O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, outubro 05, 2004

QUANDO A VERDADEIRA VOZ DAS MULHERES?

"As mulheres estão sempre a falar sobre as relações humanas porque estamos programadas nesse sentido. Quando vimos ao mundo, trazemos a memória na nossa alma que nos diz que essa é a nossa função aqui na terra. Não é a nossa fraqueza, a nossa neurose, a nossa dependência. É a nossa força. E quando o poder da nossa válida voz nos é negado, não somos nós apenas, mas o mundo todo que sofre."

in O VALOR DE UMA MULHER
de Marianne Williamson


"Agora, o diálogo das vozes é um novo e duro corpo a corpo: uma batalha que se desenha".

“A mulher afirma-se pela fala, tem uma capacidade de verbalização característica, tanto pela positiva, como pela negativa. Como o homem sabe disso, manda-a calar. O falar parece ser, às vezes, uma substituição do pensar, mas não: trata-se da expressão de um pensamento. Há um pensar que leva a agir, um pensar que leva a falar, um pensar que leva ao silêncio. Esse é o pensar profundo que se transforma em acto e obra. A tagarelice é o pensar que não assentou.
A tradição obrigou a mulher a ficar dentro de uma caixa de vidro na qual era visível, mas não audível. Então ela falou desesperadamente, mas sem qualquer efeito. Quando partiu essa prisão de vidro, a sua voz transformou-se num acto revolucionário. A mulher moderna é o efeito dessa explosão, da saída da clausura que é a casa, a família, a beleza obrigatória. Quando toma a palavra, rompe essa teia que a envolvia numa rede de silêncio e de idealização. A mulher não é a Eva, representativa da origem do mal da humanidade, nem a figura platónica que o petrarquismo elevou a ídolo.

“No tempo actual, a voz da mulher junta-se ao coro de vozes discordantes da humanidade, tendo outras raízes - é uma flor gritante que vai dar frutos, mas tem de se aperceber disso e pensar melhor na relação com o Outro. Já nenhuma parede de vidro a protege. Agora, o diálogo das vozes é um novo e duro corpo a corpo: uma batalha que se desenha. E no fundo, ela quer vencer, ser uma nova Amazona, mas não deseja perder um seio. Nem deve. Não deve perder a feminilidade, a singularidade do seu ser, a origem da sua criatividade específica. O seu contributo é o espírito. Mesmo quando se transforma em acto, a sua mão não deve esquece-se de que existe para colher e acolher. Essa é a capacidade específica da mulher: produzir, mas não reproduzir apenas. E o homem não pode ser o seu modelo”

O homem acusa a mulher de não pensar com a mesma estruturação que ele, como se isso fosse um defeito. Essa atitude masculina pressupõe que o sistema criado por ele próprio é o único válido. A mulher tem a capacidade de compreender no concreto, de relacionar. Tem aí uma palavra a dizer.
Não sou feminista. Sou antropologicamente lúcida.”


ANA HATHERLY
in DIÁRIO DE NOTÍCIAS

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