"Só amamos quando aceitamos a absoluta solidão do ser,
quando reconhecemos que o outro não vai acabar com a falta que origina o nosso
desejo. Amar exige aceitar a precariedade dos laços, reconhecer-se separado
para ver-se ligado, conhecer seus limites para contemplar o outro. Amor é
devoção, é manifestar a gratidão por quem te faz sentir ligado, quando na
verdade somos sós. O amor é o presente de sentir que existe o laço com outro
ser, quando na verdade vivemos o abismo do abandono diante do mistério da vida
e da morte. Diante do milagre do amor, o outro é o altar onde eu celebro o
mistério. Devo tocá-lo com o cuidado que o sagrado exige. Nossa união deve ter
a delicadeza de um laço."*
Ando já há algum tempo para escrever sobre o amor e a sua
faceta na amizade...
Não há dúvida que
idealizamos imenso tanto o amor como a amizade...e quase sempre nos referimos
ao amor e à amizade idealizada, mas na verdade além da cada uma de nós ter os
seus conceitos e vivências, o amor entre as pessoas e a amizade é sempre muito
relativa...e falha, seja qual for a razão de uma das partes!É portanto um assunto muito delicado...extremamente delicado. Porque misturamos tanto o que pensamos/idealizamos ou expectamos do amor/amizade, que confundimos a realidade dos laços afectivos ao passarem pelo crivo dos nossos julgamentos e pelas circunstâncias que apertam ou deslassam esses laços...
Mas é obviamente utópico dizer que amor é devoção...a alguém, por suposto, embora a gratidão seja indissociável da partilha e da dádiva. Mas devoção é um estado superior de amor que só um ser muito elevado e puro nos merece…
E quando se diz, "O amor é o presente de sentir que
existe o laço com outro ser, quando na verdade vivemos o abismo do abandono
diante do mistério da vida e da morte. Diante do milagre do amor, o outro é o
altar onde eu celebro o mistério. Devo tocá-lo com o cuidado que o sagrado
exige. Nossa união deve ter a delicadeza de um laço.",* esta é uma verdade
sublime mas muito pouco real...Ninguém mais do que eu, acreditem, sonhei toda a vida com esse encontro sagrado
de laços eternos, mas ainda que existam esses laços eternos entre as almas,
quase sempre, neste estádio da Humanidade, e portanto na prática e nesta
realidade esses encontros são frequentemente interrompidas por circunstâncias
adversas... e aparentemente os laços desfazem-se muitas vezes com dores profundas
e irreparáveis. Não é por acaso que o desencontros das almas " gémeas e irmãs...
nesta vida, é das coisas mais dolorosas e das feridas mais graves ou mais pungentes,
por que cada uma de nós porventura passamos...pelo menos é isto que me diz a
minha experiência. Eu como toda a gente também busquei esse amor e laços
sagrados…
Por outro lado é verdade que no caminho da nossa evolução
individual, sabemos que "Só amamos quando aceitamos a absoluta solidão do
ser, quando reconhecemos que o outro não vai acabar com a falta que origina o
nosso desejo. Amar exige aceitar a precariedade dos laços, reconhecer-se
separado para ver-se ligado, conhecer seus limites para contemplar o outro.”* –
mas este nível de amor já se trata de
uma outra consciência e outro estado de ser que não é comum aos seres comuns…que
vivem de apegos e paixões cegas…Não há dúvida que aqui o autor fala de um amor
sublime que é aquele, como ele diz, ser um
“…presente de sentir que existe o laço com outro ser, quando na verdade vivemos
o abismo do abandono diante do mistério da vida e da morte. Diante do milagre
do amor, o outro é o altar onde eu celebro o mistério.”* E sim, essa celebração
do amor sagrado entre dois seres, por suposto homem e mulher, é já do domínio
do divino…É a revelação suprema do amor de Deus/Deusa na união perfeita entre
dois seres complementares em profunda comunhão e elevação de almas, só assim ele será possível
a esta humanidade. Sim, esse Amor hoje, só pode ser um Milagre…
Mas eu queria voltar à amizade…como amor ou como laço entre
seres do mesmo sexo ou não. O amor onde não há pulsão sexual mas vibração
amorosa simplesmente, falando de laços afectivos entre amigas/os como um
encontro também de almas mas sem a finalidade da fusão entre corpos…Essa amizade baseada em laços profundos é possível? Existe essa amizade entre seres humanos comuns…creio que não…há só laços de sangue e de família, de negócios, interesse e trocas…Mas existe, creio, a amizade amorosa entre amigas e amigos cujos laços se mantêm se as relações forem de verdade e sem omissões…se as relações forem de confiança e de entrega, de partilha e de abertura, de total verdade…sem isso penso que não é possível essa magia seja ela do amor a dois seja ela da amizade…A transparência e a confiança é que solidificam os laços de amizade e do amor, embora o Amor Mágico transcenda o plano da nossa humanidade e não precise de provas porque está bem acima da dualidade bem e mal, certo e errado.
O que nós sabemos aqui é que, neste mundo, a paixão das pessoas é quase
toda e quase sempre baseada na competição dos sexos, na traição, na intriga, no
ego…na vontade de domínio ou de sedução…na manipulação do outro na perversidade,
na neurose, na mentira…
Estamos assim ainda muito longe da premissa deixada pelo
autor…Lamento ser tão céptica…
rlp
*Excertos de citação de ROBERTO PATRUS-PENA
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