O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, novembro 19, 2012

QUE MULHER SOMOS?



A OUTRA MULHER QUE NÃO FOMOS...
 
Lilith é a parte íntima de nós...porventura a mais íntima, e precisamente por isso nada tem a ver por vezes com a nossa vida exterior, ou a nossa vida em família, a que cumprimos no nosso papel de mães e esposas ou avós...e rara é a mulher que pode dar-se ao luxo de a poder expressar entre "os seus"...porque ela é e foi sempre a parte proibida e recalcada da mulher...

Raramente a mulher pode dizer o que sente e como sente...isso fica por conta das depressões e das angústias e por isso recorre tantas vezes à capa da doença...para exprimir o seu desgosto ou tristeza, a sua raiva da vida e empolar o sofrimento que só de si já era bastante. Isso ao ponto de a dor e a frustração nela se transformar mesmo em doença sinal do seu desespero e falhanço como mulher que se sentia no seu âmago...Assim, não só legitima a suas queixas como pode ter até a atenção que nunca teve...
 
A MULHER QUE NÃO FOMOS E PODIAMOS TER SIDO
ESTÁ NA ORIGEM DE TODOS OS NOSSOS MALES...

Isto pode parecer cruel...e acusatório, mas não é...pois é através da consciência das causas do mal estar endémico da mulher  e das suas ditas manias e esquisitices, as famosas “coisas de mulheres” que sempre nos apontaram como marcas de uma debilidade qualquer…que nós podemos perceber o que está em causa nas nossas vidas e foi o drama das nossas avós e mães tias e até irmãs…para começar, esse recalcamento da verdadeira natureza da Mulher condicionando-a assim a ser mãe apenas ou esposa dedicada e anulada para os seus sentimentos emoções e desejos, foi uma educação de milénios…e que ainda sofremos dela…mesmo que julguemos que não.
No fundo oculto das nossas dores e são tantas e têm tantos nomes – depressão, histeria, esquizofrenia, mialgias, bipolaridade, cansaço, sindromas vários e inexplicáveis…- está a a nossa divisão intrínseca de mulheres fragmentadas, básicamente  em duas espécies viradas umas contra as outra… a esposa legítima a do contrato e a outra a amante a puta de epíteto…excomungada acusada afinal porque representa o oposto da sua frigidez de dona de casa…E mesmo que agora as donas de casa virem prostitutas assim como as prostitutas virem donas de casa ou doutoras…só mudam os utensílios e o sado masoquismo…Daí o sucesso estrondoso (não, não é cordel, é de bordel) do livro pornográfico ou pseudo erótico da "escritora de bordel" E.L. James (“De um dia para o outro, As Cinquenta Sombras de Grey tornou-se sensação entre o círculo das mães jovens e atraentes e chegou ao top dos bestsellers do New York Times. Este romance erótico pôs as gravatas cinzentas no primeiro lugar da lista de compras de muitas esposas, na esperança de que os respectivos maridos viessem a imitar a personalidade obsessiva, imperiosa e intimidante de Grey, com muitas a admitirem que o livro lhes despertou um desejo intenso por sexo com os companheiros.”)


E agora "as donas de casa desesperadas" querem todas ter a ousadia das prostitutas que odiavam ou tanto invejavam…mas isso não é senão inverter as coisas…não há integração das duas mulheres antes divididas entre a santa e a puta, há uma mera inversão de valores, mas a dicotomia permanece dentro delas nem que seja só no inconsciente.

Ah! Acreditem-me: o ódio ancestral das mulheres umas contras as outras está bem vivo…ele é patente nuns casos disfarçado noutros desencadeado na injúria e no ódio visceral a mulher que exprime a sua sombra e é o prazer e a liberdade de ser…

 Os arquétipos de Maria madalena e a Virgem Santa são as duas coordenadas desse "guerra santa" que o catolicismo criou entre as duas mulheres…a amante…e a mãe que o homem comum ainda mantêm…na mulher que "respeita" em casa e na mulher que “deseja" e despeja... o ódio, fora do lar…

Não se atrevam a dizer-me ou a murmurar que não é assim…porque é mesmo assim…que se passa e ao vivo dentro desta espiritualidade “nova era” e dentro das casas de artistas e intelectuais média - classe…

 

rosaleonorpedro

1 comentário:

Anónimo disse...

Sim, a animosidade entre as mulheres é o que mais me entristece.

E assim vai se tornando um círculo vicioso, pois nos tornando "inimigas" completamos a manipulação sutil.

A mulher completa é uma ameaça e assim somos vistas.