O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, dezembro 14, 2016

Não se enquadre nem absorva imediatamente o que se diz como certo ou errado.

Á PARTE A ASTROLOGIA

Este texto mostra bem o caos social e intelectual e "espiritual" a que chegamos nos nossos dias e o difícil que é sair dele...quase ninguém se distingue de ninguém...TODOS dizem o mesmo os do bem e do mal...encontrar a verdade é mais do que nunca encontrar uma agulha no palheiro e separar o trigo do joio, cada vez mais difícil, uma tarefa árdua e bem complexa...mas  uma tarefa que se impõe e de forma derradeira.
rlp

"Hoje, às 22h05min (horário brasileiro de verão), a Lua atinge o ápice da lunação sagitariana, com Mercúrio (dispositor da Lua) em Capricórnio conjunto a Plutão e quadratura com Júpiter (dispositor do Sol) que, por sua vez, está em plena oposição com Urano, sextil com Saturno e entrando em quincunce com Quíron. Em outro ângulo, Saturno entra no circuito Sol-Lua (em conjunção com o Sol), e os três fazendo quadratura com Quíron. Além disso, a Lua estará em pleno trígono com Marte em Aquário.

Palavras cortantes, porém curadoras. Literalmente o ambiente é de vômito total, as revoltas e indignações atingirão níveis praticamente incontroláveis, em algum nível. A quadratura em T Sol-Saturno-Lua-Quíron, com Lua em trígono com Marte e Vênus em Aquário, é uma hora em que, por um lado, os eternos “bonzinhos” ou hipócritas têm que começar a deixar que a máscara caia, para que mostrem um pouco a sua humanidade, descendo de um “trono de perfeição” (e pretensão) com que muitos de nós somos ensinados. Por outro lado, isto também afeta os falsos líderes, neste atual mundo que, além de termos que lidar com um mundo de opressões, cobranças em ser o que não somos, viver da forma de não queremos, ainda por cima somos cobrados a atingir um nível sobre-humano de ser perfeito em tudo: se você não é feliz o tempo todo, é porque você não está “atraindo da forma correta” a abundância; se você não tem o amor que quer, é porque não está cuidando bem do corpo, do espírito, precisa cortar aqui, restringir ali, enfim, seguir à risca o manual do “espiritualmente correto”. Comer carne? Nem pensar! Viver do sistema? Falha! Em outras palavras: quantas pessoas “comuns” às vezes são tão tolerantes, dialógicas, realmente “espiritualizadas” e quantos que se dizem “espiritualizados” ou “elevados” são verdadeiros tiranos, manipuladores e tão fundamentalistas quanto os que eles chamam de “não abertos para a espiritualidade”?

Preocupar-se mais com o próprio caminho, de forma silenciosa, humilde, discreta, quase invisível, em vez de virar mais um “vigilante de comportamentos”. O próprio Facebook, como outras redes sociais, confirmou o que o filósofo francês Michel Foucault descreveu, já nos anos 50 e 60, como a “sociedade da vigilância mútua dos costumes”, da docilização e estandartização dos corpos (todos malhados, operados cirurgicamente, saindo de uma mesma forma), e o massacre que ocorre em cima de quem não segue na mesma linha hegemônica de costumes¹. Mas QUEM ESTÁ ENQUADRADO, DE FATO? Quem é capaz de dizer que “segue a cartilha” corretamente? Pois digo: os oriundos dos que seguem comportamentos rígidos, querem parecer “bonzinhos demais”, moralmente corretos, formadores de regras, destes vieram os piores ditadores em todos os tempos. Na continuação do pensamento de Foucault, o filósofo sul-coreano Byung-Chul Han nos fala sobre a “sociedade do cansaço” - em um livro homônimo², ele diz que a sociedade, além de ter as velhas explorações e abusos naturais do capitalismo e do sistema de vigilância mútua já descrita pelo filósofo francês, ainda vários sistemas de pensamento levam o indivíduo a se “treinar” para atingir uma “excelência” pessoal, um sistema autoculpabilizador, poderíamos dizer até “espiritual-meritocrático”, se tornando um “tirano de si mesmo”. Ou seja, explorador e explorado se tornam personagens cada vez mais difíceis de serem diferenciados.

Os livros de autoajuda, os profissionais do “supere-se”, etc, vendem diversas “fórmulas de felicidade eterna” - “seja o seu Deus! Consiga tudo o que quer! Não conseguiu? VOCÊ É LIVRE!”. Byung-Chul Han chama a isto de “liberdade paradoxal” - você é “livre”, mas acaba virando vítima das próprias cobranças feitas a si mesmo(a) – sorrir nas fotos, a “coerção de felicidade” que é cobrada e autocobrada o tempo todo. Basta ir a um lugar de entretenimento e você verá um monte de caras entendiadas, mas que o rosto se ilumina num sorriso brilhante, montado e congelado, em uma “selfie” que passará pelo crivo dos “analistas de felicidade alheia”. Já experimentou tirar uma foto sem rir?

Pode contar que, em poucos minutos, alguém perguntará se você está bem, ou “onde está o sorriso?”
E o pior de tudo: os “profissionais da felicidade” (que são, na verdade, os chefes da “milícia da autocobrança”) entram em ação, os disparadores de fotos maravilhosas massacram os que sofrem, os que estão em pânico ou depressão profunda, porque, de alguma forma, não conseguiram “cumprir as regras”, não se adequaram, enfim, fracassaram em atender às expectativas deste rolo compressor esquizofrênico, chamado de “sociedade neo-liberal ou pós-moderna”.

Outra doença a que estamos atrelados: o paradigma do sofrimento – tudo que é “bom” envolve batalhas, sacrifício, renúncias, enfim, nada pode vir pela via fácil. Afinal, um dos mentores espirituais mais famosos teve sua mensagem deturpada e transformado em um mártir, pregado em uma cruz, como uma lembrança de que não podemos atingir o céu sem sofrer ou morrer.
Ou seja: este momento é o de prestarmos MUITA ATENÇÃO a todos os sistemas de crenças que estamos proferindo, às nossas palavras, tanto opiniões sobre o mundo e as pessoas, quanto a nós mesmos. Hoje a palavra-chave será ELEVAR A PALAVRA AOS CÉUS. Direcione uma oração a quem você acha que necessite, peça compreensão e sabedoria para perdoar, perdoe-se pelos seus erros e escolhas, AGRADEÇA MUITO, enfim, use a palavra como elemento curador. FAÇA A PALAVRA ANDAR, CONVOQUE AFIRMAÇÕES DE PODER, pois só as palavras sagradas curam o veneno dos maus pensamentos. Não se cura discórdia com mais discórdia, ressentimento com mais provocações, e assim por diante. Do ponto de vista espiritual - se sua visão lhe traz ainda mais peso e cobranças, se lhe torna mais rígido ou, por outro lado, lhe cria um torpor, um alívio, relaxamento e felicidade histérica, pense nisso: talvez esteja na hora de, pelo menos, questionar sua relação com este sistema de crença e encarar suas reais motivações egocêntricas com este caminho. Para encontrar nossa realidade interna, precisamos derrubar várias camadas de falsas noções de si e de tudo, vários véus, e isto causa um rebuliço inicial muito grande, uma sensação de enorme desconforto, até que, finalmente, consigamos entrar em sintonia com algo que está para além das pobres e limitadas noções de “bem” e “mal” que nutrimos.

Para de ouvir todo mundo, e se escutar. Recobrar a fé em si mesmo – o bom mestre faz descobrir a mestria que todos tem, DO SEU PRÓPRIO JEITO, com amor, doçura, compaixão e respeito de limites. Não se enquadre nem absorva imediatamente o que se diz como certo ou errado. Inclusive o que digo aqui. Confie um pouco mais em sua própria sabedoria, com um pouco mais de (auto)crítica, com menos paixões e mais distanciamento. A desconfiança dos próprios instrumentos que usamos para perceber a realidade é um dos princípios da postura filosófica. "


¹ FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 35ed. Petrópolis: Ed Vozes, 2008.
² HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Petrópolis: Ed. Vozes, 2016 (2ª impressão).
Por João Marques cividanes

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