Decepção
Uma palavra. Um gesto. Como estamos magoados “só por isso”, interrogam-nos com um certo constrangimento? Porém, aquela palavra, aquele gesto, tornaram-se emblemáticos de quem é o outro.
Não conseguimos dar nome às emoções, e receamos que se lhes tocarmos com as palavras, elas despertem a dor. O mundo que conhecíamos até aí deixa de existir. O futuro é ausente. Estamos emparedados.
“Nos momentos de decepção deste tipo, que todos nós vivemos sob uma ou outra forma, dir-se-ia que o próprio tecido da realidade se rompe, e que descobrimos que o mundo que conhecíamos, ou pensávamos conhecer, se perdeu; como se o desabar do mundo simbólico equivalesse de facto ao desabar do mundo físico.”
Ivan Ward Fobia Almedina
“As pessoas morrem quando nos decepcionam e, para nossa perplexidade, com elas morre sempre um bocadinho mais ou menos indecifrável dentro de nós"
Eduardo Sá, Chega-te a mim e deixa-te estar, Oficina do livro
A decepção. Não o pequeno tremor frente à improvável atitude do outro. Mas a sensação que algo nos perfurou. Não antevemos possibilidade de regeneração.
Sofre-se duplamente. Pela perda do outro e pela perda desse bocadinho que não conseguimos localizar.
Esse bocadinho, é a imagem do outro que se entrelaçou dentro de nós a uma memória elementar. A toda a riqueza que acumulamos das nossas vivencias reais e fantasiadas. À memória das pessoas que amamos, e do que amamos em nós, apesar dos desapontamentos. É a poção de sobrevivência. Do que acreditamos e confiamos, e que nos faz uma companhia silenciosa.
E subitamente, o outro que é parte de nós, decepciona-nos. Diz-nos que está descomprometido com esses sentimentos e emoções. Ficamos sem sustentação. Aproximamo-nos da morte, por agitar temores de um tempo inseguro e desprotegido.
Se a reserva de amor que temos dentro de nós é a bastante, “isso nos permite compensar um fracasso ou um desapontamento em relação a uma pessoa estabelecendo um relacionamento amistoso com outras e aceitar substitutos para coisas que fomos incapazes de obter ou de guardar”. (Melanie Klein)
IN http://incalculavel-imperfeicao.blogspot.com/
2 comentários:
Olá Rosa Leonor
Quando me disse que se tinha referido ao meu blog, nunca pensei que fosse desta maneira tão generosa. Obrigada.
Fique bem
Olá Cristina...
Sabe...o seu trabalho, a sua visão, o aspecto psicológico normalmente fora destes contextos do "sagrado" (ou místico) diz-me muito e é fundamental para mim, pois sem um profundo trabalho ao nível da Psique a Alma dilui-se em abstracções e crenças...Sigo-a pela sua precisão e clareza... e espero poder acrescentar a esta página muitas das suas observações.Se me permitir claro.
um abraço
rosa leonor
Enviar um comentário