O SORRISO DE PANDORA
“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja.
Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto.
Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado
Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “
In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam
quinta-feira, outubro 27, 2011
UMA LONGA...LENGA LENGA...
UMA VELHA HISTÓRIA...
Sei muito bem que muitas mulheres se insurgem comigo quando eu foco aspectos menos simpáticos da sua dependência afectiva, da sua sujeição ao “amor”, à forma viciada como são ainda manipuladas pelos homens e pela sociedade de consumo…Sei o porquê e sei as razões. E compreendo. E se insisto nisto é porque é aí que urge apontar o dedo, não para julgar, mas para fazer compreender, para podermos ir mais fundo nesta velha submissão-escravidão da mulher ao “amor” – não dela própria – mas do homem (seja o pai, o amante, marido ou filho) porque é aí que reside todo o drama e sofrimento da mulher, é aí que reside o fulcro da sua anulação e manipulação que a faz ainda viver exclusivamente ao serviço do homem e da espécie…
Precisamos ver e saber onde tudo começou…e porque foi assim desde há séculos e o pouco que, na essência, as coisas mudaram nas sociedades ditas modernas nos últimos tempos, e que nos querem fazer crer e ver o contrário, e apesar das aparências, no fundo e na base elas continuam mais ou menos na mesma.
Assim, se atentarmos bem, vemos que as mulheres foram desde sempre “educadas” e são-no ainda, a não se dar valor a si mesmas como seres individuais, a não serem ninguém senão enquanto “esposas de alguém, mães ou filhas de ”; elas sempre se sacrificaram à família e aos filhos, sempre se desvalorizarem enquanto seres humanos autónomos, enquanto indivíduos…As mulheres nunca foram vistas como seres completos, e de resto essa ideia de seres metades é extensiva aos homens, só com a diferença de que os homens têm em geral uma autonomia própria que as mulheres nunca tiveram. Talvez as mulheres mais novas não tenham as mesmas referências que suas mães e avós…mas os conceitos e sobretudo os preconceitos que permanecem no inconsciente colectivo continuam os mesmos…e por isso há tanta violência sobre a mulher, mesmo entre os casais mais jovens…
É verdade que esta sociedade criou seres humanos dependentes e todos somos dependentes e manipulados pelas leis e pelos conceitos e preconceitos que regem as sociedades, mas no caso das mulheres é secular a anulação do seu Ser Interior, da sua essência, dessa parte feminina instintiva que caracterizava a Mulher ancestral, a mulher inteira, a Mulher pagã…a Mulher do início…
Ainda há dias eu falava com uma amiga sobre tudo isso e andámos à volta da origem dessa dependência caprichosa das mulheres e a obsessão pelo homem; e apesar de saber as suas causas remotas (e biológicas) e isso atenuar “a culpa” das mulheres, continua a parecer-me um absurdo que elas cedam a esses modelos e se neguem como seres autónomos e se virem umas contra as outras sempre que o homem aparece no meio. Apesar de não terem de facto culpa da forma como foram “educadas”, no caso de mulheres adultas, ou mais velhas, que continuam a seguir os mesmos padrões de antagonismo e rivalidade com a outra mulher…é para mim um absurdo! E precisamente entre essa amiga e outra sucedeu depois o inevitável do confronto de antagonismo e raiva, que é proveniente dessa sua divisão interna, logo que apareceu um homem na disputa de uma delas…
O que mais me espanta realmente nas mulheres é como elas não se apercebem ainda da forma como foram esvaziadas de identidade própria, de vontade, como foram moldadas desde crianças para que o objectivo da sua vida fosse unicamente casar, ter marido e filhos… e que mantivessem esse foco como o seu único propósito e para sempre, mesmo depois dos 50... Continuarem a julgar-se e a manter-se como seres fracos e dependentes, carentes e frágeis…tal como foram educadas, de forma a não acreditarem nunca nelas próprias e a entregar todo o seu poder pessoal aos homens, sempre a desconfiarem e a agredirem “a outra”, como culpada.
Sim, as mulheres foram esvaziadas de entranhas, tornadas objectos, divididas no seu corpo e na sua psique…e hoje valem (no mercado) apenas pelas suas mamas, pelo seu traseiro ou ancas, pelas suas pernas, pela sua cara, pela sua boca…assim, vistas por partes, separadas, fragmentadas, sem emoções e sentimentos, desacreditando da sua intuição e sem confiança na sua real capacidade de pensar e agir. Foram induzidas a confiarem-se totalmente nos homens, mais do que nelas próprias, para viver a vida inteira a perseguir um sonho de beleza e sucesso no único intuito de lhes agradar e assim continuarem…mesmo diante de destroços e divórcios e separação ou mesmo violência doméstica. Elas foram esvaziadas de tudo o que é SER MULHER em si, fragmentas até às unhas dos pés…Os homens tornaram-se os seus donos, namorados, amantes, cabeleireiros, estilistas, esteticistas, médicos, conselheiros, guias e terapeutas…
O que leva as mulheres, sobretudo as mais velhas, a raiar os 50 e mais, a terem ainda ilusões de um romance ou de um casamento ou mesmo de uma ligação, quando já sofreram tantas separações, tantos enganos, tantas decepções, tanto sofrimento…pelo abandono, traição, humilhação, desrespeito… violência psicológica, reduzidas a trapos, exploradas por vezes por “chulos” disfarçados de salvadores…E não são apenas mulheres comuns ou mulheres ignorantes…são mulheres por suposto cultas e instruídas, artistas ou escritoras…professoras…ou profissionais…E são essas mulheres as que mais me espantam por manterem ainda o foco no sexo e nos homens, as mais modernas, como se fossem adolescentes…sem qualquer pudor…sem qualquer pejo… E eu vejo como as mulheres frustradas e traídas investem e ainda caiem no logro das práticas sexuais aleatórias, na promiscuidade “amorosa”, no engate, nas massagens eróticas ou vivências e práticas separadas do amor verdadeiro e de sentimentos profundos…
Porque, note-se bem, eu não digo nem nunca disse que não se ame…que o amor não exista…e que a mulher não possa amar um homem (ou uma mulher); digo apenas que antes de mais a mulher se deve conhecer a si mesma e amar-se e respeitar-se a si como ente antes de tudo e a partir daí sim…pode amar e dar-se se confiar em si…e não entregar o seu poder pessoal a ninguém…amante homem mestre ou terapeuta…
Cada dia mais toda esta constatação está presente no círculo de mulheres que conheço…nos círculos em que me movo…e disso não tenho qualquer dúvida e mesmo que eu pareça pelo meu discurso, uma velha louca, uma bruxa má...conservadora, "madre de um convento", como muitas mulheres mais jovens me querem ver… não é por isso que eu vou deixar de afirmar o que vejo e sinto, porque o sinto profundamente…e me dói…dói-me essa falta de crédito das mulheres em si e nas outras mulheres...
MERGULHAR NAS NOSSAS RAÍZES
E eu digo tudo isto porque sei que há uma saída… porque na minha vida ela aconteceu: Quando acordei em mim essa mulher ancestral, nessa fase decisiva que é a menopausa por volta dos 50 anos; pude nesses anos difíceis e confusos para todas as mulheres em transição e durante todo esse tempo de revelações e convulsões interior do corpo e da mente, das hormonas, discernir o que significava essa força em mim sem complementos hormonais…sem escapes sexuais, deixando a minha natureza profunda consolidar-se através das etapas da vida e da dor iniciática…a do renascer de mim mesma inteira…
É pois desta consciência e da minha experiência a partir da qual aprendi a ser eu mesma e a ser só, que vos digo o que o que digo. Porque foi procurando não depender de ninguém nem de nenhum amor que essa busca e essa certeza me permitiram ver a loucura em que eu e as mulheres todas caíam ao continuarem a anularem-se quando já perto da sua sabedoria inata, por um “amor” romântico, pelo homem ideal (ou mulher ideal), que não é mais do que um voltar atrás, um engodo criado e mantido pela publicidade na senda de uma mentira social e comercial à custa das mulheres e do seu sofrimento, cujo intuito é manter a mulher alienada de si; por isso, quando já se está na idade da sabedoria, da libertação dos padrões, depois de ter cumprido a função de mãe e esposa, eles (os médicos e as farmacêuticas) nos vêm dizer que temos ainda o direito a “amar” e ao prazer…como se essa fosse a única razão de ser e viver do ser humano especialmente da mulher…como se a mulher fosse apenas um sexo…como se a vida não continuasse para lá da manifestação da libido…
A Mulher que quiser ser Mulher inteira tem de definitivamente resgatar o seu ser de dentro dela própria, tem de se recuperar inteiramente de um velho trauma que é a sua divisão interna, e para isso tem que recuperar a sua identidade profunda, ir ao mais fundo de si e da sua psique.
As mulheres, sejam elas jovens maduras ou velhas, sejam elas homossexuais bissexuais ou heterossexuais…serão sempre Mulheres se forem fiéis à sua natureza profunda, onde são apenas Mulheres, se acordarem em si esse potencial interior; porque dentro da mulher há um manancial enorme de amor, uma fonte…
Para se encontrarem, bastaria que as mulheres fossem fiéis a si próprias e aos movimentos da vida dentro do seu ser a fim de descobrir esse Amor centrado em si; nessa altura a mulher autónoma saberia ver o seu real valor, o seu valor intrínseco e assim também reconheceria o da mulher em geral, de qualquer mulher, sem precisar de depender de ninguém em especial nem do sexo, nem de remédios, para se sentir mulher e viva e plena! E isso pode acontecer a todas as mulheres que se busquem e encontrem dentro de si nas raízes mais fundas do seu SER, no sentido mais puro da vida, que reside no seu âmago e não fora, no outro, seja o amante seja o filho. Então e só então elas verão por si mesmas como foram anuladas da sua identidade e como sofreram toda a vida sujeitas à milenar exploração do ser humano por outro e sobretudo do Ser mulher pelo homem nesta sociedade que até aqui apenas a usa, subestima, despreza e maltrata.
rlp
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2 comentários:
Sabe o q eu ando pensando Rosinha...
não tarda o vaticano vai começar a usar ´a deusa´puxando a sardinha pro lado deles, por causa do culto mariano... daquia apouco se intitularão os grandes guardiões do segredo feminino, a única religião patriarcal q ´protegeu´a mulher, a deusa, salvaguardando o culto mariano, apesar de todos os pesares... não duvido nada...
as mulheres estão crescendo muito em força e poder, financeiro e político... e isso atrai moscas...
depois é só eles passarem a sacolinha...
temos de ter muuuuuuuuuito cuidado com essas raposas velhas enrustidas...
que as donas raposas me desculpem, claro...
foi uma expressão infeliz,
mas não achei outra na altura...
kkkkkkkkkkkkkkkkkkk
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