DA SERPENTE A IMACULADA
“...e neles agindo sem cessar…”
Esta região do Tejo,
detendo então no eneolítico acentuado carácter duma civilização crida à volta
da figura da Grande-Deusa, ela se expressará por formas circulares: túmulos,
tholoi, povoados fortificados igualmente circulares, como suas torres; e por
todos os objectos de culto, apontando para uma região da Deusa lunar, da
fertilidade (…). Tudo nesta região, neste período nos mostrará a criação e a
expansão dos símbolos dum mesmo mitologema da nossa humanidade pré-histórica já,
ou ainda, à obra entre os meados do terceiro milénio e os meados do segundo milénio
antes de Cristo.
Posteriormente, será ainda
outra forma de vaso, como símbolo feminino de vida, fertilidade e ressurreição,
agora sob sua forma cristianizada, o que estará no centro dessa aventura mística
que ocupou o homem português medieval, a Demanda do Santo Graal. Símbolo de
aventura interior que ele levou consigo na sua expansão além Atlântico. E que
no Brasil perdura ainda ao vivo nos nossos dias.
E foi ainda o mesmo símbolo
feminino e aquático a concha, pertencente ao mesmo complexo da Deusa-Mãe, e ele
tão abundante no nosso espólio dolmético, como elemento desse seu complexo de
mulher, água, lua e fecundidade, o que teria marcado e representado toda a
aventura religiosa e social a mais potente, dinâmica e de carácter ecuménico,
que esta terra galaica criou, ainda e também na Idade Média: as Peregrinações
se Santiago de Compostela.
E seria ainda o mesmo mito
de reintegração à unidade primordial, através da mãe ou amante, pelo amor ou
pela morte, ou pelo amor-morte, ambos identificados, o que está, significativo
e estruturante, no cerne de outra das maiores criações desta terra galaica, a
poesia trovadoresca – e que por ela a identifica e singulariza.
E se a deusa lunar tripla,
desde o neolítico neste território e no fundo dos seus tempos em que se
organizou como sociedade estável ligada ao seu solo, nos apontará para o arcano
da saudade, como forma de mito da reintegração, a mais específica da sua alma,
este seu símbolo do vaso que percorre a pré-história e vem até a sua Idade Media,
nos apontará ainda para o mesmo mito.
Na mitologia, arqueologia, poesia
e lendas dos portugueses as Mouras, Sereias, nereidas e Ninfas representam a
mais abissal descida ao nosso estracto anímico e histórico, em unanimidade com
a primeira referência escrita conhecida sobre o nosso território e sal humanidade,
que assim iniciou nossa próto-história. Desde a época megalítica, passando pelo
século VI a. C., até aos nossos dias, numa mesma natureza ofídica, aquática, ctónica,
infernal e oracular, estará aqui impressa neste território e sua humanidade; e
neles agindo sem cessar.
DA SERPENTE À IMACULADA
Dalila l. pereira da costa
1 comentário:
E seria ainda o mesmo mito de reintegração à unidade primordial, através da mãe ou amante, pelo amor ou pela morte, ou pelo amor-morte, ambos identificados, o que está, significativo e estruturante, no cerne de outra das maiores criações desta terra galaica, a poesia trovadoresca – e que por ela a identifica e singulariza.
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