O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, junho 17, 2013

O QUE É SER FEMININA?

UMA REACÇÃO CONTRÁRIA...ao feminino comum...

(MAS O QUE É SER VERDADERIAMENTE FEMININA?*)


“Por que você cortou o cabelo assim?”

Ninguém pergunta para um homem o motivo dele passar a máquina na cabeça, mas não custa responder:
Primeiro, porque acho bonito ter cabelos curtos.
Quando eu era criança usava o cabelo até a cintura. Um dia minha mãe disse que queria fazer um aplique e eu, com uns 10 anos, ofereci toda feliz o meu cabelo pra ela. Quando chegamos no salão eu pedi um corte igual ao da Xuxa! Mas a cabeleireira disse que se deixasse tão curtinho assim demoraria muito pra crescer e negou. Cortou que nem uma tigelinha e eu, que já era motivo de bullying na escola por vários outros motivos, ganhei mais um. Traumatizei. Mas aos 17 anos minha vontade de ter cabelos curtos voltou e consegui realizar o desejo. O cabelo cortado vendi para o salão, para de novo virar aplique (dica: cabelos são um bom negócio!) Desde então sempre mantive a cabeça leve: curto ou raspado.

- Você não se sente menos feminina?


É claro! Também me sinto menos feminina porque não pinto as unhas. Porque não uso brincos, pulseiras e colares. Porque não uso salto alto e maquiagem (que ficam restritos às festas fetichistas). Porque não me depilo regularmente. Porque não acho divertido fazer compras. Porque não sou ciumenta e possessiva. Porque abro potes sozinha. Porque sei o que é a regra do impedimento.
Se for considerar o que a nossa sociedade construiu como “feminino” eu sou, como diria Rita Lee, “mais macho que muito homem”.


Mas e daí? Desde quando ser feminina é uma necessidade?

E os homens?



Sim, sou hetero e me atraio por alguns deles. Mas, por incrível que pareça, homens não são responsáveis pelas minhas escolhas capilares.
Uma coisa que me deixa triste é ver mulheres que trocam o discurso do “me odeio porque sou gorda” pelo “agora sou feliz porque sei que tem homem que gosta de gorda”.
Ser careca me economiza o trabalho de afastar homens que acham que mulheres devem ter cabelos compridos esvoaçantes? Sim! Mas dizer que minha escolha cabelística foi feita por causa disso seria reafirmar que a minha existência é pautada na opinião dos homens sobre a minha beleza, e aí daria no mesmo.
Sou careca porque me adoro careca!
(...)



NOTA A MARGEM

- MAS O QUE É SER VERDADERIAMENTE FEMININA?* - creio que esta resposta a temos dado ou tentado dar ao longo dos anos neste blog...sem precisar de ficar careca... nem ter cabelos esvoaçantes...
rlp


2 comentários:

Else disse...

É uma pergunta difícil de responder em palavras. Sou péssima para definir.
Porém acho que "de dentro vem o que por fora se revela". O que está fora veio de dentro, tem origem metafísica, assim como as doenças.

Não se pode dizer que uma mulher é feminina ou mais mulher por se maquiar, ter cabelos longos, cozinhar bem, etc. Nisto há várias coisas envolvidas.

O que vejo muito são mulheres molestadas por menstruar ou ter nojo de ver um parto. Para mim isto é uma negação da vida, e portanto, da feminilidade. Isto acontece amiúde em cidades urbanas, onde o amor ao inanimado e os valores patriarcais são mais aflorados.

Como você, não quero impor nada, mas qualquer pessoa que diga ter nojo de tudo que é vivo, tem um grande problema com a vida/mãe/natureza/mulher, na minha opinião.

Bjs

rosaleonor disse...

Obrigada Else...