixão sublime, pode ser e é... a Musa a Dama, a Amazona e a Rainha, a Grande Mãe e a Deusa de todas as coisas...
Rosa Leonor Pedro
4 comentários:
Que honra, Rosa!
Acho que somente as mulheres maduras conseguem saber o significado de ser mulher. Há algumas jovens, sim, mas pelo medo de ficarem sós, se submetem a clichês, a pensar e aceitar a classificação da sociedade patriarcal da mulher.
Sim, há de se ter coragem e pagar o preço, amiga para "ser".
Somos criaturas e criadoras.
Obrigada!
Dentro de nós é forte o medo da liberdade.
— Germaine Greer
Sem dúvida minha amiga...é esse medo inconsciente e recôndito que nos aprisiona ao conhecido ao hábito e nos torna inaptas para descermos aos nossos abismos...
Visitei o seu trabalho e se não se importar vou lá escolher um conselho útil de saúde um dia desdes...?
grata pela sua companhia.
abraço rleonor
Me é uma honra, sempre, sempre!
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