O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, dezembro 14, 2005



LILITH

Sem ti mãe sou uma sombra de mim não sou ninguém.

Vou minguando com a lua e desapareço na noite escura
como louca varrida a praguejar.
Não te ver e tocar converte-me a todo o mal!

Sou a bruxa endemoninhada que anda de vassoura
a rir de escárnio do ar.
Sou o súcubo que cobre o macho perdido nas noites de luar,
sou a megera que devora criancinhas e as rouba às mães para matar...
Sou a serpente alada que deita fogo da boca e incendeia as casas,
a cadela que ladra de raiva....
Lilith que se intromete o casal e o desfaz.
Sou Perséfone perdida nos infernos à tua procura,
no mito de te encontrar!

Senhora, sem ti sou promíscua, infame, venenosa e má!

Rasgo as estrelas do teu manto com unhas escarlate,
uivo como uma loba e sou o vampiro das lendas,
que destrói túmulos e cemitérios
e caça donzelas nos umbrais.

Sem ti, mãe, sou uma sombra de mim não sou ninguém!

E enquanto a tua visão ou aparição não me iluminar,
eu serei apenas a louca varrida, ou, mais tarde,
a velha desgraçada bêbada pelas ruas
a murmurar impropérios
perseguida pela turba ignorante e suja,
apedrejada!


in "Mulher Incesto"
Rosa Leonor Pedro



Em memória de Eleusis

Queria tanto ó minha Mãe que neste mundo houvesse
um lugar de peregrinação e culto
que não tivesse sido profanado pelos homens...
Onde pudesse pedir ajuda e rezar
A Grande Mãe da antiguidade,

Ela a Grande Deusa venerada pelos nossos ancestrais,
escondida em grutas e cavernas à espera do novo mundo,
perseguida pelos cristãos, misóginos judeus,
os fariseus, denegrida pelos padres ao longo de séculos,
e por eles oculta da sua eterna glória...

Ela, aquela que é tão bela...

Cibele, Istar, Inana, Atargatis,
Labbatu, Kali e Anaht...
A Wicca e a eterna sacerdotisa,
A Senhora de todos os nomes, de todos os tempos
A essência da Mulher separada em duas
Na virgem e na prostituta,
Maria a mãe dos homens e a amante proscrita
Maria de Magdala, Sacerdotisa da Deusa...

Mas virá o tempo e Ela será uma só,
A Deusa Primeira, indivisível:
Isis sem Véu.


in "Antes do Verbo era o Utero"
Rosa Leonor Pedro

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