O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, outubro 16, 2011

AS VEZES ACONTECE...


Decepção

Uma palavra. Um gesto. Como estamos magoados “só por isso”, interrogam-nos com um certo constrangimento? Porém, aquela palavra, aquele gesto, tornaram-se emblemáticos de quem é o outro.
Não conseguimos dar nome às emoções, e receamos que se lhes tocarmos com as palavras, elas despertem a dor. O mundo que conhecíamos até aí deixa de existir. O futuro é ausente. Estamos emparedados.

“Nos momentos de decepção deste tipo, que todos nós vivemos sob uma ou outra forma, dir-se-ia que o próprio tecido da realidade se rompe, e que descobrimos que o mundo que conhecíamos, ou pensávamos conhecer, se perdeu; como se o desabar do mundo simbólico equivalesse de facto ao desabar do mundo físico.”
Ivan Ward Fobia Almedina

“As pessoas morrem quando nos decepcionam e, para nossa perplexidade, com elas morre sempre um bocadinho mais ou menos indecifrável dentro de nós" 

Eduardo Sá, Chega-te a mim e deixa-te estar, Oficina do livro

A decepção. Não o pequeno tremor frente à improvável atitude do outro. Mas a sensação que algo nos perfurou. Não antevemos possibilidade de regeneração.
Sofre-se duplamente. Pela perda do outro e pela perda desse bocadinho que não conseguimos localizar.
Esse bocadinho, é a imagem do outro que se entrelaçou dentro de nós a uma memória elementar. A toda a riqueza que acumulamos das nossas vivencias reais e fantasiadas. À memória das pessoas que amamos, e do que amamos em nós, apesar dos desapontamentos. É a poção de sobrevivência. Do que acreditamos e confiamos, e que nos faz uma companhia silenciosa.
E subitamente, o outro que é parte de nós, decepciona-nos. Diz-nos que está descomprometido com esses sentimentos e emoções. Ficamos sem sustentação. Aproximamo-nos da morte, por agitar temores de um tempo inseguro e desprotegido.

Se a reserva de amor que temos dentro de nós é a bastante, “isso nos permite compensar um fracasso ou um desapontamento em relação a uma pessoa estabelecendo um relacionamento amistoso com outras e aceitar substitutos para coisas que fomos incapazes de obter ou de guardar”. (Melanie Klein)


IN http://incalculavel-imperfeicao.blogspot.com/

2 comentários:

cristina simões disse...

Olá Rosa Leonor
Quando me disse que se tinha referido ao meu blog, nunca pensei que fosse desta maneira tão generosa. Obrigada.
Fique bem

rosaleonor disse...

Olá Cristina...
Sabe...o seu trabalho, a sua visão, o aspecto psicológico normalmente fora destes contextos do "sagrado" (ou místico) diz-me muito e é fundamental para mim, pois sem um profundo trabalho ao nível da Psique a Alma dilui-se em abstracções e crenças...Sigo-a pela sua precisão e clareza... e espero poder acrescentar a esta página muitas das suas observações.Se me permitir claro.

um abraço

rosa leonor