O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, junho 08, 2012

O SILÊNCIO DAS MULHERES...


A Mulher dominada pelos valores da sociedade patriarcal, sem vontade própria, sujeita à vontade do homem durante séculos, ainda hoje não se destacou dessa subordinação de forma consciente e lúcida e mantém inconscientemente a mesma subordinação às autoridades e leis vigentes, dentro da ordem  estabelecida que a domina, sejam  quais forem essas autoridades e leis; e ainda que se julgue na aparência que a mulher “moderna” é liberta, ela insere-se na sociedade machista apenas mascarada de uma FALSA integração social e política, mas continuando a usar o discurso masculino, a ser aglutinada pela língua e perfeitamente controlada por esses valores de dominação; essa pretensa liberdade e integração, de que se faz tanto alarde, não passa de mera de manipulação política por parte dos chefes e os seus problemas, como o é no caso da despenalização do aborto, a legalização da prostituição ou outro qualquer assunto feminino, continuam nas suas (deles) mãos.


“Onde o sol brilha sempre, há um deserto. As florestas secam, os rios secam, o solo estala. A terra morre.” M. Starbird


A perda de identidade ou o desvio da verdadeira natureza da mulher e a sua divisão ou fragmentação em “santa” (virgem mãe) ou a prostituta (Maria Madalena), pela Igreja e por exclusão da Deusa Mãe e do Feminino Sagrado, fez da mulher um mero objecto ou instrumento ao serviço exclusivo da família e da sociedade, sem autonomia pessoal nem consciênia individual, uma vez que continua a obedecer e a servir os conceitos sobre ela estipulados há muito poder pelo patriarcal. Mesmo na política e sobretudo na política é clara e notória a não identificação com a sua natureza profunda e a recusa da sua sensibilidade caracterizada por uma inteligência mais emocional do que a racional, ao contrário justamente do homem.

Os problemas das mulheres são hoje olhados e debatidos apenas dentro da ordem social na afirmação pelo trabalho, ainda e sempre a procriação ou a sexualidade, discussões entre a despenalização do aborto ou as creches e reformas sociais para a mulher (a mãe ou a puta?) sem qualquer consciência dos problemas de base que as aflige, enquanto ser humano que sente e pensa independentemente das suas funções, tal como um homem é olhado e considerado um ente, para lá da sua sexualidade e da sua função de procriadora/o ou como utente/vítima da prostituição e as suas sequelas. Sim, o homem é a entidade, e a mulher um seu apêndice apenas...

(ESCRITO EM 2007) 

r.l.p.


COMENTÁRIO AO TEXTO:

Ao mesmo tempo que me dá alegria entrar em contato com todo este conhecimento, me dá também tristeza por perceber esta dura realidade que, nós, mulheres vivemos. E as lutas são sempre pelas questões sociais, que também são justas, mas a verdadeira mulher, a sua essência ainda é totalmente desconhecida. E é sentida em cada uma de nós, uma dor que nos dilacera sem nome. A saudade de não se saber bem do que, e a solidão que consome muitas vezes. É da distância de nós mesmas o tempo todo...
Rosa Maria Barros

Sem comentários: