ALERTA VERMELHO PARA AS MULHERES
The Handmaid’s Tale de Margaret Atwood é aterradora. Desde o primeiro episódio ao último. Força-nos a olhar um Mundo ao virar da esquina do nosso. A um passo mínimos de desespero de nos tornarmos naquilo. Peões sem identidade. O olhar oferecido pela exímia e acutilante Ofred de Elizabeth Moss é horrífico e castrante. Da vontade própria. Do Ser. Bruce Miller, criador da série, dá palco ao feminino e muitos dos episódios são realizados por mulheres. E nelas vivemos imiscuídos. Na letargia profunda do quotidiano das Servas cuja única função é o serviço à Casa. Tudo culmina num ritual mensal de violação por parte do Dono assistido pela Esposa. Qualquer sinal de rebelião é punido fortemente, cujo castigo máximo é o do enforcamento público, para que todos possam assistir às consequências dos seus crimes: Herege, Lesbica, Puta. Ou então de justiça levada a cabo pelas próprias Servas, um rito primitivo de erradicação de qualquer humanidade nelas presente.
Muitas vezes somos confrontadas e confrontados pela razão pela qual ainda lutamos. Porque ainda saímos às ruas. Pelos direitos das mulheres. Das pessoas LGBT. Das minorias. Porque gritamos. Porque marchamos. Muitas vezes com orgulho. Muitas vezes com raiva. É porque esta distopia está a um pestanejar de distância. Basta baixarmos os braços. Por um segundo. Com alarmes destes… não podemos fazê-lo. O cansaço não nos pode derrotar. A falta de esperança não nos pode petrificar. Ou estaremos, mais cedo que tarde, também nós numa sala de convento qualquer, a ter o nosso futuro escravizado. The Handmaid’s Tale é mais que ficção. É um ensurdecedor e penetrante alerta vermelho.
Uma das personagens mais aterradoras, em particular para a comunidade LGBT, é a de Ofglen, protagonizada pela extraordinária Alexis Bledel. Uma Traidora de Género como Moira. Tenta não se conformar às vidas fantasmagóricas e desumanas que lhes são impostas e cedo vêmo-la amordaçada como um animal, de gritos abafados. Apenas os olhos deixam transparecer o puro terror que vive. De querer resistir mas não conseguir mais que a subjugação total e incontornável. De querer lutar apenas para ser subsequentemente humilhada e mutilada. De tentar Ser e ver todas as suas fugazes e voláteis aspirações erradicadas à sua frente."
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