NA ESCOLA DOS TIRANOS
...UNS QUE CONHECEMOS
“Enquanto sofrerem o seu império, serão irreconhecíveis, presas de uma embriagues diferente de todas as outras. Tudo mudará neles, até o timbre de voz. A ambição é uma droga que faz um demente em potência daquele que se lhe entrega. Esses estigmas, esse ar de fera desvairada, essas linhas inquietas, e como que animadas por um êxtase sórdido, quem não os tiver observado em si próprio nem em outrem permanecerá estranho aos malefícios e aos benefícios do Poder, inferno tónico, síntese de veneno e panaceia.”
E OUTROS...QUE SOMOS?
E o povo?, dir-se-á. O pensador ou o historiador, que usar este termo sem ironia ficará desqualificado. O “povo” – sabemos demasiado bem a que está destinado o povo: sofrer os acontecimentos, e as fantasia dos governantes, prestando-se a desígnios que o afetam e oprimem. Toda a experiência política por mais “avançada” que seja, se desenrola a expensas suas, dirigindo-se contra ele: o povo carrega os estigmas da escravidão por mandamento divino ou diabólico. (...)
Não há chefe de Estado nem conquistador que o não despreze; mas ele aceita esse desprezo, e dele vive.
Deixasse o povo de ser apático ou vítima, deixasse de assistir simplesmente aos seus destinos, que a sociedade se dissiparia, e com ela a história sem mais (...)
Tal como é, é um convite ao despotismo. Suporta as suas provações, por vezes solicita-as, e só se revolta contra elas para se precipitar noutras novas, mais atrozes do que as antigas. Sendo a revolução o seu luxo, lança-se nela, não tanto para disso extrair alguns benefícios ou melhorar a sua sorte, como para adquirir também ele o direito a ser insolente, vantagem que o consola dos seus vexames habituais, mas que perde assim que são abolidos os privilégios da desordem.
Como não há regime que lhe garanta a salvação, acomoda-se a todos e a qualquer um.”
EMILE CIORAN
HISTÓRIA E UTOPIA
O SORRISO DE PANDORA
“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja.
Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto.
Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado
Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “
In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam
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