UMA reflexão emocional...
(…)
"O afeto diz respeito essencialmente à fenomenologia e a emoção diz respeito à fenomenologia ou à psicologia. Se eu retornar a essa questão, vou sem dúvida abordá-la a partir da clivagem traumática, (…): clivagem onde está em jogo uma tentativa de destruir a "parte sensível"; portanto essa destruição apoia-se numa estratégia de negação, que é cúmplice da delimitação de um campo intelectual. É sobretudo nesse contexto que encontro a questão do afeto no trabalho clínico: a aparente insensibilidade após a evocação de experiências intoleráveis. Portanto é o afeto abortado, enterrado, mais do que o afeto se manifestando na emoção, que me interessa essencialmente. Não obstante, a estrutura emocional será encontrada no seio do trabalho que o afeto anestesiado efetua na tentativa de reavivar-se, graças às condições trazidas pela escuta. “
- M. Schneider - Psicanalista
Todos estes aspectos correlacionados com a psicanálise, como forma de abordagem do trauma e sofrimento do ser humano e a sua cura, nos mostram a falta de relação com os aspectos fundamentais da vivência da pessoa, neste caso a mãe, porque sem qualquer conhecimento de causa da sua possível origem, remontando aos fundamentos da vida humana e a representatividade da Mãe como fonte inicial de afecto e amor e base emocional de toda a estrura mental e psicológica do ser humano. Justamente a partir dessa falta, que é a negação histórica e cultural do princípio feminino e do valor intrínseco da mulher, quer como mulher em si quer como mãe, que reflecte obviamente a falta de confiança das mulheres em si mesmas como mulheres e enquanto mães, e portanto na educação da criança também. Uma mulher que é fragmentada e amputada de parte de si precisamente a parte que representa como sensível, deixa de o ser para se tornar, vítima de experiências intoleráveis, e incapacitada para manifestar a sua natureza própria!
Daí a insensibilidade e a negação do afecto, que leva como consequência à doença à neurose à psicose…à violência e ao crime!
Este trecho mostra ainda a alienação da mulher académica da sua própria natureza ontológica e vemos até que ponto as mulheres, mesmo as psicanalistas conceituadas se baseiam na análise, no positivismo e no pensamento cartesiano e portanto o quão longe estão dessa essência da mulher e do seu papel na formação de um novo ser. Como desconhecem que o ser mulher representa exactamente a parte sensível da humaniade, a parte emocional do ser e a sua dimensão espiritual...e que ao ser violentada na sua essência isso recai directamente sobre a sociedade.
Isto mostra o quão redutora é a psicanálise e a ciência ao separar os vários aspectos do ser...
“O afeto diz respeito essencialmente à fenomenologia e a emoção diz respeito à fenomenologia ou à psicologia.” A autora coloca assim, o afecto e a emoção em campos diferentes….e vê o afecto ligado essencialmente à fenomenologia e a emoção mais à psicologia…Vemos neste excerto (de uma entrevista feita à autora) que a questão da emoção e afecto para ela se situa entre a psicologia e a filosofia…portanto ao nível da análise e da mente.
Começa de facto em crianças, a destruição da parte sensível nos homens e mulheres...
Essa destruição na verdade começa na "educação" da mulher impedida de ter acesso a sua essência e à impossibilidade de ser um indivíduo, transformada ou condenada a ser esposa e mãe, sempre em detrimento da sua afirmação como pessoa e indíviduo...e quando o ousa ou consegue é condenada de outra forma, mais redutora ainda ou violenta como é o caso da mulher livre que não se submete a um só homem por contracto (o casamento) e acaba como prostituta...
A sociedade paternalista e patriarcal coloca a mulher num papel exclusivamente de servir o homem e a família e a sociedade por acréscimo, sem a considerar como pessoa antes. A mulher, toda a mulher é condicionada, muito mais do que o homem, a servir como suporte do lar e da família e enquanto o homem produz (trabalha como escravo) ela procria e cuida dos filhos; mais do que isto, hoje em dia, as mulheres são enganadas, com as suas famosas conquistas de suposta liberdade, que são afinal de contas apenas mais o acréscimo de ter de serem ainda a trabalhadora e também sustentar a casa e a ama ou a creche e ainda manequim...sempre em função de uma função sexual/prazer/reprodução/produção...
Em suma, uma Mulher que não se ama, que não se sente respeitada, que não conhece a sua identidade, que não têm uma individualidade, NÃO PODE TER AMOR NEM DAR AFECTO...
Talvez pareça muito complexa a questão aos olhos do psicanalista ou do cientista que disseca e separa as coisas e os factos, mas o que realmente traumatiza e fere o indivíduo e o priva de afecto, à partida é o ataque à sua integridade desde que ele nasce, e o que mais o marca é sem dúvida a ausência do afecto de uma mãe confiante e equilibrada, uma mãe amada…uma mãe enquanto suporte e fonte de equilíbrio emocional. Ora se a mãe é ferida na sua essência, coarctada desde que nasce na sua liberdade de ser quem é, de se expressar enquanto ser independente, permanecendo subalterna do homem e a ele subjugada, em quase todas as sociedades, não pode na maior parte dos casos ser boa mãe ou garantir uma emocionalidade normal à criança… "Portanto é o afeto abortado, enterrado, ” na mulher primeiro, através dessas “experiências intoleráveis” e não podendo dar o seu afecto à criança, acaba por ser a criança quem paga todo o seu desamor e frustração emocional…. e assim a sociedade patriarcal, que, ao renegar os valores do feminino gerou uma sociedade de seres traumatizados porque sem mãe e sem afecto genuino… e serão elas por sua vez como vítimas dessas “experiências intoleráveis” que as vão propagando assim de pais para filhos…até que um novo paradigma substitua este velho e violento paradigma das sociedades falocráticas, que vê nas armas e na violência a forma de se vingar da sua falta de afecto, auto-estima e amor…
Sem Mãe a sociedade está votada ao declínio e foi isso que o poder falocrático conseguiu no mundo ao impor um Deus Pai e anular a Deusa Mãe e o feminino por completo.
rlp (2008)
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