O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, dezembro 04, 2005

RESPOSTA A UMA LEITORA CRISTÃ

A HUMANIDADE DE JESUS

Segundo a Igreja o Homem é Divino
e a Mulher o Diabo...


- O que pensam os teólogos livres do jugo romano,
da questão tão contestada pelo Vaticano:

“A questão não é de saber se Jesus se casou ou não (ainda mais uma vez no sentido em que o entendemos hoje em dia). Que interesse tem isso? A questão é de saber se Jesus era realmente humano, de uma humanidade sexuada, normal, capaz de intimidade e de preferência.

Segundo um adágio antigo: “ Tudo o que não é assumido não é salvo”.
Se Jesus, considerado como o Messias, como Cristo (Christos, tradução grega do hebraico Messiah), não assume a sua sexualidade, esta não será salva, Ele não é mais Salvador no sentido pleno do termo, e torna-se uma lógica de morte e não de vida que se irá instalar no cristianismo - particularmente no cristianismo romano-ocidental:
“O Cristo não assumiu a sua sexualidade,
Portanto a sexualidade não é “salva”,
Assim a sexualidade torna-se má,
do mesmo modo, assumir a sexualidade pode ser degradante
E assim tornar-nos culpados”.


O instrumento co-criador da vida que nos faz existir “em relação”, “à imagem e semelhança de Deus”, torna-se logicamente um instrumento de morte.
Estaríamos nós no Ocidente, através da nossa culpabilidade inconsciente e colectiva, em vias de sofrer as consequências duma tal lógica?


O Evangelho de Maria (Madalena), tal como o Evangelho de João e de Philippe, lembram-nos que Jesus era capaz de intimidade com uma mulher. Essa intimidade não era apenas carnal, era também afectiva, intelectual e espiritual; trata-se mesmo de salvar, quer dizer, tornar livre o ser humano na sua totalidade, e isso introduzindo consciência e amor em todas as dimensões do seu ser. O Evangelho de Maria Madalena, lembrando a humanidade de Jesus na Sua dimensão sexual, não retira nada à sua dimensão espiritual, “pneumática” ou divina.”

In L’ENVANGILE DE MARIE (Évangile copte du II siècle traduit e commenté par)
JEAN-YVES LELOUP - teólogo ortodoxo.
Albin Michel

REPUBLICANDO:

“A sexualidade assim culpada pode tornar-se perigosa, e tornar-nos efectivamente doentes...”

E temos, no mundo, além do rol das doenças de foro sexual, por promiscuidade e alienação ontológica da mesma, as aberrações sociais como a pedofilia, toda a espécie de sado-masoquismo e ainda a pornografia em resultado de tamanha e absurda negação da sexualidade sagrada e do par alquímico como construtor da verdadeira ascese para a totalidade-deus. De facto, pela negação da sexualidade do homem ou do Homem-Deus e a associação desta ao corpo tornado culpado da mulher, esta, em vez de iniciadora do amor, como o era anteriormente ao cristianismo, torna-se pois a “tentadora do mal”, e ficará associada por sua vez ao diabo e condenada a proscrita ao longo dos séculos. “Prostituta” em vez de sacerdotisa da Deusa ou discípula do Mestre vivo, como no caso de Maria Madalena. A partir desta inversão de princípios, tudo o que a mulher faça é culpada só pelo facto de ser mulher.

Por muito inconcebível que pareça é o que ainda o Papas, bispos e cardeais pensam da Mulher que não obedece aos seus dogmas e não se mantém na absoluta penitência e clausura ou inteiramente submetida ao homem e às suas leis vê-a como o Mal em si, embora não se atrevam já a dizê-lo em público, andam muito lá perto.
E tudo isso começou com a negação pela Igreja da sexualidade do Homem-Cristo e a necessidade de renegar a mulher enquanto amante e discípula, assim como negam ainda a participação da mulher nos rituais, e só a aceitam na sua Igreja como penitentes e de joelhos aos seus pés a pedir perdão por terem nascido mulheres!

Por culpa da Igreja Romana, e não da Mulher, o ser humano vive num culto de ignorância e morte e sofrimento em vez de vida e prazer, e a humanidade encontra-se num estado de patologia quase absoluta, o Planeta no caos...
Quanto tempo mais vai durar esta aberração sobre a terra em que o ser humano vive em função do medo e da morte e não da alegria e da vida? Até lá a destruição completa da Natureza e da vida na terra, pela guerra e pelo ódio gerado numa humanidade que vê uma sua metade - as mães de todos os homens - condenada a proscrita!

R.L.P.

Sem comentários: