O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, novembro 13, 2012

A DEUSA-MÃE - O CÁLICE


DA SERPENTE A IMACULADA

 

“...e neles agindo sem cessar…”

 

Esta região do Tejo, detendo então no eneolítico acentuado carácter duma civilização crida à volta da figura da Grande-Deusa, ela se expressará por formas circulares: túmulos, tholoi, povoados fortificados igualmente circulares, como suas torres; e por todos os objectos de culto, apontando para uma região da Deusa lunar, da fertilidade (…). Tudo nesta região, neste período nos mostrará a criação e a expansão dos símbolos dum mesmo mitologema da nossa humanidade pré-histórica já, ou ainda, à obra entre os meados do terceiro milénio e os meados do segundo milénio antes de Cristo.

Posteriormente, será ainda outra forma de vaso, como símbolo feminino de vida, fertilidade e ressurreição, agora sob sua forma cristianizada, o que estará no centro dessa aventura mística que ocupou o homem português medieval, a Demanda do Santo Graal. Símbolo de aventura interior que ele levou consigo na sua expansão além Atlântico. E que no Brasil perdura ainda ao vivo nos nossos dias.

E foi ainda o mesmo símbolo feminino e aquático a concha, pertencente ao mesmo complexo da Deusa-Mãe, e ele tão abundante no nosso espólio dolmético, como elemento desse seu complexo de mulher, água, lua e fecundidade, o que teria marcado e representado toda a aventura religiosa e social a mais potente, dinâmica e de carácter ecuménico, que esta terra galaica criou, ainda e também na Idade Média: as Peregrinações se Santiago de Compostela.

E seria ainda o mesmo mito de reintegração à unidade primordial, através da mãe ou amante, pelo amor ou pela morte, ou pelo amor-morte, ambos identificados, o que está, significativo e estruturante, no cerne de outra das maiores criações desta terra galaica, a poesia trovadoresca – e que por ela a identifica e singulariza.

E se a deusa lunar tripla, desde o neolítico neste território e no fundo dos seus tempos em que se organizou como sociedade estável ligada ao seu solo, nos apontará para o arcano da saudade, como forma de mito da reintegração, a mais específica da sua alma, este seu símbolo do vaso que percorre a pré-história e vem até a sua Idade Media, nos apontará ainda para o mesmo mito.

Na mitologia, arqueologia, poesia e lendas dos portugueses as Mouras, Sereias, nereidas e Ninfas representam a mais abissal descida ao nosso estracto anímico e histórico, em unanimidade com a primeira referência escrita conhecida sobre o nosso território e sal humanidade, que assim iniciou nossa próto-história. Desde a época megalítica, passando pelo século VI a. C., até aos nossos dias, numa mesma natureza ofídica, aquática, ctónica, infernal e oracular, estará aqui impressa neste território e sua humanidade; e neles agindo sem cessar.

 

DA SERPENTE À IMACULADA

Dalila l. pereira da costa

 

 

1 comentário:

Ná M. disse...

E seria ainda o mesmo mito de reintegração à unidade primordial, através da mãe ou amante, pelo amor ou pela morte, ou pelo amor-morte, ambos identificados, o que está, significativo e estruturante, no cerne de outra das maiores criações desta terra galaica, a poesia trovadoresca – e que por ela a identifica e singulariza.