O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, junho 02, 2012

INDIGNA-TE, MAS COM CONSCIÊNCIA


SALVEM A NOSSA MÃE…
E CUREM A MULHER PRIMEIRO! 

Ontem foi o “Dia da criança”, por suposto...Nada mais do que uma invenção cínica e comercial, consumista, nada mais do que isso. Mas eu não queria falar decerto da criança “inocente” e pura, que espelha aos adultos uma verdade que nem sempre é a idealizada… Não, eu não queria falar da criança em si...nem da criança que há em mim...Porque abomino esta versão “new age” da manutenção do estado infatilóide do indivíduo, E SOBRETUDO DA MULHER HÁ SÉCULOS, e desta enorme hipocrisia mundial, em que há milhares de crianças a morrer a fome e as nossas estão supernutridas e balofas...esta sociedade hipocrita que pretende na verdade manter irresponsáveis os seres humanos, quer a negação da sua maturidade, a negação da sua liberdade e vem agora com esta coisa espantosa e repulsiva de dizerem que temos de resgatar a nossa criança interior...ficar crianças, e que Cristo disse,  “o Reino dos céus é das criancinhas”…

Mas sim, coitadinha da criança, do menino e da menina, que teve uma má mãe, uma mãe terrível e dividida, frustrada e reprimida e os problemas com o pai e que foi violentada e abusada por tantas enormidades… Como se todas as crianças do mundo não tenham tido todo o tipo de problemas em famílias disfuncionais – regra geral quase todas - a começar pelo testemunho de agressão à Mulher e à Mãe…A MISÉRIA E A VIOLÊNCIA CASEIRA E SOCIAL.

(Sim, A COMEÇAR PELA VIOLÊNCIA SOBRE A MULHER E A MÃE…a começar pela divisão da mulher em duas espécies de mulheres…a Mãe santa e a mãe puta…que gera, vamos lá ser claros, filhos do Papá e “os filhos da puta”…)

Ah! Salvem a nossa criança…é imperioso que salvemos a nossa criança “interior”, dizem…em vez de nos dizerem que tenhamos consciência de nós próprios como adultos, QUE VAMOS À LUTA E ASSUMAMOS A RESPONSABILIDADE DOS NOSSOS ACTOS…SIM, que compreendamos o caos deste Sistema, o caos desta sociedade que alimenta diferenças brutais, terrores infernais, guerras e medos diários…que nos mentem indecentemente em todos os meios de comunicação social, que nos mantêm embrutecidos pelo medo…que nos acenam com o aquecimento global, a crise económica, a fome no mundo, os desempregados, os marginais, os criminosos, os terroristas, os sem abrigo, os pobrezinhos…quando é tudo gerado no seio da própria sociedade de consumo e pelos seus donos e senhores da Guerra e da Miséria…

Sim, é isso o que nos estão a pedir os psicólogos do positivo, quase todas as alternativas do mundo cor-de-rosa e todos os outros papagaios de “fim de era”…toda esta encenação ou super-produção dos "co-criadores"...de energias alheias e castelos de areias...

Mas talvez eu não escrevesse isto se de facto todo o drama não começasse na Mulher abusada há séculos, na mulher que não tem outra saída na vida que não seja ser prostituta de rua, se não arranjar marido, ou na Mãe presa à casa e a códigos cerrados de conduta, e se sair da linha é condenada ferozmente pelas outras mulheres na sua ignorância e ódio pela rival que  a ameaça e rouba o filho e o marido…A eterna rivalidade das mulheres, sogras e noras...mães e filhas...irmãs e amigas...e esquecem as mulheres escravizadas por máfias, consentidas por governos, tudo isso inerente ao próprio sistema que vive das suas cisões; vergonhoso sim como ninguém pensa na mulher vítima de todas as circunstâncias, da mulher cindida dentro dela mesma, entre a santa de altar – o lar e o marido, o senhor seja ele o seu deus seja ele o seu patrão - e a prostituta desprezada e exposta às maiores violências e aviltação do corpo humano, do Corpo da Mãe e da Mulher em função da descarga da pulsão sexual dos machos por sua vez violentados pelo sistema, escravos do trabalho, e que encontram na mulher o seu “bode Expiatório”: em casa despejam na mulher a sua ira em violência doméstica e na cama as suas frustrações a “fazer amor”… alimentados por um ódio inconsciente e ancestral à Mulher e à Mãe…
*
Porque será que as “trevas” tanto gostam de bater na mulher…

E Porque será que não há um dia da prostituta???
Ninguém se atreve…ninguém ousa, ninguém quer pensar…porque todas as mulheres estão ameaçadas desse epíteto...
Mas é dessa velha história que convêm falar e lembrar como a mulher foi mantida em estado infantil, de subserviência, a menina do Papá, ou a menina de sacristia, ou a senhora da cruz vermelha …ou da menina do serviço voluntário aos pobrezinhos do bairro mais pobre etc. Sim, é esse estado de infantilidade na mulher que faz dela uma “babaca”, uma “dondoca”, uma "loura burra", para que ela confiasse no homem, sem vontade própria, anulada na sua identidade, para “ser uma menina séria” dizia a minha mãe, de acordo com as normas patriarcais, e “ser boa mãe e boa esposa” dizia a minha avó, e as mulheres não se questionassem…e fossem como as tais crianças confiantes no homem que as havia de tornar mulheres prenchidas, que havia de as revelar então como "mulheres", torná-las mães e fazer delas  esposas exemplares...porque  as prostitutas essas  são de outro mundo obscuro e oculto de que não convém falar...
É esta infantilidade que se quer agora alargar a todos os seres humanos e pela via “espiritual” outra vez…sejamos crianças porque senão não entramos no reino de deus… e que deus É ESSE que consente tudo isto?!

Homens crianças – que sempre foram, esses sim, nunca atingiram qualquer maturidade – por culpa da mãe… sim, a mãe possessiva do filho, e foram essas  mulheres infantilizadas, assim criadas para obedecerem ao papá e ao padre, é isto  que se quer nesta sociedade para continuarmos sem olhar o nosso drama existencial, nem esta velha cisão da humanidade entre o cérebro esquerdo e o cérebro direito…

Por tudo isto tenho horror ao suposto dia da criança e ao dia da mulher e a esta campanha mundial para infantilizar os seres humanos e os manter escravos dos medos e do sofrimento, da culpa e do perdão, sem que se responsabilizem e pensem em toda esta realidade, nas causas e origens de todos estes males... Não…dizem-nos ainda os padres... “este mundo é decadente e está perdido por causa do pecado e todos nascemos em vão e vamos  morrer e então sim, vamos para o paraíso ou, dizem as novas religiões, as seitas e toda essa alienação cristóide: vamos  ascender todos e ser levados por naves… que os “irmãos” das estrelas estão a chegar…e todos esforços humanos na terra e pela terra não valem de nada porque a raça humana é ignorante e fraca (a carne, não é, a imunda matéria e o sangue) e só deus nos pode salvar para sempre etc. etc. e etc…e ninguém vê que a história da carochinha é a mesma…Ninguém vê o lobo mau disfarçado de cordeiro…

Adenda:

Ah, sim, já sei que eu exagero, que sou corrosiva! Também me dizem isso, as senhoras da fé cristã, piedosas e exemplares…as professoras do sistema, as intelectuais de serviço e as jornalistas de televisão e de jornais, que falam de crimes, de enredos e mexericos, seja política, futebol ou os “direitos do homem”: tudo uma grande mixórdia, e independentemente do que pretendam defender, é sempre a sua mentira ao serviço do Sistema, sejam eles de esquerda ou de direita…e o resto são teorias da “conspiração”...

Mas defender a mulher é que não; dizem: “eu não sou feminista”… - ”que horror, isso já passou a história” - dizem os homens bem intencionados, claro…Mas eu também não sou feminista e não falo de direitos iguais, nem de igualdades…eu falo de uma cisão existente na mulher, velha como o tempo e que permite essa alienação do SER MULHER à partida, que permite ainda que metade da humanidade mulher seja explorada, de forma consentida e natural, pela outra metade homem em todo o mundo…Porque o homem tem objectiva e subjectivamente todos os direitos sobre a mulher, seja como pai à nascença ou como marido depois, sejam os Governos e as suas leis, como ainda se atrevem os padres e bispos e até o papa a julgar as mulheres…e a condená-las pelo aborto, por terem muitos filhos ou pelo pecado do corpo…

Não adiantam as “marchas das vadias”…essas tristes figuras que as mulheres fazem de seios descobertos tatuados a dizer “o meu prazer é delicioso”…a dar exemplos de “liberdade” ainda e sempre o seu corpo bandeira, o seu corpo defraudado, o seu corpo abusado, o seu corpo como única moeda de troca…

Sim, eu sei que parece cruel dizer isto, mas isto é que e a verdade…indigna-te, sim, com INTEGRIDADE, COM CONSCIÊNCIA, mas não lhes dês mais o teu corpo nu de bandeja…que É isso que eles querem para continuarem a aviltar as mulheres de todas as maneiras.

rlp

2 comentários:

Unknown disse...

Perfeito!!! O título diz tudo. "Indigna-te, mas com consciência". Sofremos todos, mulheres e homens, vítimas e tiranos....a vítima também tem seu lado tirano e o tirano também tem seu lado vítima, é uma simbiose "eterna", um alimenta a neurose do outro, tudo porque ainda estamos profundamente inconscientes. Obrigado.
Abraços

rosaleonor disse...

sem dúvida que todos sofremos.
E concordo consigo que a vítima faz o tirano por assim dizer de uma forma geral...tal com cada um alimenta a neurose do outro, mas no que concerne a esta divisão secular da mulher, a sociedade masculina é carrasca da mulher por princípio e não por "defeito"...a ausência do princípio feminino e o ascendente e domínio do masculino no mundo, é um factor de desiquilíbrio entre os sexos à partida...
Mas na verdade tanto a mulher como o homem estão inconscientes desse drama...que é a cisão da mulher em dois estereótipos...
um abraço e grata pelo seu comentário.