O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, junho 20, 2012

Radical, dizem...




GÓTICA EU???


Quando eu digo que não sou feminista... ("mas antropologicamente lúcida"...) muitas mulheres se chocam comigo...e eu compreendo. Mas o que eu queria que compreendessem é que de facto, a luta da mulher de hoje não é mais pela igualdade...mas sim contra essa "igualdade" - porque a mulher se tornou como o homem...e isso, quanto a mim, não era suposto...


Assim, quando eu vejo mulheres parafrasearem frases como estas:

" Mulher de um homem só, é uma mulher sofrida. Mulher que tem dois homens, é evoluída. Mulher que tem três homens, é uma atrevida. E a que tiver mais, ela não sofre, ela curte a vida.''

Isso deixa-me siderada…e vejo o erro que se cometeu ao encarar a liberdade tendo como referência o padrão sexual masculino… O homem é viril se tiver muitas mulheres, mas a mulher a ter muitos homens é o quê? Uma atrevida? Ou uma p…????


Então que feminilidade é essa?

Não, não creio que essa seja a liberdade nem a verdade da mulher…mas sim a afirmação na negação da sua força e poder interior inato, a negação da sua dignidade, da sua totalidade. A mulher é muito mais do que um sexo e um corpo… A mulher não é nem a Cinderela ou Gata-borralheira das nossas histórias à procura do príncipe, eternamente adormecida à espera do beijo do sapo…nem a mulher atrevida aparentemente desinibida de hoje em busca de muitos machos…que os “seduz” e larga…ou os deixa de rastos…como antes eram os homens… A Mulher não é nada disso, ela não corresponde a esses estereótipos que a reduzem a uma profissional, a mulher fatal, prostituta ou esposa…Ela é um Ser sagrado e como tal devia sentir-se e ser encarada.


A Mulher é a fonte da vida. É ela que ampara e suporta o homem desde que nasce até que morre, é ela que o inicia ao AMOR e o ensina na VIDA, desde que nasce.

O drama das nossas sociedades é essa mulher não existir…essa mulher foi apagada da História. Por isso essa mulher desapareceu da face da Terra e deixou de fazer parte da humanidade há centenas de anos. A mulher foi-se tornando aos pouco um ser amorfo, um ser sem vida própria; a mulher dos primórdios foi inteiramente esquecida e apagada das escrituras ditas sagradas, dos manuais e da própria língua falada. Não se diz Mulher mas o Homem no sentido da Humanidade. A mulher aceita essa aglutinação do seu ser. A mulher intelectual a escritora, académica, ou a catedrática, aceita este apagão, não se questiona, ela é a serva do sistema, defendo-o, contra ela mesma. Ela não se relaciona com essa mulher total, primordial, a antiga sacerdotisa, a profetisa, a vidente, a curadora, a parteira, a Mãe amante e livre, a Mulher integral, não dividida, a mulher consagrada, ela nega-a…e ri-se da ideia da Deusa na Mulher…e me chamam a mim androfóbica*...

E ela diz :

“Porquê? Mas PORQUEEÊ??

Eu gosto de ser gaja. Gosto de usar brincos e pulseiras e sandalinhas, de vestir lingerie, de poder variar entre saia de todos os tamanhos, calças, vestidos, camisas, tops, camisolas (ui agora é que me vão chamar frívola), ser mais inteligente que os homens (ahahahah), de ter sexto sentido (no meu caso avariadíssimo), de usar maquilhagem, de chorar com filmes românticos (pronto eu choro em filmes de qualquer género), de fazer coisas de meninas e beicinhos, de receber flores, que eles nos abram a porta para passarmos ou nos puxem a cadeira para sentarmos, de saber que posso ter filhos, enfim... de todas as características da feminilidade... ...mas porque é que temos que ter o filho da p*** do período e todas as rabugices, dores e mudanças de temperamento a ele inerentes?!? “pmv


Ela chama feminilidade a todos esses fragmentos de si…a toda essa herança do papá…a todos os caprichos da menina mimada…pelo pai…ela é uma mulher dos nossos dias, inteligente…resolvida…como se diz toda a mulher que convive com esta sociedade falocrática…

Não, a Mulher “moderna” e resolvida não sabe nem sonha que essa Mulher Inteira, essa mulher ancestral, está esmagada dentro de si, adormecida… ela não sonha o seu potencial, o que essa intuição lhe revelaria se se abrisse a ela de coração e alma…
Ela não sabe nem sonha como é urgente e preciso resgatar essa Mulher em si das sombras do catolicismo, das trevas do patriarcado, dos escombros da civilização romana, das máfias, todas as Máfias, as Farmacêuticas e os empórios da Moda e da Cosmética, das sociedades economicistas modernas…

Até que isso aconteça, até que a ConSciência do feminino integral e o Sagrado Feminino seja um Princípio, uma ética, as mulheres na nossa sociedade sejam elas de que classe forem, ricas ou pobres, intelectuais ou ignorantes, serão sempre uma pálida imagem de si mesmas: fragmentadas e divididas, carentes, histéricas, doentes e fragilizadas…à procura da sua metade, do príncipe encantado, do homem ideal, o cavaleiro…na triste figura do “cavalheiro” de há umas décadas, afinal o vampiro que lhes há-de sugar o sangue até a última gota…

Gótica eu?

Não, sou só antropologicamente lúcida…

rlp
*A Androfobia é o medo anormal de homens, e é o oposto de ginofobia.

1 comentário:

Ná M. disse...

Sim, mas como fazer isso ? E o que vai acontecer, como imagina nossa sociedade? Pra mim, tudo parece-me confuso. Uma forma de evitar o estereótipo dessa mulher submissa, em mim, é me concentrar em meus objetivos de vida, minhas responsabilidades para manter minha independência financeira, meus hobbys, meus momentos sozinha e com amigas, estar preparada para os olhares estranhos quando nego as famosas perguntas"não está namorando, não pensa em se casar ? " "tenho" um companheiro, alguém com quem saio de vez em quando, pra conversar ou tomar um sorvete e me afaga os cabelos.Mas não considero uma relação romântica, ao menos pra mim.Acredito que o despertar das mulheres traria um despertar tb dos homens, mas não consigo imaginar como seria, e não me vejo fazendo nada de diferente pra mudar a situação..