“Do you know what it feels like for a girl?
Do you know what it feels like in this world?”
Madonna
Do you know what it feels like in this world?”
Madonna
"Aconteceu ontem. Saio do aeroporto. Em uma caminhada de dez metros, só vejo homens. Taxistas do lado de fora dos carros conversando. Funcionários com camisetas “posso ajudar?”. Um homem engravatado com sua malinha e celular na mão. Homens diversos, espalhados por dez metros de caminho. Ao andar esses dez metros, me sinto como uma gazela passeando por entre leões. Sou olhada por todos. Medida. Analisada. Meu corpo, minha bunda, meus peitos, meu cabelo, meu sapato, minha barriga. Estão todos olhando."
Quantas violências eu sofro só por ser mulher?
Na infância, fui impedida de ser escoteira pois isso não era coisa de menina. Fui estuprada aos oito anos. (Eu e pelo menos dois terços das mulheres que conheço e que você conhece sofreram um estupro e provavelmente não contaram para ninguém.) Sofri a pré-adolescência inteira por não me comportar como moça. Por não ter peitos. Por não ter cabelos longos e lisos. Desde sempre tive minha sexualidade reprimida pela família, pela sociedade, pela mídia. Qualquer coisa que eu pisasse na bola seria motivo para ser chamada de vadia. Num dos primeiros empregos, escutei que mulheres não trabalham tão bem porque são muito emocionais e têm TPM. Em um outro emprego, minha chefe disse que meu cabelo estava feio e pagou salão para eu ir fazer escova e ficar mais apresentável pros clientes. Decidi que não quero ser escrava da depilação e sou olhada diariamente com nojo quando ando de shorts ou blusinha sem mangas. Já usei muita maquiagem, só porque a televisão e os outdoors mostram mulheres maquiadas, e portanto é muito comum nos sentirmos feias de cara limpa. Você, homem, sabe o que é maquiagem? Tem um produto para deixar a pele homogêna, um pra disfarçar olheiras, outro para disfarçar manchas, outro para deixar a bochecha corada, outro para destacar a sobrancelha, outro para destacar os cílios, outro para colorir as pálpebras, outro para colorir os lábios. Quantas vezes você passou tantos produtos na sua cara só porque seu chefe ou seu primeiro encontro vai te achar feio de cara limpa? Quando estou no metrô preciso procurar um cantinho seguro para evitar que alguém fique se roçando em mim. Você faz isso? Quando vou em reuniões de família, me perguntam por que estou tão magra, e o que fiz com o cabelo e quem estou namorando. Para o meu primo, perguntam o que ele está estudando e no que está trabalhando. Na televisão, 90% das propagandas me denigrem. Quase nenhum filme me representa ou passa no teste de Bechdel. Todas as mulheres são mostradas com roupas sexy, mesmo as super heroínas que deveriam estar usando uma roupa confortável para a batalha. As revistas me ensinam que o meu objetivo na cama é agradar o meu homem. Enquanto você, menino, comparava o seu pau com o dos amiguinhos, eu, menina, era ensinada que se masturbar é muito feio e que se eu usar uma saia curta não estou me dando o respeito. Quanto tempo demorei para me desfazer da repressão sexual e virar uma mulher que adora transar? Quanto tempo demorei para me soltar na cama e conseguir gozar, enquanto várias das minhas colegas continuam se preocupando se o parceiro está vendo a celulite ou a dobrinha da cintura e, por isso, não conseguem chegar ao gozo? Quanto tempo demorei para conseguir olhar para um pau e transar de luz acesa? Quantas vezes escutei, no trânsito, um “tinha que ser mulher”? Quantas vezes você fechou alguém e escutou “tinha que ser homem”? Tudo isso para, no fim do dia, ir jantar no restaurante e não receber a conta quando ela foi pedida pois há cinco mil anos sou considerada incapaz. E tudo isso, porra, para escutar que estou exagerando e que não existe mais machismo.
Isso é um resumo muito pequeno do que eu sofro ou corro o risco de sofrer todo dia. Eu, mulher branca, hetero, classe média. A negra sofre mais que eu. A pobre sofre mais que eu. A oriental sofre mais que eu. Mas todas nós sofremos do mesmo mal: nenhum país do mundo trata suas mulheres tão bem quanto seus homens. Nenhum. Nem a Suécia, nem a Holanda, nem a Islândia! Em todo o mundo “civilizado” sofremos violência, temos menos acesso à educação, ao trabalho ou à política.
Em todo o mundo, somos ainda as irmãs de Shakespeare.
* * *
E você, leitor homem? Quando é abordado de forma hostil por um estranho na rua, pensa “por favor, não leve meu celular” ou “por favor, não me estupre”?
http://papodehomem.com.br/author/claudia-regina/
3 comentários:
Que direi eu que vivo sozinha com meus filhos.
Minhas companheiras de gênero ainda me evitam, pois temem por "seus homens".
Isto me faz pensar num diálogo de um filme onde uma mulher diz para a outra:
"Você preferiu uma cama quente a uma amiga"
Muita coisa falta para dizer, escrever. A conclusão que se chega, é que houve uma manipulação tão bem orquestrada, e sempre isto ocorre dentro de um pano oculto e muito lentamente... julgo que cada mulher, só se apercebe e muito lentamente quando passa por alguma situação grave ou crise profunda que a leva a abrir os horizontes. Contudo o grave é seguir a regra da sociedade - homem e valores, cultura e, seguir os preceitos masculinos instituídos funcionando como igual, como se tivesse um pénis entre as pernas, um coração de homem entre os seios - cujo corpo feminino não tem mais valor. Ela, apenas alberga dentro, todos esses conceitos que fazem um homem actuar no meio -. Além disso, é o próprio homem que está criando mulheres machas (na actual sociedade) e não percebe isso!! Tal a ceguez...
Obviamente que, como já lhe disse, há uma máxima que tem origem numa determinada classe, de que perdoa-se o pecado, mas não o escândalo. Que é por estas travessas e portas que a mulher deixou de ser elemento fundamental à vida para ser escrava... contudo, o escândalo vai mais longe, quando há problemas de cariz maior, é à Nossa Senhora, à Virgem Maria a quem todos rogam, como se ela tivesse o PODER e a CURA e a RESPOSTA e a DIRECÇÃO. Isto é contraditório entre uma ORAÇÃO a uma Figura FEMININA - MULHER e o trato generalizado, tanto ocidental como oriental no dia- a - dia de que a mulher é um demónio, um ser a quem não merece pertencer à esfera social (mas que é apetecível para ser comida - fodida de todas as formas ) - quando é, não há muitos valores femininos inscritos, mas sim o padrão ocidentalizado do patriarcalismo nessa mulher, apenas uma cópia e que compete com os homens de igual para igual -. Ora, e não percebem que todo esta sociedade tal como foi concebida, está em decadência total e continuam a exigir os mesmos valores de canibalização.
É ESTA NEGAÇÃO AO ESCÂNDALO QUE TODOS OS PECADOS SE PERPETUAM, OU SEJA, A MORDAÇA NA BOCA QUE IMPEDE UMA MULHER DENUNCIAR ESTUPRO E ESCREVER sobre os sentimentos que sentiu e ao mesmo tempo, já que, É a vitima tem em seu poder, o elemento fundamental, que é descrever a mente do predador ou violador! Isso nunca ninguém viu, porque a vitima está sob a influencia do medo que foi semeado e invocado pelo predador... daí que ninguém queira ouvir a vitima, apenas o vilão... só que a resposta, não está no predador como todos ousam querer fazer acreditar!!
CONHECE-SE O PREDADOR PELA VÍTIMA, E NÃO O PREDADOR PELO PREDADOR!! PORQUE SE só há interesse em ouvir o predador e o esquema que ele engendra, então, estamos perante uma sociedade que pretende apenas mais poder para destruir... usa o predador para extorquir-lhe elementos sádicos, para fabricar mais sadismo!! Resumindo, estamos vivendo numa sociedade cancerosa. Em que as exclamações ao bem de todos, às defesas dos velhos e mulheres e crianças não passa de um grande jogo para iludir!!
Cláudia, tem razão... e faz ela muito bem em escrever sem papas na língua, em nome de um desvelamento das dores... nada melhor que ela, que foi estuprada para poder escrever sobre isso... a experiência na própria pele tem outra dimensão!!
Moi, Lulu...
É verdade as mulheres temem as amigas quando elas não têm homem...pois podem ser uma ameaça para a elas...é uma das cosias mais dramática que acontece entre mulheres.
um abraço fraterno para si!
rleonor
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