No entanto, essa energia necessária se assemelha à ajuda aos
países subdesenvolvidos: nunca chega. Algo na ordem social vigente impede essa
energia de se libertar para que as mulheres não possam ensonhar. Segundo as
feiticeiras, se essa energia fosse libertada uma forma clara e tangível,
DERRUBARIA A ORDEM “CIVILIZADA” DAS COISAS. A GRANDE TRAGÉDIA DA MULHER é que a
sua consciência social (psicológica*) (a psique dividida*) a domina
completamente a nível individual. A mulher teme ser diferente, e NÃO GOSTE DE
SE AFASTAR DA SUA ÁREA DE CONFORTO E COMODIDADE, do que já conhece. As pressões
sociais às quais se vê submetida são de tal modo fortes que ao invés de querer mudar
e saber de si a mulher se rende completamente ao que está pré-estabelecido: ela
existe apenas para estar ao serviço do homem, e portanto não pode ter sonhos ou ensonhar
como as feiticeiras, apesar de possuir essa disposição orgânica.
As mulheres me repetiam isto todas as noites, e quanto mais
me recordava melhor entendia as suas palavras e maior era a minha tristeza; não
só a título pessoal como por todas nós, nós como uma raça de seres esquizofrénicos
aprisionados numa ordem social que nos amarra e gera as nossas próprias “incapacidades”.
Quando conseguimos libertar-nos e vimos essa claridade em nós ela é tão efémera
que dura somente por uns momentos, e logo nos deixamos cair de forma involuntária
ou deliberadamente, num poço de obscuridade.”
FLORINDA DONNER-GRAU
Nota: ensonhar: mais do que sonhar é uma forma de visionarismo consciente que a mulher possui inatamente…de outras realidades...
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