O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, dezembro 17, 2020

O VACUO EXISTENCIAL

 

Das VIDAS VAZIAS que encontraram o significado para a sua existência no covidismo!
Por: Teresa Diaz Gonçalves


O vácuo existencial

Ontem a empregada de um restaurante muito engraçado, sugestivamente dedicado ao burro português, disse-me sem pestanejar que sim, que conhecia uma pessoa que tinha morrido de @ovid aqui na vila. Um senhor que estava no lar. Idade? 100 anos. Hum, não teria morrido COM @ovid uma vez que pela avançada idade teria certamente outras debilidades? Não, fora mesmo de @ovid e por isso o restaurante tinha que fechar às 22:30 em ponto. É que o número de casos no conselho está a crescer e provavelmente, anunciou com indisfarçável orgulho, em breve teriam que confinar. Mas sabe que nas cidades muitos restaurantes estão a ir à falência e as pessoas a perder o emprego por causa dessas restrições? Sim, e aqui também, respondeu com excitação.
O @írus chegou “em força” a esta vila no Outono, permitindo-lhe finalmente apanhar o comboio da modernidade pandémica. Essa chegada foi-me excitadamente anunciada por um notável, já devidamente mascarado, com quem me cruzei no jardim. Depois disso, as máscaras multiplicaram-se em interiores e exteriores. As faces humanas tornaram-se raras em todo o lado exceto nas televisões de grande formato que estão continuamente ligadas em cafés e restaurantes. A bom volume, estas enfiam a narrativa pandémica pelos olhos e ouvidos de todos, através de uma mistura de notícias bombásticas e programas de variedades. Espaços comerciais começaram também a fechar por causa dos “casos” e pude até observar em primeira mão a desinfecção da esplanada ao ar livre de um café que esteve largas semanas fora de actividade porque o filho dos donos se tinha “infetad@” numa festa na cidade próxima.
O mais curioso é que tudo isto me pareceu sempre mais fruto de entusiasmo e voluntarismo do que de medo. Vi-o por exemplo no brilhozinho de excitação que tinha nos olhos a mulher de idade que estava à minha frente na fila e me mandou esperar fora da agência bancária, ao frio e à chuva, com um “agora tem que ser assim”.
E não é só aqui na vila. O entusiasmo com que em todo o lado a maioria aceitou a narrativa pandémica e o seu folclore de máscar@s, desinfecções, distanciamentos, testes e confinamentos é surpreendente. Pessoas de todos os níveis de inteligência abraçaram a religião @ovídica ao arrepio de factos, riscos e, o que é mais extraordinário, até de interesses pessoais.
A mim parece-me que mais do que terem sido apanhadas pelo medo, as pessoas o adotaram de forma voluntária e que agora o cultivam e guardam com galhardia dos ataques negacionist@s. Um amigo aqui da vila acha que o problema é que as pessoas não têm mais nada que fazer. E ele pode muito bem estar certo…
Viktor Frankl que era tão alemão como o Klaus mas em vez de viver como um privilegiado teve que sobreviver vários anos no campo de concentração de Aushwitz, acreditava que o vazio existencial era um fenómeno generalizado nas sociedades ocidentais no século XX. E não há indícios de que a situação tenha melhorado desde então. Esse vazio corresponde a uma sensação de que a vida não tem sentido e manifesta-se num estado geral de aborrecimento (o tal não ter nada para fazer…), podendo dar origem a depressões, adições e a comportamentos agressivos (peenars hoje em dia, como se sabe) ou tentativas de compensação pela busca de poder, dinheiro e prazer (a normalidade capitalista).
Frankl acreditava que essa frustração existencial se resolve quando nos ultrapassamos a nós mesmos e criamos um sentido para a nossa vida, sendo que isso pode ser conseguido por três vias: (1) pela dedicação a uma obra ou trabalho que nos preencha; (2) experimentando sensações profundas ligadas à bondade, à verdade, à beleza, à natureza, à cultura ou ao amor por alguém; (3) através do sofrimento inevitável, quando nos reinventamos para lhe dar um sentido, transformando-o em sacrifício.
E é nesta terceira via que o pessoal está. Ocupado a enfrentar uma terrível pandemia com dignidade e nobreza. A salvar a humanidade. E com o bónus de o poder fazer sem o esforço inerente às duas primeiras vias. Na realidade sem sequer sair do sofá, queriam melhor? É a chamada via rápida para dar sentido a tantas vidas frenéticas, tristes e vazias que a competição e a fixação no lucro criaram.
Acontece porém que a magia do sentido da vida só se pode conseguir através do sofrimento quando este é inevitável. Porque se o sofrimento é evitável aquilo que faz sentido é removê-lo, como também explicou Frankl.
É claro que, pandemicamente falando, remover o sofrimento é quase como tirar um chupa-chupa a uma criança. Porque, quer dizer, está o pessoal sofrendo sossegadamente em casa, imbuído de heroísmo covídico e do renovado sentido que este deu às suas vidas, e vêm uns idiotas negacionistas dizer que afinal aquele sofrimento não é nada porque a pandemia é fraquinha e o vírus bonzinho. Não pode ser! É fake, tudo fake, só pode, não queremos ouvir! Podem calá-los?! Queremos mais confinamentos, mais máscaras, mais regras, não queremos dados idiotas que mostrem que o nosso sofrimento é inútil e que as nossas vidas continuam tão vazias como antes.
E é isto…
O livro do Viktor Frankl, cuja leitura dá certamente muito mais sentido à vida do que uma pandemia@ fraquinha e que ainda por cima está a causar tanta miséria e mortes colaterais e a levar-nos por caminhos tão perigosos em termos de sociedade, chama-se “O homem em busca de um sentido”. Um bom presente de Natal, fica a sugestão. Acompanha bem com compota de figo e nozes…

Sem comentários: