O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, dezembro 01, 2016

UMA UTOPIA OU UMA FARSA?


ALGUÉM FALOU EM UNIR AS MULHERES?

"Não há nenhuma escola onde possas aprender a ser tu mesma; não existe nenhum mestre que pacientemente te encoraje a encontrares a resposta correta. És tu a parteira de ti mesma e vais ter de te dar à luz a ti mesma, vezes sem conta, sozinha, no escuro..."  - Caitlin Moran,


Céptica e talvez mesmo profundamente decepcionada verifico que as mulheres não se conseguem unir em lado nenhum, nem mesmo as mulheres que se afirmam ou buscam grupos de mulheres com um certo propósito, ou "afinidades" dizem, de se unirem e trabalharem em conjunto por um objectivo comum. Infelizmente o que eu verifico de facto ao longo dos anos é que as mulheres mesmo que esse seja o seu objectivo a priori, elas acabam sempre divididas e em conflito. Elas não conseguem unir-se...acabam sempre por se antagonizar...e a culpa é da Eva...ou da "outra", as vezes Lilith ...
Eu que tanto sonhei com a união das mulheres no mundo assisto agora a estas situações que são o reverso do que sonhei e parecia possível há duas décadas atrás, por isso o que eu mais lamento é que elas estejam a desperdiçar essa energia de esperança - que à partida era um enorme potencial de união entre as mulheres - , e que agora, em vez de unir esforços e criar sinergias em conjunto, criam fossos de separatividade e antagonismo através de preconceitos, rivalidades, alimentando intrigas e conceitos mesquinhos e julgamento das outras mulheres...

Para mim é muito clara a razão de isso continuar a acontecer. A mulher não fez um trabalho de base consigo mesma,  e por isso não tem uma consciência psicológica que lhe permita perceber esses conflitos entre mulheres.  Ficou presa aos seus próprios complexos e medos e por isso cada mulher busca sobretudo e ainda  o seu protagonismo, através da afirmação do seu ego - busca quase sempre e na maioria dos casos, ganhar ascendência  sobre as outras mulheres  e assim se isolar à frente (a líder).  Cada mulher em geral, neste estadio, e isto é  um drama que vem de longe, busca a sua projecção pessoal, servindo-se das outras mulheres mais do que quer efectivamente contribuir para uma causa comum, UMA CONSCIÊNCIA DE VERDADE. Elas acabam por trabalhar mais em beneficio de si próprias do que de uma verdadeira causa ou do grupo. 
A verdade é que, as mulheres, continuam presas à mesma rivalidade de sempre, aos mesmos conceitos e preconceitos. É mais forte do que elas. No que elas fazem, para além das situações comuns e sociais de empenhamento profissional ou sucesso de uma carreira, predomina principalmente o interesse económico, e a afirmação egoica ou a vaidade e o interesse pessoal, (às vezes dito "transpessoal"). Assim, o que a mulher imatura e impreparada (aculturada) quando se afirma "curadora, animadora, terapeuta ou facilitadora" disto e daquilo é porque se quer afirmar a "dona do pedaço"...e a sua sigla é: "aqui mando eu, aqui é o meu circulo sagrado e só eu é que sei".  
O que elas fazem na prática é tentar subir por cima das outras, das que dominam e das que se submetem, e essa atitude continua a ser a mesma que antes tinham no trabalho ou nos empregos e agora em situações cujo pressuposto seria um trabalho ou uma actividade desinteressada de mulheres em prol do "sagrado feminino" ou da deusa e das outras mulheres.

E este exemplo nefasto propaga-se cada dia mais  com mentoras sem escrúpulos, inseguras e caprichosas, que fazem carreira seguindo a mestra e buscam a sua aprovação...ou que a reprovam mas emitam e competem com o seu poder, aliciando outras mulheres e fazendo o mesmo que lhes fizeram a elas  onde reina a mesma ignorância e tabus e medos. É evidente que a propaganda e os discursos confusos são mascarados de uma extrema "sabedoria e bondade", de humildade e amor e de grande abnegação, a contrastar violentamente com as suas práticas...que acabam na agressão e  calunia das  mulheres "diferentes" que as colocam em questão ou que se afastam por não estar de acordo com os "métodos". Estas são sempre condenadas e enxovalhadas pelos seus pecados...

Tudo isto é incontornável, eu sei...pois vivemos num mundo individualista, numa sociedade e dentro de um Paradigma que alimenta isso e as mulheres continuam num nível muito baixo de consciência  e por isso o que domina nas relações é o egoísmo e o interesse pessoal, tantas vezes camuflado de "altruísmo", mas em que o mais importante é ser-se o centro das atenções, pela necessidade de brilhar, de se mostrar que é capaz, de ser qualquer coisa - quando se ganha o prazer do pódio...é uma droga...e nestes casos é quase legitima a "bebedeira", a exaltação, o inflacionamento do ego. Sim, eu compreendo essa exaltação, mas assim não vai nunca haver união das mulheres.

Não. Definitivamente não haverá união das mulheres nem trabalho algum em conjunto enquanto cada uma optar por fazer apenas o seu grupinho aqui e ali e a competir com as outras e a ver quem consegue mais clientes e seguidoras... e aí temos todos esses pequenos grupúsculos para satisfação pessoal e diversão da líder e que não passa de folclore, repetição, de mentalização através do lúdico, em vez de juntar efectivamente AS MULHERES num propósito comum que as una a todas dentro e as ajude a encontrar essa Mulher Deusa de que todas falam e nenhuma consegue ser...
rlp

2 comentários:

Anónimo disse...

Observando de fora, diz-me a intuição que algo está a emergir, e que vai manifestar-se, pois, como força natural que é, não pode ser impedida nem bloqueada. As empreendedoras do "espiritual" atentas, não deixaram passar a oportunidade e fizeram o que o patriarcado sempre fez: quer, pode e apodera-se, manipula, desvirtua e destrói, enquanto monetiza e afirma o seu "poder".

É muito importante discernir, quem não estiver atenta facilmente se perde na nuvem densa que se tornou o meio "espiritual"... MAS, por mais que mentirosas se vendam como sendo os portadoras da verdade, a Verdade jamais é afectada (e não é possível enganar toda a gente, o tempo todo). Portanto, há esperança que talvez tenha sido um mau (re)começo em vez de uma oportunidade perdida... acredito que sim.

Um beijinho grande

Sónia

rosaleonor disse...

Sónia, OBRIGADA por me socorrer com a sua lucidez...às vezes fico mesmo desalentada, mas é como diz, a Verdade não será jamais afectada pela mentira e a hipocrisia ou a simples ignorância...e como se diz a verdade vem sempre ao de cima, como o azeite...
Sim há uma esperança no meio desta densidade new age...há mulheres incriveis que estão a fazer um grande trabalho com elas mesmas e eu tenho a sorte de as conhecer...às vezes tendo muito para o corpo...meio vazio...
beijinhos
rl