O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, janeiro 21, 2012

OS ESTADOS DA ALMA


Hoje acordei a meia da noite, como vem sendo meu hábito…e fiquei a pensar em como se confunde tão facilmente os estados de alma, os estados do SER com a sentimentalidade, com as emoções básicas e superficiais. Porque as há ou são essas e não as outras que predominam. A mesma coisa acontece com a dor…Não podemos confundir a dor com o sofrimento…A dor da alma ou a dor do Ser em si nada tem a ver com o sofrimento comum que tantas vezes é mero orgulho ou estupidez humana…sofre-se por apego e por vaidade, por perder algo ou alguém, na maioria dos casos. É óbvio que não falo aqui do sofrimento pungente vivido na pele das pessoas que tem  uma doença grave, que têm fome e vivem na miséria ou que vivem qualquer tipo de violência ou em guerra, para que isto fique bem claro.


É difícil para algumas pessoas neste mundo, que olham tudo de forma tão superficial e amalgamada, no sentido em que hoje confundimos tudo, valores e princípios, hormonas e nervos, desejo sexual e anseio da alma, de uma maneira atroz… pautando tudo por baixo, ao nível animalesco quase…COMPREENDER O QUE SEJAM ESTADOS DE ALMA.
Sim, julgar ou pautar as emoções profundas, sentimentos elevados, face a beleza que se manifesta, seja ela exterior ou interior, ou a emoção de um estado alterado, revelador de cambiantes insuspeitáveis da vida… com…tesão ou o apaixonamento…com a paixão ou a carência, sempre sintoma de falta de amor-próprio ou de consciência de Si…coisa muito comum nas mulheres, É QUASE ABERRANTE! Choca-me a leviandade e a superficialidade como lemos esses estados de alma nos outros e os confundimos com a sentimentalidade habitual das novelas e romances…na qual estamos normalmente aprisionadas. Não estou a rebaixar os sentimentos básicos. Estou simplesmente a diferenciar os estados de alma dos estados de carência e os apetites do corpo…


Digo isto a propósito de ontem ter escrito que me doía a alma ao acordar com uma enorme vontade de chorar...uma pungente nostalgia de amor ardente...de sentir o meu coração pleno...Sim isto são coisas que não se dizem normalmente porque as pessoas têm medo de revelar a sua intimidade como se fosse algo de escabroso, com medo de serem julgadas e porque se sentem inseguras de si.  Mas eu disse exactamente o que queria dizer “porque eu sei que a minha alma anela por voltar ao seio da Grande Mãe e tornar realidade a sua Vontade...que é de Paz e Amor interno e eterno...” e sempre que esses estados diria de Graça e de revelação me acontecem eles me conectam com a alma do espírito…com a Deusa em mim. São estados numinosos, estados que me aprazem e o choro e as lágrimas que rolam pela face são pérolas, dádivas do divino em nós…Sempre que isso me acontece é pronúncio de uma abertura de consciência maior para o meu coração e para a vida plena…Anelo por esses estados e tudo faço para que no silêncio ou na solidão eles me possam surpreender e responder ao apelo da minha alma e à sede do meu coração… E partilho-os porque estou segura de que há um eco e uma compreensão profunda da parte de algumas das irmãs (hesito em escrever irmãs ou amigas…) que nos acompanham aqui mesmo que essa não seja a interpretação da mente de quem não entende o coração inteligente nem a emoção pura, estética, suprema, e faz da dor uma coisa ora tragicamente leviana e superficial, ora dramática ou sado-masoquista…

Esses estados de alma que nos mergulham na essência do ser, nada têm a ver com o estar apaixonada por alguém, como alguém me sugeriu ontem para meu espanto…não que eu não compreenda a questão humana…Não. Eu sei que esse é o foco das mulheres todas…apaixonar-se é tudo o que sabem fazer para sentir vida e amor…mas da mesma maneira que caiem (fall in love) literalmente no amor…do outro, da mesma maneira se enterram no vazio cada vez maior ou no desespero de perda ou no sofrimento cego do apego, à medida que esse “amor “ se esvai…nos trai nos engana e violenta…E justamente eu escrevia, a meio da noite…que todos os acasos “amorosos” são mais ou menos  e ao fim de um certo tempo, enganos…consentidos e alimentados pela nossa mente e pela nossa cultura. E a maneira como as pessoas estão neste mundo, nomeadamente as mulheres, apegadas à ideia obsessiva do amor do outro…como complemento que colmate o seu vazio de mulheres divididas, leva-as a acreditar em décadas de ficção cor-de-rosa e romances de cordel, a acreditar que esse amor é real e existe…e que existe algo em comum entre homem e mulher que os torne felizes…quando afinal décadas de engano e ilusões não provam nada disso, bem pelo contrário; assistimos agora á grande derrocada de todas essas fantasias e ilusões ditas amorosas. A razão disso é que finalmente caminhamos para o encontro com o indivíduo, com o ser em si, com a alma…por isso nenhuma relação é viável e as pessoas continuam a forçá-las até à indignidade até à violência… E, à medida que envelheço, estou cada dia mais consciente de que as relações são quase sempre uma mentira senão mesmo uma espécie de promiscuidade…Sim, uma espécie de promiscuidade do ser consigo mesmo ao aceitar vivenciar a sua intimidade no seu corpo sem que a sua alma seja tocada e tocar o corpo do outro sem tocar a sua alma. Porque nunca ninguém nos toca a alma, a não ser no caso da “alma gémea” a existir uma alma gémea ou irmã…Mas nem nisso eu creio. A alma gémea é mais uma ilusão fantasmagórica projectada pelo indivíduo tal como o mito da felicidade, tal como a ideia do amor a dois…Claro, esta é apenas a minha visão pessoal…a minha experiência humana…

Deixo que pensem à vontade o que quiserem, e podem até discordar…e ficar chocadas com o que eu digo, mas creio que só as mulheres próximas da minha idade e da minha geração, diria, me compreenderão. Deixo às mulheres mais jovens a legitimidade de terem ilusões e desilusões e sofrerem como bem lhes aprouver…até se encontrarem a si mesmas e livre. Eu só falo por mim.



rleonorpedro

2 comentários:

B. Pendragon disse...

Sempre com reflexões magistrais e atemporais... É a primeira vez que comento aqui, pois só agora resolvi criar um blog :) Mas sou fã de suas publicações. Um abraço caloroso, minha gentil senhora.

rosaleonor disse...

Não sei se vai ler esta mensagem, mas só hoje a vi e agradeço do fundo do coração o seu comentário. Grata!

rleonor