O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, junho 25, 2013

A LUA E AS FÉRIAS...

 




 "Me niego a vivir en un mundo ordinario, como una mujer ordinaria. A establecer relaciones ordinarias. Necesito el éxtasis. Soy una neurótica, en el sentido de que vivo mi mundo. No me adaptaré al mundo...me adapto a mí misma" - Anaïs Nin: "Diarios". Fragmeto.

 
 UM  VERÃO...atrasado...

O Verão finalmente despontou aqui para os nossos lados...Ontem já lhe sentia o cheiro...cheiro de quente...sim, e o ar que entrava pela janela era um sopro envolvente, quase sensual...porque roçava na pele e no rosto como uma caricia inesperada...e era suave e havia silêncio...e fazia-me lembrar não sei o quê...talvez quando era adolescente e inocente...?
 
Percebo que o Verão nos chame para fantasias e sonhos...para férias...E como tantas vezes aconteceu com o despontar de por de sol...nós mulheres, românticas inveteradas, pensamos logo num amor...que temos e não temos, que foi e já não é ou que falhou...mas mesmo assim continuamos a sonhar com o príncipe encantado ou com o milagre da "alma gémea"...e depressa nos esquecemos de nós!
Isto é secular, desde que o romantismo apareceu, a canção trovadoresca e os cavaleiros e as rainhas...depois já no nosso tempo de vida, a minha e as vossas gerações...e nós continuamos a sonhar... com "o engenheiro de olhos verdes" rico e macho, estilo Corin Tellado - famosa romancista de cordel das gerações da minha mãe e irmã e da minha também - mas a vossa já tem outros requintes, sei lá, Margarida Rebelo Pinto ou outras/os que nem lembro o nome...romances de mulheres modernas e livres que falam de sexo e de engates com a mesma facilidade que os homens e colocando-se na mesma posição de paixão e desejo objectivo - "vem cá que és meu" - iguaizinhas aos homens, claro mesmo que não sejam feministas...
 
E por feministas...quando digo que o não sou, pensam-me logo mal...mas afinal as feministas o que queriam? Ser iguais aos homens...ter os mesmo direitos etc. E venceram e hoje dizem-me, foi importante, sim, foi, mas olhem bem o reverso...e vejam se em contrapartida há mais respeito pela mulher ou se ela ganhou em dignidade...Sejam honestas... E depois olhem todos estes escritores e autores novos agora, homens e mulheres, que tratam as mulheres como objectos sexuais, sedentas de sexo, e de consumo libidinoso, que em nome de uma pretensa liberdade e igualdade,  tratam as mulheres como coisas, cheios de malabarismos de linguagem, sem poesia nem profundidade nenhuma, mas com imensos efeitos especiais...como "as mil sombras de grey"...de gravatas e chicotes etc. sim, e mesmo esta "literatura" vendida on line, em que nada dá o sentido de vida verdadeira e do real valor da mulher, mas infelizmente são as mulheres que caiem nesse logro e os compram, são elas que lhes dão toda a projecção. E toda essa "literatura" que alimenta a fantasia sexual de milhões de mulheres no mundo e as aprisiona no mesmo padrão de escrava e submissa, rendida ao desejo, não passa de literatura de cordel...em que a palavra não é nem nunca foi importante senão como pedra arremessada contra o charco da sexualidade abjecta...depreciativa e desprestigiante da Mulher verdadeira.
 
Ai, já me desviei do início e até parecia que ia tão bem, poética e tal e até sensual, ai ai...é da idade...esqueço as coisas e já não sonho nem alimento fantasias eróticas e outras, sim já disse isto. Sou uma velha a caminho do nada...ou da morte...se não acreditar que a Vida é algo mais, muito mais do que uns suspiros e uns ais...e esta miséria toda que vimos nos filmes e nos best sellers...e que enchem os écrans e conspurcam tudo a nossa volta... e é penoso pensar como as mulheres em geral vivem de tudo isso e a vida real lhes passa ao lado...e quando dão por elas...estão velhas como eu mas sem esperança de nada e sem acreditar que a vida vale sempre apena ser vivida independentemente da idade e do corpo, gordo ou magro velho ou flácido, e que sem dúvida a VIDA e o AMOR são muito mais do que o sexo e a beleza aparente de um corpo de plástico ou silicone...cosméticos modas e operações plásticas...

rlp
 
 

2 comentários:

Else disse...

Seu texto fez-me lembrar de uma poesia de Ulla Hahn

Quando ele voltou
Quando ele voltou o meu amigo meu amante
pálido magro e me abraçou
percebi nesse instante que era mortal
no momento do seu beijo vivo. De um modo novo
assegurei-me de que eram os seus lábios a sua língua
senti mesmo que tinha que insuflar a minha vida
nele que me abraçava tão quente e seguro.
Subitamente milagres me nasceram de todos os seus braços
e pernas velhos de quarenta anos o seu belo peito
a barriga o sexo vi-os com estes olhos
anos passados tal como são. Não não o amei
como da primeira vez às cegas fechada. Não amei-o
de olhos sangue abertos com todas as forças pela primeira vez.
Desde então penso nele de modo diferente quando ele não está e
está comigo: é uma pessoa muito preciosa muito efémera.

rosaleonor disse...

interessante este poema Else...