O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, junho 05, 2013

EM PROFUNDA RESSONÂNCIA



Nina Mardol 

A cura do feminino por mãos masculinas. Isso nao funciona!

A cura do meu sagrado feminino eu só entrego a mim, ou a outra mulher, desde que curada!
Essa foi a minha reação ao ler em um site a oferta de um Workshop dedicado à cura das feridas femininas onde o facilitador é, ninguém mais ninguém menos, que um homem!
Como pode um homem saber o caminho da cura de feridas femininas? Como pode uma mulher saber o caminho da cura de feridas masculinas? Ops! Cada um no teu quadrado e não é uma questão de disputa de poder, é questão de energia, afinidade e conhecimento.
Como pode um homem, com energia masculina pulsando em todas as células de seu corpo, o que por certo é o esperado, guiar mulheres para que estabeleçam conexão com o seu feminino sagrado e a partir daí trabalharem na cura de suas feridas? Qual a leitura que esse homem pode fazer acerca de questões que desconhece? Qual a leitura que esse homem pode fazer do que seriam as feridas, se elas não foram não são e nem nunca serão por ele sentidas?
Ah, que me perdoem esses, aos quais até reputo a boa intenção, mas não lhes compete curar o feminino... A esses, bem intencionados, um conselho de quem já atravessou um oceano de sangue, trabalhem na cura do masculino, pois se assim o fizerem com honra, coragem e sabedoria, terão a chance de se curar e ajudar a parar o ciclo de violência que há anos se instalou dilacerando o feminino sagrado.
Homens, trabalhem na desconstrução desse masculino não sagrado que está por aí, curem as suas próprias feridas que, como as nossas, são inúmeras, profundas e doídas. Resgatem a si próprios e honrem a sua ancestralidade mais longínqua, aquela quando homens e mulheres eram iguais em suas desigualdades e igualmente importantes.
Os mistérios femininos pertencem ao sexo feminino, assim como os mistérios masculinos pertencem ao sexo masculino, não dá pra inverter, pra emprestar, pra aprender em livros ou rodas de conversa, não dá pra saber nem através de viagens xamânicas.
Não dá pra propagandear que trará a cura das feridas do feminino porque o que falta é a vivência e a energia é outra, simples assim! Nenhum homem saberá o que é sangrar todos os meses, nenhum homem saberá o que é perder um filho em um aborto, nenhum homem saberá o que é parir uma criança e amamenta-la, nenhum homem saberá por que seu corpo é outro, suas lentes são outras, seus filtros são masculinos, seu corpo é masculino, não há útero ali.
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NÃO PODIA ESTAR MAIS EM ACORDO COM A OPINIÃO DA AUTORA.

Não compete em momento algum o homem abordar ou curar as feridas da mulher nem tão pouco saber do que realmente se passa dentro de uma mulher. Em definitivo nem o médico ginecologista devia tratar de doenças femininas ou fazer partos as mulheres!Tem sido uma violência abusiva e uma invasão sexual, física e psíquica do universo feminino, uma enorme falta de respeito pela natureza feminina, a dos médicos tratarem doenças de foro feminino...embora saibamos que as mulheres dentro do sistema patriarcal, médicas e enfermeiras, tenham graves problemas em saber tratar as mulheres também, tão longe estão do seu feminino essencial, que muitas vezes acabam por ser piores do que os homens...
Sempre que um homem interfere - como o fez durante milénios - na vida e na saúde da mulher, na sua sexualidade e na sua psique através psicanálise e de toda a psicologia, tudo ou quase tudo o  que ele fez foi PORCARIA da grossa - e eu nem queria ser grosseira, mas nunca se viu nem nunca poderia fazer sentido um homem opinar sobre a vida de uma mulher, tal como o fizeram durante gerações e gerações, pais irmãos e padres ou maridos criando a maior dor e disfunção na vida de todas as mulheres no mundo...
É tempo de acabar com esta arrogância ou pretensão de os homens quererem curar as feridas da mulher, sejam eles médicos ou terapeutas, mestres ou facilitadores do que quer que sejam. Pois tudo o que em geral os homens e a sua ciência e religião fizeram com a mulher foi mais escravizá-la, ou mutilá-la ou reprimi-la, desviá-la da sua natureza ontológica e telúrica, através de meios e produtos e crenças que eram e são quase sempre uma violência sobre o corpo e a psique da mulher.

rlp

6 comentários:

Else disse...

Lembrei-me agora de um texto de Clarice Lispector em que um travesti adotara uma criança e dizia ser mais mulher que a colega de prostituição, uma mulher, que nada tinha além de uma gata para cuidar.
Que me perdoe Clarice, mas somente uma mulher sabe o que é ser uma mulher.

rosaleonor disse...

Essa é a velha inveja do útero...e que muitas mulheres e a sociedade não quer ver...o homem inveja a mulher e transferiu essa inveja na psicologia para a dita inveja do pénis, só para se valorizarem...embora os travestis se castrem...
Não conheço esse texto da Clarice...
Abraço Else

rl

Nina Mardol disse...

Exatamente isso Else! Só a mulher sabe o que é ser mulher... Gratidão por comentar! Bênçãos vermelhas para você! Pureza e Graça :)

Nina Mardol disse...

Rosa Leonor, nome lindo... Rose Marie Muraro falava muito bem sobre a inveja do útero iniciada há milênios. As mulheres também desenvolvera a inveja do falo, que é exatamente trilhar o caminho oposto. O resultado para nós foi a perda de nossa sacralidade, a luta por uma igualdade que não deveria ser medida por resultados materiais e sim o desenvolvimento pessoal e emocional. Deixamos que as cesáreas desnecessárias substituissem a nossa natural função de parir, a não amamentação por medo de adquirir seios caídos e o fortalecimento dos valores patriarcais. Felizmente, aos poucos, vimos trilhando o caminho inverso e universo feminino é maravilhoso e único! Que retomemos as nossas raízes, que honrremos as nossas ancestrais, que juntemos nosso sangue ao delas num infinito e fértil fluir! Abençoada seja

Nina Mardol disse...

Gratidão profunda por publicar minhas palavras. Gratidão profunda por comentá-las com tanto carinho e verdade. Que bom que você nasceu menina! Pureza e Graça

rosaleonor disse...

Nina - não poderia estar mais de acordo com tudo o que diz, e fico muito feliz que passado quase um ano possa ter recebido também as suas palavras como comentário.

Obrigada por esta sintonia e por sermos Mulheres conscientes!

rleonor