É VERDADE...
(…) Nunca se falou tanto de sexo, nunca se viu tantos corpos nus espalhados por cartazes, e nunca o amor se portou tão mal!
Já não é João, dito, “ o Baptista”, que grita hoje no deserto e tenta desbravar novos caminhos, é uma mulher de certeza, a mulher de sempre, a mulher do começo, livre e poderosa, generosa, e que por isso mesmo amedronta os que só sabem sorver, possuir, e que do amor conhecem sómente a segurança ou a violência. (...)
Se o amor mete tanto medo, é em particular porque requer o abandono de si, a confiança cega, absoluta: aos olhos de uma sociedade materialista ele não é um “valor seguro”.
E depois, ele tem esse defeito horrível de estar aí, de ser dado e, para uma sociedade mercantil, o gratuito é simplesmente intolerável. E como por natureza ( por energia), ele é imenso e excessivo, como transborda os fragmentos de existencia que nós nos representamos, procuramos calcar o que nos ultrapassa ou fugimos a toda a pressa de medo que o querido-pequeno-eu não seja apanhado pela vertigem. (...)
(...) Conheço bem demais as armadilhas da palavra, a satisfacção dos intelectuais que pensam ter resolvido um problema porque fizeram um colóquio sobre este tema, desconfio das teorias e dos conceitos, para deixar acorrentar neles a vida, o amor. No fundo, é bem feito que o amor escape aos que nâo vivem nem nos seus corpos, nem no presente, nem no silêncio.
Jaqueline kelen
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