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LILITH
Sem ti mãe sou uma sombra de mim não sou ninguém.
Vou minguando com a lua e desapareço na noite escura
como louca varrida a praguejar.
Não te ver e tocar converte-me a todo o mal!
Sou a bruxa endemoninhada que anda de vassoura
a rir de escárnio do ar.
Sou o súcubo que cobre o macho perdido nas noites de luar,
sou a megera que devora criancinhas e as rouba às mães para matar...
Sou a serpente alada que deita fogo da boca e incendeia as casas,
a cadela que ladra de raiva....
Lilith que se intromete o casal e o desfaz.
Sou Perséfone perdida nos infernos à tua procura,
no mito de te encontrar!
Senhora, sem ti sou promíscua, infame, venenosa e má!
Rasgo as estrelas do teu manto com unhas escarlate,
uivo como uma loba e sou o vampiro das lendas,
que destrói túmulos e cemitérios
e caça donzelas nos umbrais.
Sem ti, mãe, sou uma sombra de mim não sou ninguém!
E enquanto a tua visão ou aparição não me iluminar,
eu serei apenas a louca varrida, ou, mais tarde,
a velha desgraçada bêbada pelas ruas
a murmurar impropérios
perseguida pela turba ignorante e suja,
apedrejada!
in "Mulher Incesto"
Rosa Leonor Pedro
Em memória de Eleusis
Queria tanto ó minha Mãe que neste mundo houvesse
um lugar de peregrinação e culto
que não tivesse sido profanado pelos homens...
Onde pudesse pedir ajuda e rezar
A Grande Mãe da antiguidade,
Ela a Grande Deusa venerada pelos nossos ancestrais,
escondida em grutas e cavernas à espera do novo mundo,
perseguida pelos cristãos, misóginos judeus,
os fariseus, denegrida pelos padres ao longo de séculos,
e por eles oculta da sua eterna glória...
Ela, aquela que é tão bela...
Cibele, Istar, Inana, Atargatis,
Labbatu, Kali e Anaht...
A Wicca e a eterna sacerdotisa,
A Senhora de todos os nomes, de todos os tempos
A essência da Mulher separada em duas
Na virgem e na prostituta,
Maria a mãe dos homens e a amante proscrita
Maria de Magdala, Sacerdotisa da Deusa...
Mas virá o tempo e Ela será uma só,
A Deusa Primeira, indivisível:
Isis sem Véu.
in "Antes do Verbo era o Utero"
Rosa Leonor Pedro
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