Eu sou feminista - por JOSÉ MANUEL PUREZA
(jornalista)
in DN
"Sempre me causaram grande incómodo os depoimentos de mulheres que afirmam "eu cá não sou feminista porque nunca me senti discriminada". Reduzir a História a uma condição pessoal é um malabarismo que confunde as coisas. Martin Luther King não precisou de ser escravo para saber que os negros eram efetivamente discriminados e de assumir a luta contra essa discriminação como a causa da sua vida. O conhecimento da realidade obriga-nos a escolhas. Isso basta.
Mais incómodo me causam aquelas expressões tão triviais de homens que dizem: "Feminismo? Deve haver engano: isso é com elas." O feminismo não é coisa de mulheres. É coisa da democracia. São feministas - mulheres e homens - aquelas/es que olham para a sociedade e veem nela o apoucamento das mulheres por serem mulheres. E que diagnosticam nessa discriminação a presença de relações de poder antigas, culturalmente entranhadas, que aberta ou subtilmente reservam para as mulheres um lugar subalterno no terreno social.
Há quem ainda o faça à bruta - as 14 700 queixas de violência doméstica apresentadas à polícia só no primeiro semestre do ano passado atestam-no bem. Mas o tempo e a denúncia desses atavismos encarregaram-se de revestir a discriminação das mulheres de invólucros sofisticados. Hoje, mais do que justificar a discriminação, desqualifica-se o discurso que a denuncia. É o que se passa desde logo com a absolutização dos casos de sucesso ("ela tornou--se respeitada no local de trabalho, contra todos os preconceitos, estão a ver?" ou "discriminação das mulheres era dantes, agora 65% dos licenciados são mulheres"). O caminho feito nunca justifica a cegueira do caminho por andar. E se há hoje condições sociais e culturais em que a dignidade das mulheres é equacionada em termos diferentes dos que existiam há meio século, o mínimo que apetece dizer é que mal seria se assim não fosse. Mas isso não é, não pode ser, álibi para que não reconheçamos a persistência de uma cultura de disponibilidade para menorizar as mulheres como seres humanos plenamente autodeterminados."
(...)
in DN
- "não sou feminista, sou antropologicamente lúcida"
Quando
eu digo que não sou feminista, mas sim "antropologicamente lúcida" não
nego o feminismo dentro do seu contexto histórico e político, mas contraponho à
ideia de "igualdade" e "direitos iguais", um feminino
ontológico, um feminino integral, uma mulher total...e não considero que a
mulher deva ficar em casa a cuidar das crianças, nem pegar em armas e ir a
guerra...nem 8 nem 80...
A Mulher
está por redefinir e por se encontrar a ela mesma. Dentro de si...e não
fora...e essa é a minha ideia e posição: trabalhar por uma consciência de SER
MULHER muito para além deste jogo social económico e político ou guerra de
sexos!
rlp
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