O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, outubro 01, 2004



Procurarei por mim de novo, perdida de ti ou da tua imagem
à qual vivi, na esperança de abrigo e descanço, ancorada...
Por tão pouco tempo dançou o meu barco nas tuas vagas...

De novo o meu coração deambulará à deriva na procura de uma miragem...
Ou do espelho que me devolva o meu reflexo nas águas matriciais
ou ainda a ilha encantada que em ti julguei ter encontrado...

Era falsa a tua ilha, a tua imagem, quimera desfocada...
e a mentira inflamada de um engano mais, deu-te corpo por empréstimo.
Eras afinal ainda um erro meu, por errâncias forçado...

No meu sempre à deriva andar de credo em credo...

Procurarei agora mais fundo em mim e só na minha alma o Verdadeiro Eco
e o gesto puro da ternura que me salve sem omissões nem rescaldos.

(Anónimo)

"Ergo a cabeça de sobre o papel em que escrevo... É cedo ainda. Mal passa o meio-dia e é domingo. O mal da vida, a doença de ser consciente, entra com o meu próprio corpo e perturba-me. Não haver ilhas para os inconfortáveis, alamedas vetustas, inencontráveis de antes, para os isolados no sonhar! Ter de viver e, por pouco que seja, de agir; ter de roçar pelo facto de haver outra gente, real também, na vida! Ter de estar aqui escrevendo isto, por me ser preciso à alma fazê-lo, e, mesmo isto, não poder sonhá-lo apenas; exprimi-lo sem palavras, sem consciência mesmo, por uma construção de mim próprio em música e esbatimento, de modo que me subissem as lágrimas aos olhos só de me sentir expressar-me, e eu fluísse, como um rio encantado, por lentos declives de mim próprio, cada vez mais para o inconsciente e o Distante, sem sentido nenhum excepto Deus."

Fernando Pessoa, O Livro do Desassossego

1 comentário:

Anónimo disse...

Acabei de assistir na TV, aqui em Savador-Ba., a uma entrevista com a escritora moçambicana Paulina Chiziane.

Fiquei impressionado com a sua lucidez, com a sua visão de lince adejando por sobre a África, nossa Mãe África.

Gostaria de mnter contato com Pauline Chiziane. Meu e-mail: mantonio09@gmail.com
Grato,