O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, novembro 27, 2012

O QUE É SUBMISSÃO...




A HIPERTROFIA DA CONSCIÊNCIA...
 
 
A submissão é uma qualidade que subentende o uso do poder e do domínio de alguém sobre outro. O que caracteriza o feminino é essa amplitude espacial, a terra que acolhe a semente, que necessita de germinar e desabrochar. Essa qualidade receptiva, que permite a expressão das sementes do vir-a-ser sem interferência directa (que é comum à natureza e a natureza da mulher*), tem sido muito mal compreendida e usada com instrumento de dominação. Esse acolhimento espontâneo permite, numa espera paciente, o nascimento de respostas criativas dentro dos seus mistérios insondáveis (mais uma vez que são os da natureza mãe e da mulher**). Nisso consiste a sua força dinâmica. A submissão, nesse sentido, é a expressão de uma realidade da natureza, qualidade indispensável a qualquer aspecto criativo. Mas dentro de uma mentalidade com a direcção exageradamente activa, controladora e manipuladora, esse aspecto adquire uma conotação pejorativa e perde a sua essencialidade, sendo esvaziada do seu sentido profundo.

Muitas das qualidades primordiais do feminino foram deturpadas do seu significado. Foram impostas outras significações, adequadas a uma mentalidade que valoriza o uso da força sobre o outro. O feminino viu-se reduzido ao fraco, ao submisso, ao incapaz. Essas atribuições pejorativas que lhes foram impostas passaram a ser usadas como mecanismo de controlo. A grande manifestação do feminino é a capacidade de colher, cuidar e nutrir em seu seio largo e inesgotável. Nesse seio da Terra-Mãe as coisas podem se desenvolver por si em todas as suas possibilidades, sem que ela nada lhes acrescente ou precise  fazer.

Porém, numa cultura com um desenvolvimento exagerado do aspecto masculino, as qualidades do feminino serão muito mal compreendidas. Será feito um uso inadequado, distorcido e tendencioso. A mulher passa a ser definida de acordo com as conveniências culturais. Ela, por outro lado, incorpora características que não fazem parte da sua verdadeira essência. Absorve atitudes psíquicas impostas através do condicionamento cultural que distorce intencionalmente aspectos do feminino e é usado como mecanismo de poder.

A submissão foi imposta ao feminino. As mulheres incorporam essa característica, que marcou profundamente a personalidade da mulher no mundo patriarcal. Fica garantida, assim, toda a repressão do mundo feminino, como uma necessidade social patriarcal na busca civilizacional que teme as forças da natureza. E assim o social se confunde com o essencial. Tudo o que vem da natureza tem de passar pelo escrutínio repressor patriarcal.

(…)

A visão da inferioridade feminina tem uma longa tradição histórica que perdura até hoje. Essa identidade feminina imposta a mulher, foi forjada cuidadosamente ao longo da história da cultura ocidental. Encontramos também na Génesis a origem da hipertrofia da consciência. Deus foi criado a partir da hipertrofia da consciência masculina, que nega e reprime aspectos do feminino, considerados inferiores.

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Raissa Cavalcanti

In O Casamento do Sol com a Lua

*/** os parênteses são  meus

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