MULHER COM GARRAS
"É típico que as mulheres tenham medo de deixar morrer a vida confortável demais, segura demais. Às vezes a mulher se diliciou com a protecção da mãe-boa-demais, e por isso deseja continuar ad infinitum. Ela precisa estar disposta a sentir alguma ansiedade ocasional, ou então seria melhor que permanecesse no ninho.
Pode ocorrer que uma mulher tenha medo de não ter segurança ou certeza mesmo por um curto periodo de tempo. Ela apresenta desculpas em quantidade maior do que a dos pelos de um cachorro. Ela só precisa de mergulhar e ficar sem saber o que vem depois.É a única atitude que irá recuperar sua natureza intuitiva. Às vezes, a mulher está enredada sendo a mãe-boa-demais de outros adultos que se grudam às suas tetas e não pretendem deixar que ela os abandone. Nesse caso, a mulher tem de afastá-los com um coice e continuar assim mesmo."
(...)
"Há uma mãe selvagem à espera para nos ensinar."
“MULHERES CORRENDO COM OS LOBOS”
DE CLARISSA PINKOLA ESTÉS
O AMANTE INVISÍVEL
Quero suprimir o tempo e o espaço
A fim de me encontrar sem limites unido ao teu ser,
Quero que Deus aniquile minha forma atual e me faça voltar a ti,
Quero circular no teu corpo com a velocidade da hóstia,
Quero penetrar nas tuas entranhas
A fim de ter um conhecimento de ti que nem tu mesma possuis,
Quero navegar nas tuas artérias e confabular com teu sangue,
Quero levantar tua pálpebra e espiar tua pupila quando acordares,
Quero baixar a nuvem para que teu sono seja calmo,
Quero ser expelido pela tua saliva,
Quero me estorcer nos teus braços
Quando os fundamentos da terra se abalarem nos teus pesadelos,
Quero escrever a biografia de todos os átomos do teu corpo,
Quero combinar os sons
Para que a música da maior ternura embale teus ouvidos,
Quero mandar teu nome nas flechas dos ventos
Para que outros povos te conheçam do outro lado do mar,
Quero forçar teu pensamento a pensar em mim,
Quero desenhar diante de teus olhos
O Alfa e Ômega nos teus instantes de dúvida,
Quero subir em ramagem pelas tuas pernas,
Quero me enrolar em serpente no teu pescoço,
Quero ser acariciado em pedra pelas tuas mãos,
Quero me dissolver em perfume nas tuas narinas,
Quero me transformar em ti.
(Murilo Mendes: A Poesia em Pânico. 1936-1937)
Roubado do SUBROSA
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