Na filosofia pagã, Pandora não é a fonte do mal; ela é a fonte da força, da dignidade e da beleza, portanto, sem adversidade o ser humano não poderia melhorar. O nome "Pandora" possui vários significados: panta dôra, a que possui todos os dons, ou pantôn dôra, a que é o dom de todos/as (dos/as deuses/as).
...também significa a jarra (pithos) que “nada mais é que uma simples ânfora: um vaso muito grande, que serve para guardar grãos. Este vaso só fica cheio através do esforço, do trabalho no campo, seu conteúdo então simboliza a condição humana. Por consequência, será a mulher que a abrirá e a servirá, para alimentar a família.”
OUVIR A VOZ DA DEUSA, ou a voz da mulher ancestral
É OUVIR A VOZ DA TERRA, A VOZ DO ÚTERO!
Eu há dias acordei com esta frase na cabeça: a Mulher tem de voltar a ser fiel à Terra…e ser senhora de si mesma… Era um sentimento de premência e de força que me invadiu ao acordar e sentiu-o em todos os poros…Não se pode adiar o amor diz o poeta…e eu digo, NÃO SE PODE ADIAR A TERRA…ELA É A NOSSA MÃE…
Tudo depende dela, como todos dependemos da Mãe ao nascer, da sua força e poder… também agora a mulher pode e deve salvar o Planeta e empenhar-se na sua regeneração… só assim dará à luz uma nova Humanidade renascida das suas entranhas e da terra… A Terra é um corpo inteligente e nós respiramos o ar que a envolve e todos os seres vivos a respiram. A Terra é o nosso Matrimónio…o nosso Templo vivo…Nós não vivemos no Céu…é na Terra que nascemos e é a Terra que temos de honrar, ao contrário do que as religiões do deus pai dizem e que mais não fazem do que adiar a vida nas suas contingências e paradoxos…A vida plena tem as suas raízes na Terra e só sendo fiel à Terra Mãe podemos partir em paz e ascender aos céus…
E a Chave que se perdeu é a mulher. A mulher que foi apagada da história e da vida dos homens como ser individual e senhora da sua vontade…
A mulher que durante milénios cumpriu o pesado fardo de servir exclusivamente a humanidade homem na negação da sua individualidade ao serviço da espécie como mãe, mas em total sujeição ao homem. Cumpriu séculos de sujeição ao pai e ao filho. Agora é tempo de a mulher retomar as rédeas e voltar a servir a Terra e ser fiel à Deusa Mãe e a Natureza.
Por isso é urgente que a mulher acorde para si mesma, que desperte para uma nova consciência do seu SER em plenitude e para isso tem de se resgatar do fundo desse esquecimento de si mesma e do caos em que os homens a projectaram a si e à Terra…a Mulher tem de recuperar a sua memória celular, recuperar a sua identidade esquecida, a identidade que perdeu ao ceder ao homem o seu poder de cura e amor, o seu poder de amar e ser livre…o seu dom de visão e profecia, a sua alegria a mais genuína.
É inconcebível que a mulher só por ser mulher seja ainda castigada e estropiada, violada e morta nas guerras pelos homens em todo o mundo.
E fosse o que fosse que tivesse sido acordado pelas esferas superiores em relação à Mulher, nos céus ou na terra, pelos mitos ou nas histórias do mundo, nos eons, na roda das civilizações, ou nos ciclos da evolução da Humanidade, é tempo de a mulher ser respeitada por si mesma como ser individual e não colectivo e realizar o Matrimónio sagrado com a Deusa Mãe e consigo mesma, unindo-se à outra mulher-metade de si e da qual foi separada há milénios…
Durante milénios a mulher esteve submetida e incapaz de se erguer na sua natureza obedecendo aos padrões e leis do mundo apolíneo estritamente masculino na sua negação do ctnónico e do princípio feminino.
É tempo da mãe e da filha se unirem em vez de competirem entre si e lutar pelo homem. É tempo de a mulher se libertar das algemas do património e da escravidão do sexo.
É tempo de a mulher olhar para dentro de si mesma e descobrir o seu tesouro escondido, o seu tesouro sem fim, o “manancial fechado” que ela se tornou e abrir essa Caixa de Pandora, que ao contrário dos mitos que a anunciam como desgraças maiores causada pela Mulher – não pode haver maior desgraça do que a que os homens semearam na Terra – e que mais não fazem do que reflectir a milenar misoginia e medo ancestral da mulher, da sua força sensual e sexual, da seu poder magnético como fêmea, tal como o medo à força indomável da Natureza e que tanto assusta ainda os homens. Foi por esse medo e desejo de controlar o mundo ctónico que os homens reprimiram e condenaram a mulher, e a fecharam nessa Caixa de Pandora sob a ameaça de perigos medonhos... E assim, quer na religião quer o mito, fizeram pesar sobre a mulher a culpa do erro ou do pecado e dos males da humanidade, para a manter encerrada em si e calada, para a manter agrilhoada e incapaz de se defender ou agir por si mesma.
AO contrário do que muitos “espiritualistas”, guias e mestres antigos e modernos afirmam, não é verdade que a mulher sem caminhar no seu próprio caminho de retorno a si mesma, ao seu Útero e à Terra, para celebrar as suas núpcias secretas consigo mesma, possa evoluir e ser “igual” ao homem – não, eu não quero ser igual a este homem desnaturado - que quer ascender aos céus e ao cosmos, negando a sua natureza ctónica e a Mãe que o mantém no ventre o alimenta e lhe deu vida na Terra…
A mulher tem de reivindicar as forças telúricas para que ela e a terra sejam respeitadas, a Terra como um ente vivo, biológico e inteligente e não ser tratada como objecto de posse do homem cuja arrogância o leva a crer-se dono do mundo tendo-o dominado pela força e pela violência. Milhões de seres humanos mortos pela sua conquista de poder e acumulação de riqueza…
O Homem que desventra a Terra para lhe sugar o seu “sangue”…O Homem que explora a mulher como mãe dos seus filhos ou a prostitui, e a viola como despojo de guerra…
- A Mulher tem de descer ao abismo do seu ser ctónico, descer às raízes da Terra Mãe, mergulhar no seu Útero caverna gruta oráculo de Delfos, o umbigo da Terra Mãe e reclamar essa voz que se perdeu nos confins dos tempos…a voz das pitonisas, das sacerdotisas e feiticeiras e das Eríneas que eram deusas ao serviço da Mãe, e que por veredicto de Atena – a filha do pai - são transformadas em megeras e monstros, “bruxas” condenadas como criaturas pérfidas e mortíferas…
- A mulher que se encontra a si mesma, a mulher que acorda para o seu poder interno, torna-se na guardiã que mantêm os segredos da vida e da morte e não os teme e por isso é a mulher que tem de acordar os seus poderes para assim poder curar as suas próprias feridas e as do mundo… as feridas das mil batalhas e das guerras, as feridas das armas e das bombas, dos desastres nucleares, da violência perpetrada com que o Homem a feriu no seu ventre e a ofendeu de morte – tanto à mulher como a Terra – tal como matou em si o seu feminino tornando-se no déspota e no assassino… Ele fez da mulher a primeira escrava e depois o homem inferior… o escravo fraco também… dividiu o mundo em partes e dividiu as mulheres em escravas concubinas e meretrizes… Esse mundo que fez a cisão da mulher em duas espécies é o culpado da divisão hierárquica do mundo e a exploração de seres humanos em todo o planeta.
ROSALEONORPEDRO
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