"Sabemos pelos antigos egípcios que a imagem de uma serpente era o hieroglífico para a palavra Deusa, e que a serpente era conhecida como o Olho, Uzait, um símbolo da revelação e sabedoria místicas.A Deusa serpente conhecida como Au Zit era a divindade feminina do Baixo Egipto (norte) nos tempos pré-dinásticos.
Mais tarde tanto a Deusa Hathor como Maat eram ainda conhecidas como o Olho. A uréu, uma serpente erecta, é freqüentemente encontrada ornando as testas da realeza egípcia.
Além disso, erguia-se na cidade egípcia de Per Uto um santuário profético – possivelmente na localização de um santuário anterior dedicado à Deusa Ua Zit – que os gregos conheciam por Buto, o nome grego para a própria Deusa serpente.
O bem conhecido santuário oracular de Delfos erguia-se igualmente num local originalmente identificado com a adoração da Deusa. E mesmo em tempos gregos clássicos, após a sua conversão e à adoração a Apolo,
o oráculo falava ainda através dos lábios de uma mulher. Era ela uma sacerdotisa chamada Pítonisa, que se sentava num banco de três pés, em volta do qual se enlaçava uma serpente chamada pitão
Igualmente lemos em Esquilo que neste mais sagrado dos santuários da Deusa era reverenciada como a profetiza primordial. Isto sugere de novo que, em tempos relativamente recentes como a era clássica grega, não fora ainda esquecida a tradição, própria da sociedade de parceria, de buscar a revelação divina e a sabedoria profética através das mulheres.“
In O CÁLICE E A ESPADA – Riane Eisler
"A NOSSA HISTÓRIA, O NOSSO FUTURO"Via Óptima Editores
DEPOIS DA DESTRUIÇÃO DE DELFOS E A PARTIR DAÍ
COMEÇOU O HOLOCAUSTO HISTÓRICO DAS MULHERES
(…)
“Algures nas nossas almas, rememoramos o tempo das fogueiras, em que as mulheres eram perseguidas e queimadas vivas como feiticeiras. Aconteceu em três séculos de Inquisição. Quando nos referimos, nos nossos tempos, ao “holocausto das mulheres”, sabemos que houve mais mulheres queimadas numa estaca do que assassinadas com gás nos fornos nazis do holocausto da Segunda Guerra Mundial.
Primeiro, queimavam-se vivas as parteiras por abrandarem as dores do parto (que iam contra o preceito bíblico de que as mulheres deviam sofrer), depois, as curandeiras que sabiam usar as ervas medicinalmente, as mulheres que comemoravam a chegada das estações, as mulheres excêntricas, as mulheres com posses que alguém cobiçava, as mulheres que falavam sem medo, as mulheres inteligentes, as mulheres desprotegidas.
Essa memória colectiva tem um efeito igual ao de um trauma pessoal reprimido: torna as mulheres ansiosas quando descobrem as suas experiências sagradas e acham as palavras para as designar.
Precisamos de coragem para contar o que sabemos.
Algures nas nossas almas, lembramos uma época em que a divindade era chamada Deusa e Mãe. Quando nos transformamos em iniciadas nos mistérios femininos, então passamos a saber que somos portadoras de um cálice sagrado, que o Graal se manifesta em nós.
IN TRAVESSIA PARA AVALON
De Jean Shinoda Bolen
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