O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, julho 23, 2013

AMOR E AMIZADE...


 
"Só amamos quando aceitamos a absoluta solidão do ser, quando reconhecemos que o outro não vai acabar com a falta que origina o nosso desejo. Amar exige aceitar a precariedade dos laços, reconhecer-se separado para ver-se ligado, conhecer seus limites para contemplar o outro. Amor é devoção, é manifestar a gratidão por quem te faz sentir ligado, quando na verdade somos sós. O amor é o presente de sentir que existe o laço com outro ser, quando na verdade vivemos o abismo do abandono diante do mistério da vida e da morte. Diante do milagre do amor, o outro é o altar onde eu celebro o mistério. Devo tocá-lo com o cuidado que o sagrado exige. Nossa união deve ter a delicadeza de um laço."*

Ando já há algum tempo para escrever sobre o amor e a sua faceta na amizade...
Não há dúvida que idealizamos imenso tanto o amor como a amizade...e quase sempre nos referimos ao amor e à amizade idealizada, mas na verdade além da cada uma de nós ter os seus conceitos e vivências, o amor entre as pessoas e a amizade é sempre muito relativa...e falha, seja qual for a razão de uma das partes!
É portanto um assunto muito delicado...extremamente delicado. Porque misturamos tanto o que pensamos/idealizamos ou expectamos do amor/amizade, que confundimos a realidade dos laços afectivos ao passarem pelo crivo dos nossos julgamentos e pelas circunstâncias que apertam ou deslassam esses laços...
Mas é obviamente utópico dizer que amor é devoção...a alguém, por suposto, embora a gratidão seja indissociável da partilha e da dádiva. Mas devoção é um estado superior de amor que só um ser muito elevado e puro nos merece…

E quando se diz, "O amor é o presente de sentir que existe o laço com outro ser, quando na verdade vivemos o abismo do abandono diante do mistério da vida e da morte. Diante do milagre do amor, o outro é o altar onde eu celebro o mistério. Devo tocá-lo com o cuidado que o sagrado exige. Nossa união deve ter a delicadeza de um laço.",* esta é uma verdade sublime mas muito pouco real...Ninguém mais do que eu, acreditem,  sonhei toda a vida com esse encontro sagrado de laços eternos, mas ainda que existam esses laços eternos entre as almas, quase sempre, neste estádio da Humanidade, e portanto na prática e nesta realidade esses encontros são frequentemente interrompidas por circunstâncias adversas... e aparentemente os laços desfazem-se muitas vezes com dores profundas e irreparáveis. Não é por acaso que o desencontros das almas " gémeas e irmãs... nesta vida, é das coisas mais dolorosas e das feridas mais graves ou mais pungentes, por que cada uma de nós porventura  passamos...pelo menos é isto que me diz a minha experiência. Eu como toda a gente também busquei esse amor e laços sagrados…

Por outro lado é verdade que no caminho da nossa evolução individual, sabemos que "Só amamos quando aceitamos a absoluta solidão do ser, quando reconhecemos que o outro não vai acabar com a falta que origina o nosso desejo. Amar exige aceitar a precariedade dos laços, reconhecer-se separado para ver-se ligado, conhecer seus limites para contemplar o outro.”* – mas este nível de amor  já se trata de uma outra consciência e outro estado de ser que não é comum aos seres comuns…que vivem de apegos e paixões cegas…Não há dúvida que aqui o autor fala de um amor sublime que é aquele, como ele diz, ser  um “…presente de sentir que existe o laço com outro ser, quando na verdade vivemos o abismo do abandono diante do mistério da vida e da morte. Diante do milagre do amor, o outro é o altar onde eu celebro o mistério.”* E sim, essa celebração do amor sagrado entre dois seres, por suposto homem e mulher, é já do domínio do divino…É a revelação suprema do amor de Deus/Deusa na união perfeita entre dois seres complementares em profunda comunhão e elevação de almas, só assim ele será possível a esta humanidade. Sim, esse Amor hoje, só pode ser um Milagre…
Mas eu queria voltar à amizade…como amor ou como laço entre seres do mesmo sexo ou não. O amor onde não há pulsão sexual mas vibração amorosa simplesmente, falando de laços afectivos entre amigas/os como um encontro também de almas mas sem a finalidade da fusão entre corpos…

Essa amizade baseada em laços profundos é possível? Existe essa amizade entre seres humanos comuns…creio que não…há só laços de sangue e de família, de negócios, interesse e trocas…Mas existe, creio,  a amizade amorosa entre amigas e amigos cujos laços se mantêm se as relações forem de verdade e sem omissões…se as relações forem de confiança e de entrega, de partilha e de abertura, de total verdade…sem isso penso que não é possível essa magia seja ela do amor a dois seja ela da amizade…A transparência e a confiança é que solidificam os laços de amizade e do amor, embora o Amor Mágico transcenda o plano da nossa humanidade e não precise de provas porque está bem acima da dualidade bem e mal, certo e errado.

O que nós sabemos aqui  é que, neste mundo, a paixão das pessoas é quase toda e quase sempre baseada na competição dos sexos, na traição, na intriga, no ego…na vontade de domínio ou de sedução…na manipulação do outro na perversidade, na neurose, na mentira…
Estamos assim ainda muito longe da premissa deixada pelo autor…
Lamento ser tão céptica…

rlp
*Excertos de citação de ROBERTO PATRUS-PENA

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