"Comparados com os milhões de mortos do terrorismo convencional, os 140.000 mortos de Hiroshima e Nagasaki não sobressaem, a não ser pela novidade técnica da arma, para eles com certeza indiferente"
Vasco Pulido Valente, PÚBLICO, 14-8-2005
CARTA ABERTA A UMA MULHER DO OUTRO LADO DO OCEANO
Li a sua resposta anterior e fiquei bastante consternada com a sua situação e por ela me espelhar a situação de tantas mulheres no mundo...e claro que há poucas mulheres que têm a consciência que você tem nessa mesma situação e que vivem anestesiadas pelas telenovelas e as modas (se tiverem dinheiro claro), e por isso o sofrimento, no caso das mulheres conscientes da sua prisão, é maior e eu compreendo-o e sinto-o "na pele" (da alma). Sei pelo que possa e sem saída, nem possiibilidade de mudança o que o torna mais doloroso ainda.
Vi a minha mãe sofrer toda a vida a mesma situação com o meu pai...e nem a ela eu pude ajudar. Lembro-me de ela me dizer um dia quando eu tinha vinte anos e falava da libertação da mulher que se eu lhe tivesse dito o que estava a dizer há dez anos atrás isso poderia ter mudado a sua vida, mas que naquele momento já era tarde...Fiquei marcada por isso e se não casei e tive filhos foi porque todo esse sofrimento que vi na minha mãe me impediu de fazer a mesma asneira...mas agora sou eu que estou quase "velha" e sem força e sem ninguém...não tive filhos e às vezes penso, se tenho pena ou não, apesar da sua ingratidão muitas vezes e incompreensão deles sobre as "mães" - os seus filhos se calhar não vêm em si a mulher que você é nem como pensa e deseja, mas apenas a mãe que trata da casa e faz a comida...e pensam que é meio "boba"...Portanto posso pensar que não ganharia nada em ter filhos, mas o trabalho a que me dediquei e esforço para me manter independente sem qualquer ajuda social é por vezes muito difícil. A vida das mulheres sós não é facilitada em nada!!! É preciso muita coragem e força interior para andar para a frente...às vezes sucumbo, como é o caso quando fico doente. Não posso viver do que escrevo - os meus livros não se vendem, porque não falam de coisas banais, de enredos sentimentais...- e portanto tenho de trabalhar e fazer uma coisa que não gosto, ser “escrava” de uma rotina e de um horário...
Depois, também a crise mundial, o estado global de miséria e caos que a terra vive, não ajuda... A vaga de calor, os fogos, os fogos postos por mão humana...a seca...ou as cheias, as guerras (terroristas ou aliados) a fome no Niger ou no Ruanda e toda a loucura dos homens sobre o planeta não nos inspira. A ameaça constante de uma bomba nuclear...
E o “Vai-e- Vem” no espaço para quê?
Aterrou na terra quando o Japão “celebrava” os 60 anos da Bomba Atómica sobre Hiroshima e Nagasaqui...
Como foi possível fazer essa experiência sobre milhares de seres humanos inocentes, em nome de quê?
E quem são os terroristas afinal de contas? Os que deitam fogo às árvores do meu país, os que deitam bombas noutro país, os que se suicidam eles mesmos e levam com eles centenas de pessoas? Não serão todos os mesmos?
UMA CIDADE SUBMERSA...
E agora quem são os americanos de Nova Orleãs, vítimas do furacão? Os brancos que fugiram, os pretos que ficaram, os que pilham e matam, os que morreram e apodrecem contaminando as águas, ou os soldados que defendem a cidade de armas de porta em porta, COMO SE ESTIVESSEM NO IRAQUE?
COMO É QUE É POSSÍVEL Haver ainda Exércitos que são mantidos na ideia de um "inimigo" que nos invada, que nos ataca? Porque vivemos ainda com esse fantasma perseguindo um inimigo que afinal está dentro de cada casa, dentro de cada um de nós? Quando o mal acontece dentro dos próprios Países com os desastres as intempéries e os crimes, os fogos postos, a negligência, a violência doméstica?! Não valia mais haver apenas um Exercito de Proteção Civil?
Para que servirá um Ministério da Defesa? Defesa de quê? Dos extraterrestres que hão de vir um dia?
Para que nos servem Submarinos e armas sofisticadas, ou Tanques e Porta-Aviões, Bombas Mães, só para os GOVERNNOS e os generáis brincarem e matarem inocentes nas suas rivalidades e interesses de vendas de armas, PARA DEFENDEREM AS 500 FAMÍLIAS QUE DETÊM A RIQUEZA DO MUNDO?
Milhões de dólares gastos que serviam para alimentar as 1200 crianças que morrem POR HORA de fome no mundo, QUANDO afinal os Países são destruidos também por "terroristas" invisíveis: furacões e tornados, terramotos e tsunamis...
Os homens são todos inimigos de si mesmos, estão divididos e fomentam o ódio ... Eles de tudo fazem guerra e vítimas, gostam da violência... e começam sempre em casa!
Começam nas mulheres e nos filhos, nos vizinhos...
Mas em contrapartida como acreditar nas mulheres se elas são impotentes ou alienadas e não podendo fazer nada, apenas sofrem e são vítimas dessa brutalidade, continuando a ser traficadas e prostituidas em todo o mundo, violadas?
Como nesta desordem e desolação mundial manter a esperança e a fé na Deusa e na Grande Mãe...
Haverá um tempo em que a Mulher voltará a ser Senhora de si e Deusa e como tal respeitada e amada? Haverá um tempo em que a Terra será de novo cultuada como sagrada?
Luto por isso mas como você diz é triste, pois as mulheres estão presas nos mitos da "Gata Borralheira", são prisioneiras dos seus próprios mitos e dos tabus que os padres lhes inculcaram e poucas parecem querer acordar que não seja com o beijo do príncipe-sapo...Só mais tarde quando tiverem caído a armadilha como você viu e percebeu tarde demais, compreendem o erro do seu sonho e que em vez de despertarem de um sono antigo para O Amor Infinito da Deusa, o sonho do Principe apenas se transformou em pesadelo...
Há séculos que é assim com as mulheres...
- JÁ AGORA PERGUNTO, PORQUE SERÁ QUE TODOS OS FURACÕES TÊM NOMES DE MULHER?
O SORRISO DE PANDORA
“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja.
Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto.
Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado
Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “
In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam
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