O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, dezembro 18, 2003

“Grave no nosso conformismo, não é só o facto de vivermos todos, até certo ponto, involuntariamente segundo a vontade dos outros. O realmente perigoso é que a partir do momento em que vivemos, por assim dizer, fora da nossa corporalidade, começamos a temer a liberdade que acordou, de repente, pela manifestação do nosso sentido individual primitivo. Todos nós desejamos ser livres mas, ao mesmo tempo, estamos em vários sentidos comprometidos com o poder, desejando o reconhecimento e os louvores dos seus detentores. Isso condena-nos a procurarmos eternamente a aprovação da mesma gente que nega as nossas verdadeiras necessidades.”
In "A traição do eu - o medo da autonomia no homem e na mulher", de ARNO GRUEN

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Passando este discurso para o feminino, isto é ainda mais exacto que no sentido do humano em geral, uma vez que os homens são os detentores do poder ainda e a mulher lhe está completa e inconscientemente (na maior parte dos casos) submetida, e por esta razão é mais afectada do que o homem em geral...

Assim, denunciar o conformismo com que nós mulheres nos limitamos a gerir o nosso desconforto e sofrimento inerente a essa luta, desejo de autonomia e necessidade compulsiva de agradar ao Poder, é fundamental para um movimento de consciência da nossa corporalidade, não enquanto objectos de prazer ou de procriação, mas de indivíduos completos. Luta agravada pelo facto de o poder pertencer aos seus filhos, pais e maridos, que a breve trecho as anulam pela ordem vigente e pela lei, nomeadamente sobre o “ABORTO” em que decidem mais uma vez sobre o corpo e a vida de quem não lhes pertence, A MULHER, nomeadamente, na voz de padres estéreis, políticos misóginos e até homossexuais camuflados que decidem ou pretendem decidir pelo que diz exclusivamente respeito às mulheres!

As mulheres são as suas Mães, de todos, desmamaram-nos! E elas mais do que ninguém têm a qualidade inerente e a sabedoria inata de decidir quando devem ou têm de optar pelo aborto. E nunca em momento algum, salvo situações de crime óbvio, podem ser julgadas pela sociedade masculina e patriarcal, pois o homem não participa nas dores nem do sofrimento da mulher! Ele, quando muito, usa-a ou serve-se dela e propaga uma economia em família de acordo com interesses do estado e raramente como ser humano amoroso ou respeitador da liberdade da mulher. Aqui não está em causa se há pais extremosos ou não, nem lhes nego o papel activo de pais, mas nunca de censor ou mentor da mulher!!! Companheiro sim, juiz NUNCA!

Mas a minha revolta vai para toda e qualquer figura de homem político, qualquer partido ou movimento religioso que se interponha entre a liberdade e a afirmação da mulher enquanto ser autónomo. De qualquer modo, como é óbvio, o homem político e religioso só entra nessa questão porque a mulher está completamente sujeita às leis do estado e à moral religiosa vigente, ainda independentemente da lei poder estar bastante evoluída no nosso país, ela não corresponde à realidade das mulheres inferiorizadas à partida e exploradas, caladas pelo medo e pelos preconceitos! (...)

(Excerto de artigo publicado na Revista Espaço & Design)

Leia a continuação do artigo em MELUSINE

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