O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Da Amizade Entre Mulheres
de Mário Quintana
Dizem-se amigas... Beijam-se... Mas qual!
Haverá quem nisso creia?
Salvo se uma das duas, por sinal,
For muito velha, ou muito feia...

Fonte: "Quintana de Bolso: Rua dos Cataventos e Outros Poemas", L&PM Pocket

Esta pequena “estrofe” ilustra perfeitamente a ideia generalizada dos homens sobre as relações entre as mulheres; mesmo os escritores ou poetas mais proeminentes, vêem as mulheres como inimigas umas das outras. Pensam nessa divisão e antagonismo como se tratasse de uma natureza intrínseca e própria da mulher, pois o que eles conhecem de facto das mulheres é essa luta que desde pequenos viram e que reflecte essa divisão entre a mãe e a “outra”, a amante do pai, ou mais tarde, entre a sua própria mulher e a amante…
Ora essa divisão da mulher em duas e que faz a inimizade entre as mulheres acontece quando as mulheres se colocam na posição de ora mulher legítima ou amante…ambas sofrem desse antagonismo social e psicológico porque se identificam à partida com essa divisão religiosa e “moral” sem ter consciência do seu próprio ser estar cindido ao meio e a mulher fragmentar-se em duas espécies de mulheres: uma a “senhora” e a “outra” a puta…



Todas as mulheres têm o complexo da “outra” (a outra é sempre uma “provocadora” de homens coitados) como inimiga que lhe vai roubar o “macho”; seja o marido seja o filho, seja a amiga o namorado, porque ou é mais jovem ou mais bela ou mais sensual do que ela e portanto é preciso estar alerta ou atacar esse perigo que vêm sempre na outra mulher e na base desta suspeita permanente todas as mulheres são mais ou menos inimigas umas das outras a começar a mãe da filha e vice-versa…
Todos estes processos são inconscientes e passam-se de forma elementar e muito básica na vida das famílias ao nível sentimental, com repercussões desastrosas para os seus filhos nomeadamente para as mulheres que se vêem divididas quase sempre nessas duas espécies…
Realmente as mulheres olham-se com despeito ou desconfiança…nunca confiam ou são sinceras umas com as outras, a não ser como diz o autor: Salvo se uma das duas, por sinal, /For muito velha, ou muito feia...
Sim, quando esse antagonismo ou medo da “outra” se perder as mulheres podem ser cúmplices e amigas, nesse sentido está certo, mas o que devia acontecer era as mulheres deixarem de se verem ora uma coisa ora outra e perceberem que cada mulher tem em si a “senhora e a outra”, ou seja: cada mulher tem em si e em perfeita harmonia de forma intrínseca a natureza da mãe e da amante e não pode nem deve separar a amante sensual da mãe terna e dedicada. As duas coabitam e são verdadeiras.
Quando as mulheres se virem e aceitarem inteiras em si mesmas cessará essa inimizade velha colocada entre as mulheres na Génese em que o Deus dos Patriarcas do Deserto declarou inimizade entre a Mulher e a Serpente, símbolo da Deusa Mãe, condenando e perseguindo os que seguiam a linha matrilinear e o culto da Deusa.
Está na Génese a declaração do cisma e é feita a cisão que tanto faz sofrer as mulheres do mundo católico e ainda hoje a própria mulher moderna e que se julga informada, não perceber que ELA é só uma e sagrada a sua natureza sexual tanto com a sua natureza maternal. Falo de sacralidade e de AMOR, de liberdade do corpo e do espírito e não de instrumentalização da mulher, quer como “esposa” quer como prostituta…
Isto pode parecer fora de moda…e que intelectualmente já não se pensa assim…mas o “pensar” ou intelectualizar a questão não muda nada; porque o SENTIR generalizado continua a ser o mesmo, e o pior ainda é que toda a gente está convencida que não, que tudo mudou e que isto que eu aqui escrevo está fora de contexto…No entanto a violência doméstica e todo o tipo de violência sobre a mulher e as crianças subsiste.
O paradoxo do pensamento desfasado da realidade e a fantasia cultural das pessoas a sua alienação dos aspectos antológicos e o consumismo exacerbado do corpo como fonte de prazer aleatório, leva a um paroxismo de estupidez generalizada nos Mídea. Não admira que se comece a falar com tanta “naturalidade” de “profissionais do sexo” e de “indústria do sexo” e até de casamentos homossexuais, quando o casamento foi criado como uma instituição em que uma das partes, a mulher, se submete e é propriedade da outra, garantido assim ao Homem que os filhos são seus e que os seus bens continuarão a pertencer à sua família…

Desfasada concerteza: eu falo de liberdade e completude do SER MULHER, mas também do SER HOMEM que nada tem a ver com a sexualidade primária que o "homo erectus" defende e os seus bens e as suas leis, mas com a Alma Universal dos Dois em Um, nem macho nem fêmea…
Talvez o Ser Andrógino...
O Ser completo que há-de vir a nascer dentro de si mesmo do Amor da Deusa…quando a Conciência do Feminino for integrada e a Terra salva da barbárie.

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